São Paulo, sábado, 13 de junho de 1998

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LIVROS LANÇAMENTOS
Por que os políticos acabam sendo esquecidos?

MAURICIO PULS
da Redação


O livro "Presidente Antônio Carlos" reconstitui a trajetória de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, um dos principais articuladores da Revolução de 30 -conhecido pela autoria da frase "Façamos a revolução antes que o povo a faça".
Escrita por Lígia Maria Leite Pereira e Maria Auxiliadora de Faria, professoras da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a biografia apresenta um perfil tradicional: apóia-se num extenso levantamento de dados primários (periódicos, entrevistas e publicações oficiais), mas não revela grandes pretensões teóricas.
Com 660 páginas, o estudo narra em detalhe a longa carreira política de Antônio Carlos -que, entre outros cargos, foi prefeito de Belo Horizonte, deputado federal (e líder na Câmara de dois presidentes da República), ministro da Fazenda, senador, presidente de Minas Gerais e presidente da Câmara.
"Poucos foram os homens públicos deste país que, como Antônio Carlos, mereceram tanta atenção da imprensa", afirmam as autoras. Apesar disso, acabou sendo esquecido: "A trajetória histórica de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada é pouco conhecida. Virou nome de ruas, praças, avenidas, escolas, mas não virou herói".
Por que Antônio Carlos foi esquecido? As autoras atribuem esse fato à "omissão do Poder Público no que concerne à memória do país e da própria metodologia de ensino da história", que acabou relegando a um segundo plano esses "atores de primeira grandeza no cenário histórico".
É duvidoso, porém, que incluir uma lista de governadores de Minas nos currículos escolares contribua para melhorar a sorte de Antônio Carlos. Muitos presidentes da República são obrigatoriamente citados nos livros de história, mas nem por isso estão em situação melhor: a passagem pela Presidência não é suficiente para preservar um nome do desgaste do tempo. Muitos são os eleitos, mas poucos serão os lembrados.
A questão é: por que ele deveria ocupar um espaço no imaginário popular? De fato, é difícil encontrar uma razão para que ele seja lembrado. Tido como um aristocrata sem intimidade com as massas, costumava repetir a frase "a democracia seria boa se não fosse o sovaco" -uma referência negativa ao "cheiro do povo", para usar uma expressão do ex-presidente João Baptista Figueiredo.
Em sua longa permanência no Congresso, sempre votou contra a concessão do direito de aposentadoria para várias categorias, "em nome da preservação dos cofres públicos". Defendeu o massacre dos rebeldes do Contestado, a repressão às greves de operários, a prisão de jornalistas pelo governo.
É fácil notar a ausência de traços que pudessem preservá-lo no imaginário popular, ao contrário do que ocorreu com seu contemporâneo Getúlio Vargas -que, embora marcado pela ditadura, teve seu nome associado à concessão de direitos sociais.
A própria frase "Façamos a revolução antes que o povo a faça", que Antônio Carlos nunca renegou, mostra seu distanciamento diante das camadas majoritárias da população. Daí que, a despeito da imprensa, "que tanto o bajulara", sua lembrança se apagou.


Livro: Presidente Antônio Carlos: um Andrada da República - o arquiteto da Revolução de 30
Autoras: Lígia Maria Leite Pereira e Maria Auxiliadora de Faria
Lançamento: editora Nova Fronteira e Fundação Presidente Antônio Carlos
Quanto: R$ 49 (660 págs.)



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