São Paulo, segunda, 13 de abril de 1998

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ROLLING STONES
Melhor show de rock é antítese do gênero

Antonio Duarte/"Extra"
Bob Dylan (esq.) sobe ao palco durante a apresentação dos Rolling Stones, banda de Mick jagger (à dir.)


LUIZ ANTÔNIO RYFF
enviado especial ao Rio

Os Rolling Stones estão provando que o melhor show de rock'n'roll da atualidade é feito por uma banda que, hoje, é uma antítese do estereótipo do rock. Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts e Ron Wood não preenchem mais os requisitos para os cultos à juventude, rebeldia, desejo de mudança e transformação que simbolizam o rock. Pouco importa se, na maioria das vezes, esses cultos são alimentados por adolescentes pós-trintões que procuram nessa mitificação do rock'n'roll uma fonte da juventude. Isso tinha sentido quando o rock era juvenil. Não é mais. Poucos dos que podem aspirar retraçar os caminhos de Ponce de León são os próprios Stones, que sacolejam pelo palco durante duas horas e 20 minutos, com energia insuspeita e raras vezes vista no palco. Energia essa que já durou mais do que era esperado. O despertador do relógio biológico vai tocar logo. Por isso, quem puder hoje assisti-los, aproveite. Poucos daqueles que tiveram a oportunidade de ver os shows do irlandês U2 e do britânico Oasis deixarão de concordar que os Stones fazem um espetáculo melhor, mais empolgante e com maior interação com a platéia. No quesito diversão, não há para ninguém. Como os outros dois, os Stones conseguem fazer um esplêndido espetáculo de rock sem um pingo de improviso. Tudo é rigorosamente marcado. Ou alguém acredita que o duelo pornô encenado por Jagger com a vocalista Lisa Fischer em "Gimme Shelter" -a quarta música da apresentação- é espontâneo? É uma volúpia coreografada, como em "Miss You" -habitualmente a nona canção. "It's Only Rock'n'Roll", que a banda tocou anteontem no Rio, como vem fazendo eventualmente ao longo da turnê "Bridges to Babylon", é o supra-sumo desse paradigma. Com um faturamento de US$ 80 milhões no ano passado, é a história se repetindo como farsa por meio dos trejeitos e caretas de Wood, Richards e Jagger. O espetáculo dos Stones tem a mesma imprevisibilidade de um "Sai de Baixo" ao vivo. A diferença talvez esteja na qualidade de elenco e de texto. Lá como cá, há pouco espaço para cacos. Como Jagger brincando ao apresentar Wood como "o sobrevivente do fogo", aludindo ao incêndio na lancha do guitarrista em Angra dos Reis. Mesmo assim, esses cacos são ensaiados. Naquela velha fórmula de 10% de inspiração e 90% de transpiração, eles gastaram toda a criatividade na passagem dos anos 60 para os 70. Agora é apenas suor. Qual o problema? A dignidade musical deles não está aí. Quem se interessar em encontrá-la, deve procurar no diminuto palco no qual eles se espremem para -sem telões ou qualquer efeito mirabolante- enfileirar três rocks ilhados por milhares de fãs.



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