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BIA ABRAMO
Passado e oculto fazem a festa às 18h
A dobradinha temas sobrenaturais e "novela de época" se fixou como nicho da novela das seis
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SAEM OS fantasminhas camaradas de "O Profeta", entram
bruxas ruivas em "Eterna Magia". Nosso mago de plantão, Paulo
Coelho, participa como ator, no papel de um mago celta, e empresta sua
credibilidade de expert no oculto para a trama.
A se acreditar numa leitura muito
corrente da mitologia celta, a Irlanda pré-medieval era povoada por feiticeiras protofeministas e devotas da natureza. O acerto aí é duplo: o tema
do fortalecimento feminino está no
ar, como o murmúrio ecológico.
A dobradinha temas sobrenaturais e "novela de época" se fixou, de
fato, como o nicho da novela das seis.
O tempo remoto garante uma espécie de leveza que parece impossível
numa novela contemporânea -a
não ser na forma de humor e deboche, como é o caso das produções do
horário das 19h.
Se, por um lado, parece ser preciso
tratar, nas novelas passadas nos
tempos atuais, de assuntos complicados que estejam na ordem do dia
(e suscitem algum tipo de polêmica),
as de época estão mais ou menos livres para exagerar nos clichês românticos e na ingenuidade.
Da mesma maneira, ao colocar as
crenças no sobrenatural -quaisquer que sejam, de fundo mais ou
menos religioso ou simplesmente
derivadas de uma vontade de acreditar em explicações não-racionais-
no centro das tramas, aposta-se numa espécie de vale-tudo irrealista,
que deve, de alguma maneira, servir
como conforto escapista.
"O Profeta", nesse sentido, foi
exemplar. Com história situada numa rósea e pouco rebelde década de
50 e espiritismo light, além de protagonistas lindos e loiros, funcionou
tão bem que a nova das seis, "Eterna
Magia", vai ter que contar com os
nomões de Malu Mader e Thiago Lacerda e as artes de Paulo Coelho para
manter a bola em jogo.
Se "Paraíso Tropical" sofre de uma
espécie de embotamento da inteligência ao tratar das questões amorosas, "Vidas Opostas" carrega nas tintas da perversidade nesse tema. Parece que nenhum autor de novela
acordou para o fato de que as relações amorosas se complicaram, não
por conta de um mal externo.
O amor imorredouro, impoluto e
disposto a enfrentar qualquer obstáculo que acomete os pares românticos tornou-se uma espécie de loucura a dois, desencantada e neurótica,
na qual os impedimentos vêm antes
de dentro do que de fora. Se mesmo
as novelas mais corajosas, e essas
duas, cada uma a seu modo, são, não
tomarem pé do estado das coisas
nesse terreno, vão continuar marcando passo.
biaabramo.tv@uol.com.br
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