São Paulo, sexta-feira, 13 de julho de 2001

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ARTIGO

O fenômeno das boys bands está em crise

ERIC BOEHLERT
DA "SALON"

Os Backstreet Boys já eram. Depois de um inverno em que as vendas de seu álbum decepcionaram, uma primavera em que andaram longe das rádios pop e um especial de TV aberta que teve audiência fraca, chega a notícia de que a turnê de verão dos garotos, que já tinha sofrido cortes, está mal das pernas.
Concebida no final do ano passado -quando a banda ainda ocupava a esfera das megaestrelas- para acontecer em estádios, a turnê de verão (agora) dos rapazes vai levar os Backstreet Boys para arenas e anfiteatros menores. As vendas de ingressos andam fracas, porém, mesmo nesses locais menores.
Nas 45 cidades que a turnê vai incluir, ainda sobram ingressos para as apresentações. Na verdade, ainda podem ser encontrados bons lugares para assistir à maioria dos shows. Para piorar, A.J. McLean, integrante dos Boys, faz tratamento para combater depressão e alcoolismo, o que obrigou a banda a adiar uma série de shows já marcados.
Os problemas dos Backstreet Boys são basicamente dois e muito simples: a ausência de singles de grande sucesso e a confusão criada em torno de sua imagem. Mas o desabamento da banda também levanta algumas questões mais amplas. Será que a queda em suas vendas constitui o primeiro indício de um crash do pop teen no futuro próximo? Até onde vai a fidelidade dos teens para com seus ícones prediletos?
Os problemas na terra dos Boys começaram no final do ano passado, com o lançamento de seu muito aguardado álbum "Black & Blue". Como o álbum anterior da banda, "Millennium", tinha vendido mais de 1 milhão de cópias nas primeiras semanas depois de chegar às lojas, ajudando a definir o crescente gênero do pop teen, a expectativa em relação ao novo álbum era grande.
Mas aconteceu muito pouco. Acostumados a passar meses na lista dos dez maiores sucessos da parada da "Billboard", os rapazes devem ter ficado horrorizados quando seu último trabalho saiu da zona estratosférica depois de apenas três semanas.
Será que isso significa que a gigante do pop teen está perdendo força? Ainda é cedo para saber. Mas a verdadeira lição a ser tirada da história dos Backstreet Boys mostra o quanto é tênue o vínculo que une os fãs do pop adolescente a seus artistas favoritos.
O primeiro single de "Black & Blue", "The Shape of My Heart", mal conseguiu ficar entre os 20 maiores sucessos da parada Hot Cem da "Billboard". Para um grupo pop de presença firmada nas rádios, um relativo fracasso como esse é território tabu, porque a indústria musical opera com base na teoria de que percepção é realidade. "Isso provou que eles são vulneráveis", diz uma fonte da rádio pop, observando que os programadores, muitas vezes sobrecarregados com canções demais e tempo insuficiente para colocar todas no ar, anseiam por razões para rejeitar músicas.
As dificuldades com as rádios tiveram um efeito deletério sobre os shows da banda. Os promotores de concertos enfatizam a importância da correlação entre ter singles de sucesso passando nas rádios no exato momento em que vão à venda os ingressos para os shows de verão. Os artistas cujos singles vendem bem vendem mais ingressos para shows, e o inverso também é verdade.
Resta o problema da imagem dos Boys. Insatisfeitos com a coroa do pop teen e ansiosos por ampliar seu público, no momento do lançamento de "Black & Blue" os rapazes falaram sem parar que o novo álbum marcava o amadurecimento do grupo. Com um guarda-roupa novo e audacioso e cortes de cabelo ousados, os Boys se posicionaram para atrair um público mais velho. Mas tudo o que conseguiram foi provocar o repúdio de sua base de fãs jovens.
O fato é que sua música não se distingue de todas as outras bandas pop que seguem a mesma fórmula, e isso significa que o público mais velho que os Boys queriam atingir dava de ombros para eles, enquanto seu público adolescente fiel interpretou a nova imagem adulta da banda como um tapa na cara. Basicamente, os Boys misturaram os sinais. Em termos comerciais, a pergunta que resta a fazer aos Backstreet Boys é: quando sai o primeiro álbum solo?


Tradução Clara Allain



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