São Paulo, sexta-feira, 13 de junho de 2008

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Crítica/"Fim dos Tempos"

Novo filme de M. Shyamalan erra ao se levar a sério demais

Desconfortável e artificial, Mark Wahlberg protagoniza longa decepcionante

LEONARDO CRUZ
EM PARIS

Súbito, sem motivo aparente, homens e mulheres perdem a consciência e se matam, numa onda que se espalha pelo nordeste norte-americano, provocando desespero e fugas em massa. O ponto de partida do novo filme de M. Night Shyamalan é tão assustador quanto interessante, e a primeira cena de "Fim dos Tempos", um suicídio coletivo no Central Park nova-iorquino, aponta para uma obra-prima do suspense e do horror. Mas, como nas obras anteriores do cineasta, nem tudo é o que parece.
Em seu oitavo longa-metragem, o diretor indiano radicado nos Estados Unidos retoma um tema que lhe é caro: a decadência do mundo, corrompido pelo egoísmo, pela futilidade e pela violência crescente.
Em "A Vila" (2004), seu melhor filme, Shyamalan propunha a criação de um paraíso terrestre como alternativa à ruína social. Agora, é o planeta que reage aos abusos do homem contemporâneo e libera, por meio das plantas, uma toxina que induz ao suicídio.
Essa revolta verde é contada ao longo de pouco mais de um dia, pela perspectiva de Elliot (Mark Wahlberg), um metódico professor de ciências da Filadélfia. Cabe a ele superar um duplo desafio, resistir ao acontecimento inexplicável da natureza e salvar da crise seu casamento com Alma (Zooey Deschanel).

Protagonista artificial
Em Mark Walhberg surgem os primeiros problemas de "Fim dos Tempos" -este bom ator de "Os Infiltrados" (2006) e "Boogie Nights" (1997) parece desconfortável no papel de protagonista, artificial demais, como se não acreditasse nas falas e nas situações do roteiro de Shyamalan. E Deschanel acompanha essa mesma balada.
Talvez esse desconforto de Walhberg se explique pela mensagem espiritual, em tom de auto-ajuda, que permeia o filme e se sobrepõe na parte final. Para Shyamalan, Elliot é o símbolo do homem à procura da redenção, e, para ter êxito em sua jornada, o professor de ciências terá de abandonar a razão e se entregar sem medo aos sentimentos "verdadeiros", ao "amor puro".
O tom artificial do casal também poderia indicar que o diretor optou por uma sátira aos filmes-catástrofe. E algumas cenas da segunda metade do longa seguem nesse caminho, em uma estética de ficção B. Mas "Fim dos Tempos" se leva a sério demais, preso a uma grandiloqüência que o impede de virar "O Ataque das Samambaias Assassinas". E, sem o tom paródico, o que poderia ser inteligente e intencionalmente ruim se torna apenas ruim.


FIM DOS TEMPOS
Produção:
EUA/Índia, 2008
Direção: M. Night Shyamalan
Com: Mark Wahlberg, Zooey Deschanel e John Leguizamo
Onde: estréia hoje nos cines Anália Franco, Bristol, Espaço Unibanco Pompéia, Iguatemi Cinemark, Jardim Sul e circuito; 16 anos
Avaliação: ruim


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