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EXPOSIÇÃO/CRÍTICA
Rachel Whiteread se move entre rigor e metalinguagem
TIAGO MESQUITA
ESPECIAL PARA A FOLHA
As esculturas que Rachel
Whiteread mostra no MAM
de São Paulo reconstituem objetos do dia-a-dia inglês. Com volumes sólidos, firmes e unos feitos
de material moldável, ela refaz a
mobiliária, os instrumentos e até
os espaços arquitetônicos de um
universo típico e reconhecível.
Artefatos comuns na vida doméstica mais ordinária das grandes cidades, infladas por um já longínquo processo de industrialização.
As peças têm tamanho natural,
são moldadas em gesso, materiais
emborrachados ou cimento.
Quando se tornam esculturas,
transformam-se em sólidos inteiriços, não muito diferentes da estatuária tradicional. No entanto,
têm pouco da atividade e polimento das esculturas de artistas
como Michelangelo ou Rodin.
São volumes eretos, inteiriços,
que se distinguem com facilidade
dos outros objetos que os circundam. Têm isso de tradicionais e
ponto. São figuras, mas figuras
muito estranhas. Whiteread refaz
essas peças, não como se as esculpisse, mas como se despejasse
uma epiderme nas coisas que as
transformasse em relíquia.
Quando refaz casas ou quartos,
temos a impressão de que o lugar
foi lacrado. Que uma matéria vedou as fendas e preencheu os espaços vazios. A escultura tem aspecto metafísico, de um lugar esvaziado, que perdeu seu uso e travou todos "os vestígios de interação humana", como descreve
Ann Gallagher.
Assim, as esculturas ganham a
aparência de fósseis, coisas que
perderam sua mobilidade e distinção. Os símiles não são uma
imagem exemplar do tema que
refazem. Procuram uma intervenção que nos faça estranhar a
sua presença. Não se trata da interpretação que existe no desenho
de uma porta, interruptor ou banheira. Aqui esses objetos aparecem frios e superficiais.
O tratamento da artista tenta
tornar esses objetos ao mesmo
tempo curiosos e familiares. Eles
são quase idênticos, no aspecto
superficial, aos objetos reconstituídos. Do ponto de vista formal,
há pouca diferença entre uma
bolsa d'água verdadeira e as esculturas. Mas elas aparecem endurecidas, opacas, fossilizadas. Portanto, revelam-se estranhas.
Embora preservem uma série
de características descritivas dos
objetos reconstituídos, sua cor
homogênea e o preenchimento
dos espaços vazios entre objetos
nos dá a impressão de um lugar
fossilizado. A artista se vale desse
artifício das mais variadas maneiras. Assim, se o espaço negativo
das estantes cria bela pintura, a
banheira seca nos dá a impressão
de abandono. Como se ela se interessasse pelas possibilidades dos
objetos deixados a esmo.
A possibilidade de variar dentro
de um procedimento rígido é
uma das qualidades do trabalho.
Mas tal rigidez também acaba revelando um excesso de zelo técnico. Assim, uma sensibilidade tão
grande pelas coisas do mundo
acaba se voltando como um interesse agigantado por um modo de
trabalho que corre o risco de se
tornar metalinguagem.
Tiago Mesquita é crítico de arte
Rachel Whiteread
Onde: MAM (av. Pedro Álvares Cabral,
s/nš, portão 3, parque Ibirapuera, tel. 0/
xx/11/5549-9688)
Quando: ter., qua. e sex., das 12h às 18h;
qui., das 12h às 22h; sáb. e dom., das 10h
às 18h; até o dia 25
Quanto: R$ 5; grátis: qui., após 17h.; ter.
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