São Paulo, sábado, 13 de maio de 2000


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ERUDITO

Osesp e Meneses alternam brilho em dois concertos

ARTHUR NESTROVSKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

U m concerto foi quase o contrário do outro. Sábado passado a grande estrela da tarde foi a própria orquestra, maior que qualquer solista e maior, nas circunstâncias, até do que a música. Já o concerto de quinta-feira teve seu ponto alto no bis do violoncelista Antonio Meneses, tocando sozinho duas peças de Bach.
Seja regida por Roberto Minczuk ou pelo maestro convidado Uri Mayer, a Osesp começa a dar mostras do que será sua personalidade. Nem toda orquestra chega a ter som e caráter reconhecíveis. É possível até ser um bom conjunto sem isso; mas não é possível ser uma grande orquestra. A Osesp avança rápido a caminho de si e é um privilégio poder assistir a isso, na música e para além dela.
Ninguém teria imaginado que se pudesse escutar uma interpretação como a de sábado de "Till Eulenspiegels lustige Streiche", de Richard Strauss. Humores fáceis e amores difíceis se alternam com uma vivacidade estonteante. A Osesp tocou um Strauss de referência. Destaque especial para trompas e sopros; parabéns para metais. Minczuk brilhando.
As palmas para as cordas podem-se guardar para o concerto de quinta. Para o adágio da "Sinfonia nº 6", de Dvorak, quando o som próprio do naipe já aparecia para todo mundo ouvir. É um som de outono, mas com bastante luz; na fronteira do sentimento aberto, "paulistanamente" atrevido e precavido. Nada paulistano é o som de Antonio Meneses, que faz tanta música, e tão bonita, que a gente só pode entregar os pontos: a linguagem nem chega perto de lá. É verdade que a "Fantasia", de Villa-Lobos, é uma obra menos de inspiração do que de ambição trabalhada. E Villa-Lobos, quando não tem a grandeza da espontaneidade, fica muito diminuído. Mas a "Fantasia" não poderia ter sido melhor tocada, por um músico que se esforçou para tornar a música melhor do que é.
Meneses retribuiu o carinho da platéia tocando uma giga e uma sarabanda de Bach. O violoncelo encheu de música a sala. Nessas horas, todo mundo fica pequeno, na sombra universal da música. Até Antonio Meneses, que é grande o bastante para ter essa modéstia transcendental.
Ninguém é maior do que a música. Mas há certos momentos em que os músicos chegam a ter a estatura do que estão tocando. A maior bênção é que a gente cresce junto com eles e carrega depois a memória da música, amuleto forte contra a truculência dos dias.


Concerto: Osesp e Antonio Meneses
    
(dia 6/5)    
(dia 11/5)

Quando: hoje, às 16h30
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nº, região central, São Paulo, tel. 0/ xx/11/3337-5414)
Quanto: R$ 10 a R$ 30 (R$ 5 a R$ 15 para estudantes)


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