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MERCADO
Queda em junho é explicada pela safra ruim de filmes e pelo crescimento do DVD; cenário não mudará em 2005, dizem analistas
Público de cinema no Brasil cai 43%
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Confirmado: o público das salas
de cinema no Brasil caiu 43% em
junho, em comparação com o
mesmo período de 2004. O índice
(em torno de 40%) havia sido previsto por Valmir Fernandes, presidente da Cinemark, maior rede
de salas do país (304), em entrevista à Folha, no mês passado.
Apurado ontem pela agência de
estatísticas cinematográficas Filme B, o resultado de junho confirma um semestre de declínio de espectadores e renda dos filmes no
Brasil. A tendência negativa é observada no mundo todo e reforça
as duas principais teses que tentam explicar o fenômeno:
1) A safra de filmes está fraca,
por isso o espectador não se anima a ir ao cinema; 2) o DVD está
tomando o lugar das salas.
Com apenas seis meses de observação, ninguém na indústria
cinematográfica se anima a proferir um diagnóstico categórico sobre o assunto.
Mas, se a segunda suposição estiver correta, o mercado de exibição estará diante de uma mudança estrutural.
O que, sim, já se diz sem rodeios
é que a situação não deve melhorar até o final deste ano, ao menos
no Brasil e especialmente para o
filme nacional.
"Somos a parte mais fraca e,
portanto, mais sensível do mercado. É natural que uma crise nos
atinja com mais força", diz a produtora Paula Lavigne.
Com o respaldo de um grande
sucesso em 2003 -"Lisbela e o
Prisioneiro", de Guel Arraes, que
obteve 3,1 milhões de espectadores-, Lavigne lançou em janeiro
deste ano "Meu Tio Matou um
Cara", de Jorge Furtado, e se prepara para estrear no dia 7 de outubro "O Coronel e o Lobisomem",
de Maurício Farias, uma comédia
que flerta com o fantástico.
O longa de Furtado registrou
573.773 espectadores (até junho).
Com "O Coronel e o Lobisomem", Lavigne não tem a expectativa de repetir a performance de
"Lisbela e o Prisioneiro".
O filme de Farias será lançado
com 150 cópias no país. Esse número, calcula Lavigne, determina
um teto de espectadores para o título abaixo dos 2 milhões.
É que, para superar essa marca,
o filme teria de registrar um número de espectadores por cópia e
permanecer em cartaz por um
tempo muito além da média do
mercado.
"Lisbela e o Prisioneiro" estreou
com 250 cópias. Agora, os distribuidores estão mais cautelosos",
diz Lavigne, apontando a redução
das expectativas do mercado como conseqüência da queda geral
de público no semestre e do resultado específico do filme brasileiro
neste período.
Até junho, a queda da bilheteria
de filmes nacionais foi de 44%, em
relação ao primeiro semestre do
ano passado. Dos 17 títulos lançados neste ano, nenhum até agora
se aproximou da marca dos 3 milhões de espectadores.
Esta barreira -que no Brasil
significa o limiar de um grande
sucesso- havia sido ultrapassada desde 2002 por sucessos como
"Cidade de Deus", "Carandiru" e
"Cazuza - O Tempo Não Pára".
Ou seja, o cinema brasileiro, que
vinha em curva ascendente, inverteu o sinal de crescimento.
Se "O Coronel e o Lobisomem"
estima seu público aquém dos 2
milhões, "O Mistério de Irma
Vap", de Carla Camuratti, que seria outra aposta de sucesso em
2005, corre o risco de nem estrear
neste ano.
O novo filme de Camuratti enfrentou dificuldades para reunir o
total de seu orçamento e ainda
não ficou pronto.
A diretora é considerada pioneira na "retomada" do cinema
brasileiro, com "Carlota Joaquina", que em 1995 fez notável 1,2
milhão de espectadores. Era o ano
inaugural da curva ascendente
agora ameaçada.
Bruno Wainer, diretor da Lumière, que distribuirá "O Mistério
de Irma Vap", diz que "o tempo
mínimo necessário à preparação
do lançamento do filme está se esgotando". A estréia do longa está
prevista para 18 de novembro.
Mas, sem o filme pronto, Wainer
ainda não pôde começar a elaborar seu trailer, peça que considera
fundamental na divulgação de
"filmes de grande público".
O distribuidor, que lançou "Cidade de Deus" e "Olga" (2004),
ambos com mais de 3 milhões de
espectadores, cita o exemplo da
campanha do último: "Fizemos
dois traileres de "Olga", que começaram a ser exibidos em maio e
permaneceram nos cinemas até a
estréia do filme, em agosto".
Wainer avalia que "a crise do cinema brasileiro está pintando
mais dramática do que a do internacional" e atribui esta diferença
"aos dois anos que perdemos discutindo a Ancinav [projeto do
MinC para a transformação da
Agência Nacional do Cinema em
Agência Nacional do Cinema e do
Audiovisual]". Para o distribuidor, a situação atual "é a colheita
do cinema depois que este governo assumiu".
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