São Paulo, sexta-feira, 13 de maio de 2005

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12a. BIENAL DO LIVRO DO RIO

Bienal começa com crítica a Lula por "ataque à língua"

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Esvaziada pelas ausências do presidente Luiz Inácio Lula da Silva - que esteve na edição de 2003- e do ministro Gilberto Gil, a abertura da 12ª Bienal Internacional do Livro do Rio, no final da manhã de ontem, teve sua sisudez habitual perfurada por um discurso contra o governo federal.
Diante da governadora do Rio, Rosinha Matheus, opositora de Lula, o presidente da Academia Brasileira de Letras, Ivan Junqueira, atacou o que chamou de "constantes e crescentes agressões à língua portuguesa".
"A mais recente, e uma das mais graves, vem deste governo, que, ao lançar esta cartilha [de termos politicamente corretos, preparada e depois suspendida pela Secretaria de Direitos Humanos], quer legislar sobre a língua. Todos precisamos repudiar com veemência essa tentativa", afirmou ele, que não chegou a receber discursos de apoio, mas ganhou palmas da platéia, na qual estava a escritora Lygia Fagundes Telles.
Em contraste com a indignação do poeta imortal, o australiano (que já morou nos EUA, no México e hoje vive na Irlanda) DBC Pierre esbanjou bom humor na coletiva que deu no estande da Record, editora brasileira que lançou no país o seu "Vernon God Little", um dos mais importantes livros em língua inglesa lançado nos últimos anos.

Capivaras
Peter Finlay, nome de batismo de DBC (codinome que significa Dirty But Clean, ou "sujo, porém limpo"), tomou várias cervejas, acendeu muitas vezes seu cigarro preparado artesanalmente, e revelou que entre suas obsessões estão as capivaras. O seu cartão de visitas é, inclusive, ilustrado com o desenho de uma. Ao saber que uma capivara que vivia na lagoa Rodrigo de Freitas foi a musa do último verão carioca, brincou: "Meu lugar é aqui."
Mesmo afirmando que não estava sendo brilhante ("Talvez melhore com mais três cervejas"), Pierre fez críticas à sociedade norte-americana, alvo principal de seu romance, e em especial à mídia norte-americana. "As informações veiculadas dentro dos Estados Unidos são completamente diferentes das que vejo fora. É um país que te ensina a fazer dólares, ser atraente, ter boa saúde, mas eu nunca conseguirei ser americano", disse.
Por ter vivido muitos anos no México ele gosta de se dizer mexicano e, portanto, próximo do Brasil pelas afinidades latinas. "Acho que o Brasil é o exemplo maior de uma cultura apaixonada, por isso sempre quis tanto conhecer aqui", disse ele, que chegou ao Rio ontem de manhã.
Os livros que pediu à sua editora mostram seu anticonvencionalismo: "Abusado", de Caco Barcellos, sobre tráfico de drogas; "Batidão", de Silvio Essinger, sobre o universo do funk carioca; e um volume de poemas do erótico e "marginal" Glauco Mattoso. Apesar disso, ele disse que seu próximo romance, que acabou de escrever, tem um estilo mais tradicional do que o de "Vernon God Little". "É até escrito na terceira pessoa", contou.
O primeiro dia da feira, que vai até o dia 22/5, ainda foi fraco em termos de público (que paga R$ 10 de ingresso, com meia-entrada para estudantes e maiores de 60 anos) e celebridades. Um dos estandes que despertou maior atenção foi o que tinha o dançarino Carlinhos de Jesus evoluindo e autografando livros.


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