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LIVROS LANÇAMENTOS
Por que os políticos acabam sendo esquecidos?
MAURICIO PULS
da Redação
O livro "Presidente Antônio
Carlos" reconstitui a trajetória
de Antônio Carlos Ribeiro de
Andrada, um
dos principais
articuladores da Revolução de 30
-conhecido pela autoria da frase
"Façamos a revolução antes que o
povo a faça".
Escrita por Lígia Maria Leite Pereira e Maria Auxiliadora de Faria,
professoras da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a
biografia apresenta um perfil tradicional: apóia-se num extenso levantamento de dados primários
(periódicos, entrevistas e publicações oficiais), mas não revela
grandes pretensões teóricas.
Com 660 páginas, o estudo narra
em detalhe a longa carreira política de Antônio Carlos -que, entre
outros cargos, foi prefeito de Belo
Horizonte, deputado federal (e líder na Câmara de dois presidentes
da República), ministro da Fazenda, senador, presidente de Minas
Gerais e presidente da Câmara.
"Poucos foram os homens públicos deste país que, como Antônio Carlos, mereceram tanta atenção da imprensa", afirmam as autoras. Apesar disso, acabou sendo
esquecido: "A trajetória histórica
de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada é pouco conhecida. Virou
nome de ruas, praças, avenidas,
escolas, mas não virou herói".
Por que Antônio Carlos foi esquecido? As autoras atribuem esse
fato à "omissão do Poder Público
no que concerne à memória do
país e da própria metodologia de
ensino da história", que acabou
relegando a um segundo plano esses "atores de primeira grandeza
no cenário histórico".
É duvidoso, porém, que incluir
uma lista de governadores de Minas nos currículos escolares contribua para melhorar a sorte de
Antônio Carlos. Muitos presidentes da República são obrigatoriamente citados nos livros de história, mas nem por isso estão em situação melhor: a passagem pela
Presidência não é suficiente para
preservar um nome do desgaste
do tempo. Muitos são os eleitos,
mas poucos serão os lembrados.
A questão é: por que ele deveria
ocupar um espaço no imaginário
popular? De fato, é difícil encontrar uma razão para que ele seja
lembrado. Tido como um aristocrata sem intimidade com as massas, costumava repetir a frase "a
democracia seria boa se não fosse
o sovaco" -uma referência negativa ao "cheiro do povo", para
usar uma expressão do ex-presidente João Baptista Figueiredo.
Em sua longa permanência no
Congresso, sempre votou contra a
concessão do direito de aposentadoria para várias categorias, "em
nome da preservação dos cofres
públicos". Defendeu o massacre
dos rebeldes do Contestado, a repressão às greves de operários, a
prisão de jornalistas pelo governo.
É fácil notar a ausência de traços
que pudessem preservá-lo no imaginário popular, ao contrário do
que ocorreu com seu contemporâneo Getúlio Vargas -que, embora marcado pela ditadura, teve seu
nome associado à concessão de direitos sociais.
A própria frase "Façamos a revolução antes que o povo a faça",
que Antônio Carlos nunca renegou, mostra seu distanciamento
diante das camadas majoritárias
da população. Daí que, a despeito
da imprensa, "que tanto o bajulara", sua lembrança se apagou.
Livro: Presidente Antônio Carlos: um
Andrada da República - o arquiteto da
Revolução de 30
Autoras: Lígia Maria Leite Pereira e Maria
Auxiliadora de Faria
Lançamento: editora Nova Fronteira e
Fundação Presidente Antônio Carlos
Quanto: R$ 49 (660 págs.)
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