São Paulo, sexta-feira, 13 de julho de 2007

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Crítica/MPB

Luciana Mello encontra cara própria e lança seu melhor CD

Produzido por Jair Oliveira, disco revela cantora segura e com mais balanço

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Depois de dois discos na gigante Universal, Luciana Mello reaparece mais livre e leve no S de Samba, selo de seu irmão, Jair Oliveira, também produtor de "Nêga". É o melhor dos cinco CDs da cantora e indica que, aos 28 anos, ela tem futuro, algo de que já se podia duvidar, em função das poucas possibilidades abertas pelos trabalhos anteriores.
A faixa de abertura, "Na Veia da Nêga", já tem uma força que mostra outra Luciana, com muito balanço e mais segura. Ela é co-autora do soul de melodia à Motown (a grande gravadora da black music) e letra e interpretação que evocam Elza Soares e Jair Rodrigues (pai da cantora). Gabriel O Pensador participa com um rap próprio.
Outro trunfo é "Galha do Cajueiro", samba do baiano Tião Motorista (1927-1996) que ela recuperou na memória e ganhou nova levada com a programação eletrônica e as guitarras de Jair Oliveira. O CD, aliás, tem nesse trabalho de base de Jair e no uso do baixo (por Robinho ou Serginho Carvalho) a sua competente unidade sonora.

Duplo sentido
"O Samba Me Cantou", no entanto, poderia dispensar a parafernália e ser interpretado como um samba tradicional -Jair chegou um pouco mais perto disso em sua gravação, no CD "Simples". Luciana carrega mais no funk, o que tira um pouco da força metalingüística da música ("O samba me arrastou/ Disseram que eu o cantei/ Mas foi ele quem me cantou"), mas não apaga sua graça.
"Lágrimas de Diamantes", uma das melhores composições de Moska, é outra já gravada que Luciana refaz com brilho próprio, encerrando bem o tempo oficial do CD -ainda há, como faixas-bônus, uma versão do standard pop "Only You" e uma canção com jeito de Marisa Monte, "Borboletas".
A propósito, a balada "Rosas e Mel" também lembra as composições leves de MM: melodia jeitosa e letra para lá de simples. Luciana ainda escorrega em outras canções soul que não fogem à superficialidade poética do gênero. São os casos de "Do Zero" e "Passar por Mim". Comparada a essas, "Língua" (Claudio Lins/Dudu Falcão) se sai melhor ao jogar com o duplo sentido da palavra-título.
A cantora é mais feliz quando corteja a linhagem do funk melody carioca. Em "Pra Você Chegar", as palmas reforçam o movimento sinuoso e dançante da melodia de Edu Tedeschi. Em "Sexta-feira", de Lupa Mabuze, a paulista Luciana entra em clima carioca ao falar de samba e Ipanema. "Bem-me-quer", com participação do autor Thalles, é a que mais remete à escola Motown de soul.
Luciana avança em "Nêga" na busca de ter um lugar próprio na música pop nacional, não sendo mais um pastiche de cantora norte-americana.

NÊGA


Artista: Luciana Mello
Gravadora: S de Samba
Quanto: R$ 23, em média
Avaliação: bom



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