|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica/"Fim dos Tempos"
Novo filme de M. Shyamalan erra ao se levar a sério demais
Desconfortável e artificial, Mark Wahlberg protagoniza longa decepcionante
LEONARDO CRUZ
EM PARIS
Súbito, sem motivo aparente, homens e mulheres perdem a consciência e se matam, numa onda que
se espalha pelo nordeste norte-americano, provocando desespero e fugas em massa.
O ponto de partida do novo
filme de M. Night Shyamalan é
tão assustador quanto interessante, e a primeira cena de
"Fim dos Tempos", um suicídio
coletivo no Central Park nova-iorquino, aponta para uma
obra-prima do suspense e do
horror. Mas, como nas obras
anteriores do cineasta, nem tudo é o que parece.
Em seu oitavo longa-metragem, o diretor indiano radicado
nos Estados Unidos retoma um
tema que lhe é caro: a decadência do mundo, corrompido pelo
egoísmo, pela futilidade e pela
violência crescente.
Em "A Vila" (2004), seu melhor filme, Shyamalan propunha a criação de um paraíso terrestre como alternativa à ruína
social. Agora, é o planeta que
reage aos abusos do homem
contemporâneo e libera, por
meio das plantas, uma toxina
que induz ao suicídio.
Essa revolta verde é contada
ao longo de pouco mais de um
dia, pela perspectiva de Elliot
(Mark Wahlberg), um metódico professor de ciências da Filadélfia. Cabe a ele superar um
duplo desafio, resistir ao acontecimento inexplicável da natureza e salvar da crise seu casamento com Alma (Zooey
Deschanel).
Protagonista artificial
Em Mark Walhberg surgem
os primeiros problemas de
"Fim dos Tempos" -este bom
ator de "Os Infiltrados" (2006)
e "Boogie Nights" (1997) parece
desconfortável no papel de protagonista, artificial demais, como se não acreditasse nas falas
e nas situações do roteiro de
Shyamalan. E Deschanel acompanha essa mesma balada.
Talvez esse desconforto de
Walhberg se explique pela
mensagem espiritual, em tom
de auto-ajuda, que permeia o
filme e se sobrepõe na parte final. Para Shyamalan, Elliot é o
símbolo do homem à procura
da redenção, e, para ter êxito
em sua jornada, o professor de
ciências terá de abandonar a razão e se entregar sem medo aos
sentimentos "verdadeiros", ao
"amor puro".
O tom artificial do casal também poderia indicar que o diretor optou por uma sátira aos filmes-catástrofe. E algumas cenas da segunda metade do longa seguem nesse caminho, em
uma estética de ficção B. Mas
"Fim dos Tempos" se leva a sério demais, preso a uma grandiloqüência que o impede de virar "O Ataque das Samambaias
Assassinas". E, sem o tom paródico, o que poderia ser inteligente e intencionalmente ruim
se torna apenas ruim.
FIM DOS TEMPOS
Produção: EUA/Índia, 2008
Direção: M. Night Shyamalan
Com: Mark Wahlberg, Zooey Deschanel e John Leguizamo
Onde: estréia hoje nos cines Anália
Franco, Bristol, Espaço Unibanco
Pompéia, Iguatemi Cinemark, Jardim Sul e circuito; 16 anos
Avaliação: ruim
Texto Anterior: Cinema/estréia - Crítica/"A Outra": Longa com Johansson transforma boa história em folhetim sem ritmo Próximo Texto: Saiba mais: Diretor tem relação tensa com Hollywood Índice
|