São Paulo, domingo, 13 de maio de 2007

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BIA ABRAMO

Passado e oculto fazem a festa às 18h


A dobradinha temas sobrenaturais e "novela de época" se fixou como nicho da novela das seis

SAEM OS fantasminhas camaradas de "O Profeta", entram bruxas ruivas em "Eterna Magia". Nosso mago de plantão, Paulo Coelho, participa como ator, no papel de um mago celta, e empresta sua credibilidade de expert no oculto para a trama.
A se acreditar numa leitura muito corrente da mitologia celta, a Irlanda pré-medieval era povoada por feiticeiras protofeministas e devotas da natureza. O acerto aí é duplo: o tema do fortalecimento feminino está no ar, como o murmúrio ecológico.
A dobradinha temas sobrenaturais e "novela de época" se fixou, de fato, como o nicho da novela das seis.
O tempo remoto garante uma espécie de leveza que parece impossível numa novela contemporânea -a não ser na forma de humor e deboche, como é o caso das produções do horário das 19h.
Se, por um lado, parece ser preciso tratar, nas novelas passadas nos tempos atuais, de assuntos complicados que estejam na ordem do dia (e suscitem algum tipo de polêmica), as de época estão mais ou menos livres para exagerar nos clichês românticos e na ingenuidade.
Da mesma maneira, ao colocar as crenças no sobrenatural -quaisquer que sejam, de fundo mais ou menos religioso ou simplesmente derivadas de uma vontade de acreditar em explicações não-racionais- no centro das tramas, aposta-se numa espécie de vale-tudo irrealista, que deve, de alguma maneira, servir como conforto escapista.
"O Profeta", nesse sentido, foi exemplar. Com história situada numa rósea e pouco rebelde década de 50 e espiritismo light, além de protagonistas lindos e loiros, funcionou tão bem que a nova das seis, "Eterna Magia", vai ter que contar com os nomões de Malu Mader e Thiago Lacerda e as artes de Paulo Coelho para manter a bola em jogo.

 

Se "Paraíso Tropical" sofre de uma espécie de embotamento da inteligência ao tratar das questões amorosas, "Vidas Opostas" carrega nas tintas da perversidade nesse tema. Parece que nenhum autor de novela acordou para o fato de que as relações amorosas se complicaram, não por conta de um mal externo.
O amor imorredouro, impoluto e disposto a enfrentar qualquer obstáculo que acomete os pares românticos tornou-se uma espécie de loucura a dois, desencantada e neurótica, na qual os impedimentos vêm antes de dentro do que de fora. Se mesmo as novelas mais corajosas, e essas duas, cada uma a seu modo, são, não tomarem pé do estado das coisas nesse terreno, vão continuar marcando passo.

biaabramo.tv@uol.com.br


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