São Paulo, sábado, 13 de abril de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fantasia sofre preconceito, diz autor

SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO

Um escritor que conta com 27 milhões de livros comercializados no mundo inteiro e com o posto de autor contemporâneo de ficção mais vendido da última década na Grã-Bretanha. Será esse o badalado Nick Hornby? Ken Follet e seu suspense político? Não, o dono desse currículo é Terry Pratchett, 53, nome destacado da literatura de fantasia.
A obra mais conhecida de Pratchett é a série "Discworld", com 28 livros publicados até hoje. "Direitos Iguais, Rituais Iguais", terceiro título da coleção, acaba de ser lançado no Brasil.
Como o nome indica, Discworld é um mundo em formato de disco, sustentado por quatro elefantes carregados por uma tartaruga que vaga pelo espaço.
Na superfície, Pratchett retrata o relacionamento -raramente pacífico- das diversas entidades que habitam o planeta. O recheio para o aparente lugar-comum fantástico surge na forma de "gags" ao estilo Monty Python, paródias a clássicos da literatura (e ao gênero fantasia) e referências à temática sociopolítica.
Mesmo com obras de fantasia ganhando leitores, o autor acha que a crítica é ainda refratária ao gênero. "Todo esse negócio de espadas e dragões é só uma pequena parte da coisa."
Leia trechos da entrevista que o escritor concedeu à Folha, por telefone, de Salisbury, Inglaterra.

Folha - Como surgiu a idéia de um mundo existente sobre uma tartaruga que vaga pelo espaço?
Terry Pratchett -
Essa é uma imagem do mundo que existe na mitologia hindu e de outros povos do planeta. O que eu fiz foi pegar essa lenda emprestada.

Folha - Há preconceito dos críticos contra os autores de fantasia?
Pratchett -
Com certeza! Eu acredito que fantasia é fantasia, e, se é boa, é boa; se é ruim, é ruim. O termo consegue abarcar o melhor e o pior. Veja, a palavra romance serve tanto para os livros de Jane Austen quanto para o mais barato tipo de literatura do gênero.

Folha - E como o sr. vê o sucesso de escritores de fantasia como Philip Pullman e de J.K. Rowling?
Pratchett -
No caso de Philip Pullman, ele é realmente um excelente escritor. Quanto a J.K. Rowling, ela é uma boa escritora, mas, digamos, teve sorte. Você precisa ter sorte (risos). O hype em cima do filme ["Harry Potter e a Pedra Filosofal"" foi tão grande que gerou um outro ainda maior. E o negócio subiu a proporções estratosféricas.

Folha - Em "Direitos Iguais..." há uma garota que é ensinada a desenvolver suas habilidades mágicas. O sr. acha que Rowling se inspirou na sua obra para escrever "Harry Potter"?
Pratchett -
Eu preciso ser extremamente cuidadoso ao responder a essa pergunta (risos)! Fãs de Rowling me acusam de ter roubado as idéias dela. Mas no meu livro está escrito "publicado em 1987". Então ela é que estaria roubando as idéias de mim (risos)! Mas em um gênero há elementos comuns que você acaba reconhecendo em diferentes obras.

Folha - Como é possível abordar política em um livro de fantasia?
Pratchett -
Você pode fazer isso de uma determinada forma. Tem de ser sutil, colocando um sorrisinho malicioso no rosto do leitor. Há pouca coisa em que o escritor de fantasia não possa trabalhar. Para nós é mais fácil levar a atenção para política e temas sociais.



Texto Anterior: Livros/lançamentos - "O homem invisível": Tradução empobrece clássico de H.G. Wells
Próximo Texto: Trilogia vai ganhar versão para as telas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.