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DJ do futuro
Gregg Gillis, o homem-banda Girl Talk, confirma sua presença no Tim Festival
e defende o uso de idéias de canções alheias em suas criações, o que, para ele, acontece em "praticamente toda música"
Andrew Strasser/Divulgação
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Girl Talk em fotomontagem que retrata o clima de seus shows, nos quais se mistura com o público |
LÚCIO RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Sim, ele é o músico do futuro.
Só que, no caso do DJ e produtor Gregg Gillis, cada vez mais
conhecido pelo seu polêmico
projeto Girl Talk, o futuro é
AGORA. Ele é rock star, rap
star e dance star, tudo junto.
Não canta nada, e seu instrumento musical não é uma guitarra, e sim um computador
laptop Toshiba Satelitte M115.
Suas canções são um apanhado de canções de outros artistas. Está no centro da discussão
de direitos autorais na arte e
grava CDs pela gravadora Illegal Art. Basicamente, "rouba"
músicas dos outros, mas acha
que está dentro da lei (veja o resultado em www.myspace.com/girltalkmusic).
Seu mais recente álbum,
"Night Ripper" (algo no sentido de "estripador de músicas"),
é uma coleção de trechos, batidas, grooves e vocais estripados
de canções de 164 artistas. Tudo transformado em 16 músicas novas, agora de "autoria" de
Gregg Gillis. Só a faixa "Smash
Your Head" é composta de partes de Nirvana, dos punks velhos do X-Ray Spex, dos emos
novos do Fall Out Boy, Elton
John, Beyoncé, Public Enemy,
James Brown e outros. É a cultura pós-moderna do "mash-up", ou "bootleg", coisa que o
2ManyDJs sempre fez na Europa, mas, no caso de Gillis, elevado à enésima potência.
Suas discotecagens são inflamadas, suas performances acabam com ele praticamente sem
roupa, e sua lista de fãs inclui
figuras díspares como Paris
Hilton, Beck, Kanye West,
Bjork e 90% dos nerds de música independente dos EUA.
A modernosa revista "Wired" cravou que o rapaz de
Pittsburgh de 25 anos, que até
o mês passado trabalhava como engenheiro biomédico, é
um dos "heróis do mundo conectado". A tenda que abrigou
seu show no último Coachella
Festival (o maior festival americano de música pop, na Califórnia) estava abarrotada.
E, já que o futuro é agora, a
Folha adianta que Gregg Gillis,
ou o Girl Talk, é atração da edição 2007 do Tim Festival, em
outubro, até agora escalado para tocar apenas na etapa do Rio.
E conversou com ele nesta semana, óbvio, por email.
FOLHA - Alguma expectativa em
tocar no Brasil?
GIRL TALK - Nunca estive no
Brasil antes, portanto, não tenho idéia do que posso encontrar aí. Se minhas performances nos EUA viram verdadeiras
festas, não tem por que ser diferente em outro lugar. E tem
tanta música boa saindo do
Brasil nos últimos tempos, como o CSS e o Bonde do Rolê,
que realmente não vejo a hora
de saber como as pessoas daí
vão reagir ao meu material.
FOLHA - Você tem um trabalho
"normal" no dia-a-dia. Como consegue conciliá-lo com a música?
GIRL TALK - Não consigo mais.
Era engenheiro biomédico até
o mês passado. Adorava, mas
não dava para tocar em Barcelona num fim de semana e na
segunda cedo estar de avental,
me apresentando para o trabalho. Transformar minhas batidas em ganha-pão é um sonho.
FOLHA - Como define seu estilo?
Que tipo de música é essa que sai do
seu computador?
GIRL TALK - Gosto do vago termo
de "música baseada em samples" para descrever meu som.
Existe sim uma influência de
"mash-up" em minha música.
Acho que no fim é muito mais
que apenas misturar músicas.
FOLHA - Como é ser DJ tão conectado a esta era digital dos MP3s e distribuição on-line?
GIRL TALK - Nunca me considerei um DJ no sentido tradicional. Mas acho que vivemos uma
boa época para a música underground, é fácil estabelecer conexões e se fazer ouvido. Num
resumo técnico das coisas, é
bom ter acesso a tanta música
tão facilmente. Se eu ouvir uma
canção e quiser parte dela para
o meu trabalho, é só ligar o
computador e fazer acontecer.
FOLHA - Sua música é quase toda
derivada de outros artistas, alguns
bem conhecidos. Como se defende
dos que o acusam de roubar música?
GIRL TALK - Praticamente toda
música é derivada de outros artistas. Se você é guitarrista numa banda de rock, toca notas
em progressão de um jeito que
alguém já fez. Isso num instrumento que não foi você quem
inventou. Coloca as notas numa ordem que rearranjou de alguma canção de que gosta, produz num instrumento, contextualiza inserindo outros instrumentos e chama isso de sua
criação. É basicamente o que
faço também. Nenhuma lei de
direito autoral diz que roubo
música. Há uma coisa nos EUA
chamada "fair use" que permite
samplear [usar uma frase musical de uma música na constituição de outra] música, desde que
com critério. Mais ou menos,
eles julgam se estou prejudicando um artista ou promovendo-o, o que, acho, é o caso.
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