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MÚSICA
Em reportagem do "New York Times", compositor critica o país e os EUA; artista toca no Carnegie Hall nesta semana
"A vida no Brasil é horrível", diz Caetano
DA REDAÇÃO
O cantor e compositor Caetano
Veloso, 61, que acaba de lançar o
CD "A Foreign Sound", composto por canções em inglês, foi tema
de reportagem do jornal "The
New York Times" publicada na
edição de anteontem.
No texto, assinado por Jon Pareles, um dos críticos mais conhecidos dos EUA, o músico faz análises sobre os norte-americanos
("vocês têm uma vocação para
dominar") e os brasileiros ("a vida no Brasil é horrível em muitas
maneiras").
"Vocês [norte-americanos]
roubaram o nome do continente", diz Caetano. "Apenas os EUA
e a África do Sul tomaram os nomes do continente, de uma maneira arrogante inconsciente."
"Dado o explícito escândalo racial que foi vivido pelos dois países, posso escutar ecos dessa decisão naquilo vindo depois: uma
vocação para dominar."
O músico tece comparações entre os EUA e o Brasil, como o antigo uso de escravos vindos da África pelos dois países. "Matamos
índios. (...) Compartilhamos
aquele sentimento da América,
que é o sentimento de novo mundo. Temos que pensar nesses problemas, mas acima de tudo abrir
nossos corações para a beleza que
foi criada nesses novos continentes, porque é uma nova experiência na civilização ocidental."
Vida no Brasil
A reportagem elogia a obra e o
novo álbum do cantor, que, segundo Pareles, é "um dos mais
graciosos e inovadores compositores do Brasil e do mundo". "Ele
é aquela raridade de combinações, um artista profundamente
autoconsciente que também segue seus mais alegres instintos.
No mais autêntico estilo brasileiro, sua carreira tem misturado sedução e provocação."
Na entrevista, Caetano dá sua
visão de Brasil para o crítico norte-americano. "A vida no Brasil é
horrível em muitas maneiras, mas
é bela também", diz o músico.
"Como nação, somos uma
criança, tão grande quanto o continental Estados Unidos, talvez
até maiores. (...) Somos muito
misturados racialmente. Temos
uma responsabilidade histórica
de fazer uma coisa boa devido a
essa particularidade."
O compositor baiano também
faz previsões para o futuro do
Brasil. "Mesmo se, no futuro, nós,
como brasileiros, não fizermos
nada e apenas continuarmos sendo pobres, desorganizados, dominados e corruptos, e desaparecermos lentamente na história
-mesmo se esse sonho for apenas uma luz fraca no oceano da
história, até agora ele está vivo e
vivemos a intensidade desse ambicioso sonho."
Carnegie Hall
A reportagem diz que Caetano
retorna nesta semana para Nova
York, na condição de curador do
projeto "Perspectives", da casa de
espetáculos Carnegie Hall (que
também abrigará a estréia de seu
novo show). O brasileiro é o primeiro músico não-clássico a assumir o cargo.
Ao lado do americano David
Byrne, Caetano escolheu artistas
brasileiros para o projeto, como
Afroreggae (amanhã) e Mart'nália (quinta). Na sexta, o músico
apresenta seu "A Foreign Sound"
e, no sábado, divide o palco com
Byrne. "Perspectives" termina no
domingo com a apresentação de
Virgínia Rodrigues.
Sobre o novo álbum, que inclui
regravações de músicas de artistas
como Stevie Wonder e Nirvana,
Pareles diz: "Para a maioria dos
músicos do exterior, um álbum de
covers seria uma tentativa direta
de ser conhecido aqui (...). Mas "A
Foreign Sound" é consideravelmente mais sutil: (...) uma meditação sobre o exotismo".
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