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Fantasia sofre preconceito, diz autor
SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO
Um escritor que conta com 27
milhões de livros comercializados
no mundo inteiro e com o posto
de autor contemporâneo de ficção mais vendido da última década na Grã-Bretanha. Será esse o
badalado Nick Hornby? Ken Follet e seu suspense político? Não, o
dono desse currículo é Terry Pratchett, 53, nome destacado da literatura de fantasia.
A obra mais conhecida de Pratchett é a série "Discworld", com
28 livros publicados até hoje. "Direitos Iguais, Rituais Iguais", terceiro título da coleção, acaba de
ser lançado no Brasil.
Como o nome indica, Discworld é um mundo em formato
de disco, sustentado por quatro
elefantes carregados por uma tartaruga que vaga pelo espaço.
Na superfície, Pratchett retrata
o relacionamento -raramente
pacífico- das diversas entidades
que habitam o planeta. O recheio
para o aparente lugar-comum
fantástico surge na forma de
"gags" ao estilo Monty Python,
paródias a clássicos da literatura
(e ao gênero fantasia) e referências à temática sociopolítica.
Mesmo com obras de fantasia
ganhando leitores, o autor acha
que a crítica é ainda refratária ao
gênero. "Todo esse negócio de espadas e dragões é só uma pequena parte da coisa."
Leia trechos da entrevista que o
escritor concedeu à Folha, por telefone, de Salisbury, Inglaterra.
Folha - Como surgiu a idéia de um
mundo existente sobre uma tartaruga que vaga pelo espaço?
Terry Pratchett - Essa é uma imagem do mundo que existe na mitologia hindu e de outros povos
do planeta. O que eu fiz foi pegar
essa lenda emprestada.
Folha - Há preconceito dos críticos contra os autores de fantasia?
Pratchett - Com certeza! Eu
acredito que fantasia é fantasia, e,
se é boa, é boa; se é ruim, é ruim. O
termo consegue abarcar o melhor
e o pior. Veja, a palavra romance
serve tanto para os livros de Jane
Austen quanto para o mais barato
tipo de literatura do gênero.
Folha - E como o sr. vê o sucesso
de escritores de fantasia como Philip Pullman e de J.K. Rowling?
Pratchett - No caso de Philip
Pullman, ele é realmente um excelente escritor. Quanto a J.K. Rowling, ela é uma boa escritora,
mas, digamos, teve sorte. Você
precisa ter sorte (risos). O hype
em cima do filme ["Harry Potter e
a Pedra Filosofal"" foi tão grande
que gerou um outro ainda maior.
E o negócio subiu a proporções
estratosféricas.
Folha - Em "Direitos Iguais..." há
uma garota que é ensinada a desenvolver suas habilidades mágicas. O sr. acha que Rowling se inspirou na sua obra para escrever
"Harry Potter"?
Pratchett - Eu preciso ser extremamente cuidadoso ao responder a essa pergunta (risos)! Fãs de
Rowling me acusam de ter roubado as idéias dela. Mas no meu livro está escrito "publicado em
1987". Então ela é que estaria roubando as idéias de mim (risos)!
Mas em um gênero há elementos
comuns que você acaba reconhecendo em diferentes obras.
Folha - Como é possível abordar
política em um livro de fantasia?
Pratchett - Você pode fazer isso
de uma determinada forma. Tem
de ser sutil, colocando um sorrisinho malicioso no rosto do leitor.
Há pouca coisa em que o escritor
de fantasia não possa trabalhar.
Para nós é mais fácil levar a atenção para política e temas sociais.
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