PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO

Os índices de audiência estão baixos. A personagem não está agradando. A solução? Matá-la.
Talvez a história soe familiar. O recurso, já empregado em telenovelas, é o mote de "Tia Maria!", do dramaturgo inglês Mark O'Thomas, que estréia amanhã.
Trata-se de um trabalho da companhia anglo-brasileira Dendê Collective, integrada, entre outros, por André Pink, 36 (diretor de "Tia Maria!"), e O'Thomas, 35.
O grupo verteu para o inglês e encenou "Dois Perdidos numa Noite Suja" ("Two Lost Souls on a Dirty Night"), do dramaturgo santista Plínio Marcos, em Londres, no ano retrasado.
Em "Tia Maria!", Maria do Carmo da Conceição da França, interpretada por Roberta Gonzalez, 29, é uma atriz cuja idade as plásticas sucessivas não conseguiram dissimular. Em momento particularmente crítico, a ex-diva, deslumbrada pelos valores europeus, sofre o baque da impopularidade e passa a misturar os fatos da novela com os da vida real.
"A personagem choca o público, traz uma nova realidade e é bastante frágil, expondo a decadência", considera Gonzalez.
Escrita inicialmente em língua inglesa, "Tia Maria!" integrava o espetáculo "Viva Maria!", que contava ainda com o texto "Maria Alves", também de O'Thomas.
"Quando morei em Portugal, assisti muito à novela brasileira "Rainha da Sucata'", diz o autor, em bom português.
O'Thomas é quem lê e traduz a dramaturgia daqui encaminhada ao projeto Brasil do Royal Court Theatre. Participou de um curso desse teatro, um dos principais núcleos europeus de pesquisa teatral, o escritor e colunista da Folha Fernando Bonassi. Até o final de 2002 o Dendê pretende montar "Toda Nudez Será Castigada", de Nelson Rodrigues, na Inglaterra.