São Paulo, sexta-feira, 13 de julho de 2001

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MÚSICA

Maior festival alternativo do país, evento levou mais de 100 mil pessoas a Brasília, no último fim de semana

Porão do Rock reúne shows históricos

JEAN CANUTO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O rock lavou a alma nos dias 7 e 8 passados, na quarta edição consecutiva do festival Porão do Rock, realizado em Brasília. O Porão implodiu nos últimos dois anos recebendo um público superior a 100 mil pessoas e passou a ser realizado em arena montada no estacionamento do estádio Mané Garrincha.
Com novo recorde de público cravado em dois dias de maratona roqueira, o evento atraiu cerca de 140 mil pessoas para acompanhar os shows de 42 bandas -30 do próprio Distrito Federal e outras 12 de outros Estados brasileiros- em sua edição mais pesada.
Na abertura do evento, um concerto sincronizado e apoteótico de bateria, reunindo nomes como Dino Verdade, Alf e Bacalhau, da banda Rumbora, Guto Goffi, do Barão Vermelho, Boka, do Ratos de Porão, entre outros.
As atrações foram divididas em dois palcos: o principal, com 30 minutos de show por banda (exceto Rumbora, Maskavo e Ratos de Porão, que tocaram por 45 minutos, e o Mundo Livre S/A e Pavilhão 9, por uma hora), e o demo, com 15 minutos por grupo.
O evento, apesar de eclético, teve predominantemente bandas que mesclam rap, hardcore e rock pesado, o que se convencionou denominar "new metal".
O festival tentou incorporar à programação um show de porte internacional para encerrar o evento. O alvo era o grupo de punk rock inglês Buzzcocks, que esteve em turnê no país, mas um problema com as datas impossibilitou a investida. Foram convocados então dois grupos paulistanos, o Ratos de Porão, que teve no festival o maior público de sua história (cerca de 70 mil pessoas), e o Pavilhão 9, que já provou o seu fogo em arena no Rock in Rio.
Os destaques da primeira noite ficaram por conta do rapcore nervoso e equilibrado do Artigo 5 e do hardcore com pitadas demoníacas do Satan's Pray, ambos de Brasília. O último é um divertido projeto com membros de bandas hardcore da cidade que lembram o grupo mexicano Brujeria.
Grupos distintos como o alagoano Mopho, que pratica um som calcado nos anos 70, com toques de psicodelia a la Mutantes, o Prot(o) (DF), rock garageiro de primeira, e Amanita Muscária (DF), um dos mais originais, apresentando uma mistura de funk, ska, reggae e rock com suaves toques de flauta e ritmos regionais, também brilharam.
O show mais redondo de sábado ficou a cargo dos cariocas do Squaws, com seu rock explosivo e engajado, na mesma linha do Rage against the Machine. Já o brasiliense Rumbora fez um show previsível e trouxe ao palco o ex-guitarrista do Raimundos, Digão, para um cover de "Eu Quero Ver o Oco", da extinta maior banda da cidade. O badalado Mundo Livre S/A subiu ao palco durante a madrugada, e parte considerável da platéia achou melhor se retirar do que acompanhar a apresentação dos recifenses até o final.
O domingo foi mais pesado, mas com bandas repetitivas. Destaque para o power trio "Grrl" feminino RTL e o grupo carioca Matanza, com sua mescla de country e hardcore, no palco demo. No principal, sobressaíram as demais três bandas locais: o new metal do Mata Leão, o hardcore agressivo do Macakongs 2099 e o heavy metal do Slug, cujo vocalista tem o mesmo timbre de voz de James Hetfield, do Metallica. O indie rock dos gaúchos do Bidê ou Balde também empolgou.
Mesmo com João Gordo nitidamente afetado por problemas de saúde, o Ratos de Porão realizou o seu tradicional massacre punk hardcore, que há tempos ganhou o mundo. Pulverizando qualquer esperança das bandas presentes de fazer um show tão agressivo, preciso e coeso, fez apresentação impecável e histórica.
Para finalizar, a mistura de rap e rock do Pavilhão 9 contagiou o público com sua presença de palco marcante e encerrando com chave de ouro o festival.
Com enorme estrutura e gratuito, o Porão do Rock pode ser considerado o maior festival de rock alternativo do país e exemplo aos demais Estados brasileiros.



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