São Paulo, sexta-feira, 13 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DJ do futuro

Gregg Gillis, o homem-banda Girl Talk, confirma sua presença no Tim Festival e defende o uso de idéias de canções alheias em suas criações, o que, para ele, acontece em "praticamente toda música"

Andrew Strasser/Divulgação
Girl Talk em fotomontagem que retrata o clima de seus shows, nos quais se mistura com o público


LÚCIO RIBEIRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Sim, ele é o músico do futuro. Só que, no caso do DJ e produtor Gregg Gillis, cada vez mais conhecido pelo seu polêmico projeto Girl Talk, o futuro é AGORA. Ele é rock star, rap star e dance star, tudo junto. Não canta nada, e seu instrumento musical não é uma guitarra, e sim um computador laptop Toshiba Satelitte M115.
Suas canções são um apanhado de canções de outros artistas. Está no centro da discussão de direitos autorais na arte e grava CDs pela gravadora Illegal Art. Basicamente, "rouba" músicas dos outros, mas acha que está dentro da lei (veja o resultado em www.myspace.com/girltalkmusic).
Seu mais recente álbum, "Night Ripper" (algo no sentido de "estripador de músicas"), é uma coleção de trechos, batidas, grooves e vocais estripados de canções de 164 artistas. Tudo transformado em 16 músicas novas, agora de "autoria" de Gregg Gillis. Só a faixa "Smash Your Head" é composta de partes de Nirvana, dos punks velhos do X-Ray Spex, dos emos novos do Fall Out Boy, Elton John, Beyoncé, Public Enemy, James Brown e outros. É a cultura pós-moderna do "mash-up", ou "bootleg", coisa que o 2ManyDJs sempre fez na Europa, mas, no caso de Gillis, elevado à enésima potência.
Suas discotecagens são inflamadas, suas performances acabam com ele praticamente sem roupa, e sua lista de fãs inclui figuras díspares como Paris Hilton, Beck, Kanye West, Bjork e 90% dos nerds de música independente dos EUA.
A modernosa revista "Wired" cravou que o rapaz de Pittsburgh de 25 anos, que até o mês passado trabalhava como engenheiro biomédico, é um dos "heróis do mundo conectado". A tenda que abrigou seu show no último Coachella Festival (o maior festival americano de música pop, na Califórnia) estava abarrotada.
E, já que o futuro é agora, a Folha adianta que Gregg Gillis, ou o Girl Talk, é atração da edição 2007 do Tim Festival, em outubro, até agora escalado para tocar apenas na etapa do Rio. E conversou com ele nesta semana, óbvio, por email.

 

FOLHA - Alguma expectativa em tocar no Brasil?
GIRL TALK
- Nunca estive no Brasil antes, portanto, não tenho idéia do que posso encontrar aí. Se minhas performances nos EUA viram verdadeiras festas, não tem por que ser diferente em outro lugar. E tem tanta música boa saindo do Brasil nos últimos tempos, como o CSS e o Bonde do Rolê, que realmente não vejo a hora de saber como as pessoas daí vão reagir ao meu material.

FOLHA - Você tem um trabalho "normal" no dia-a-dia. Como consegue conciliá-lo com a música?
GIRL TALK
- Não consigo mais. Era engenheiro biomédico até o mês passado. Adorava, mas não dava para tocar em Barcelona num fim de semana e na segunda cedo estar de avental, me apresentando para o trabalho. Transformar minhas batidas em ganha-pão é um sonho.

FOLHA - Como define seu estilo? Que tipo de música é essa que sai do seu computador?
GIRL TALK
- Gosto do vago termo de "música baseada em samples" para descrever meu som. Existe sim uma influência de "mash-up" em minha música. Acho que no fim é muito mais que apenas misturar músicas.

FOLHA - Como é ser DJ tão conectado a esta era digital dos MP3s e distribuição on-line?
GIRL TALK
- Nunca me considerei um DJ no sentido tradicional. Mas acho que vivemos uma boa época para a música underground, é fácil estabelecer conexões e se fazer ouvido. Num resumo técnico das coisas, é bom ter acesso a tanta música tão facilmente. Se eu ouvir uma canção e quiser parte dela para o meu trabalho, é só ligar o computador e fazer acontecer.

FOLHA - Sua música é quase toda derivada de outros artistas, alguns bem conhecidos. Como se defende dos que o acusam de roubar música?
GIRL TALK
- Praticamente toda música é derivada de outros artistas. Se você é guitarrista numa banda de rock, toca notas em progressão de um jeito que alguém já fez. Isso num instrumento que não foi você quem inventou. Coloca as notas numa ordem que rearranjou de alguma canção de que gosta, produz num instrumento, contextualiza inserindo outros instrumentos e chama isso de sua criação. É basicamente o que faço também. Nenhuma lei de direito autoral diz que roubo música. Há uma coisa nos EUA chamada "fair use" que permite samplear [usar uma frase musical de uma música na constituição de outra] música, desde que com critério. Mais ou menos, eles julgam se estou prejudicando um artista ou promovendo-o, o que, acho, é o caso.


Texto Anterior: Mônica Bergamo
Próximo Texto: Escalação sai a conta-gotas para se antecipar à web
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.