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Crítica/MPB
Luciana Mello encontra cara própria e lança seu melhor CD
Produzido por Jair Oliveira, disco revela cantora segura e com mais balanço
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Depois de dois discos na
gigante Universal, Luciana Mello reaparece
mais livre e leve no S de Samba,
selo de seu irmão, Jair Oliveira,
também produtor de "Nêga". É
o melhor dos cinco CDs da cantora e indica que, aos 28 anos,
ela tem futuro, algo de que já se
podia duvidar, em função das
poucas possibilidades abertas
pelos trabalhos anteriores.
A faixa de abertura, "Na Veia
da Nêga", já tem uma força que
mostra outra Luciana, com
muito balanço e mais segura.
Ela é co-autora do soul de melodia à Motown (a grande gravadora da black music) e letra e
interpretação que evocam Elza
Soares e Jair Rodrigues (pai da
cantora). Gabriel O Pensador
participa com um rap próprio.
Outro trunfo é "Galha do Cajueiro", samba do baiano Tião
Motorista (1927-1996) que ela
recuperou na memória e ganhou nova levada com a programação eletrônica e as guitarras de Jair Oliveira. O CD,
aliás, tem nesse trabalho de base de Jair e no uso do baixo (por
Robinho ou Serginho Carvalho) a sua competente unidade
sonora.
Duplo sentido
"O Samba Me Cantou", no
entanto, poderia dispensar a
parafernália e ser interpretado
como um samba tradicional
-Jair chegou um pouco mais
perto disso em sua gravação, no
CD "Simples". Luciana carrega
mais no funk, o que tira um
pouco da força metalingüística
da música ("O samba me arrastou/ Disseram que eu o cantei/
Mas foi ele quem me cantou"),
mas não apaga sua graça.
"Lágrimas de Diamantes",
uma das melhores composições de Moska, é outra já gravada que Luciana refaz com brilho próprio, encerrando bem o
tempo oficial do CD -ainda há,
como faixas-bônus, uma versão
do standard pop "Only You" e
uma canção com jeito de Marisa Monte, "Borboletas".
A propósito, a balada "Rosas
e Mel" também lembra as composições leves de MM: melodia
jeitosa e letra para lá de simples. Luciana ainda escorrega
em outras canções soul que não
fogem à superficialidade poética do gênero. São os casos de
"Do Zero" e "Passar por Mim".
Comparada a essas, "Língua"
(Claudio Lins/Dudu Falcão) se
sai melhor ao jogar com o duplo
sentido da palavra-título.
A cantora é mais feliz quando
corteja a linhagem do funk melody carioca. Em "Pra Você
Chegar", as palmas reforçam o
movimento sinuoso e dançante
da melodia de Edu Tedeschi.
Em "Sexta-feira", de Lupa Mabuze, a paulista Luciana entra
em clima carioca ao falar de
samba e Ipanema. "Bem-me-quer", com participação do autor Thalles, é a que mais remete
à escola Motown de soul.
Luciana avança em "Nêga"
na busca de ter um lugar próprio na música pop nacional,
não sendo mais um pastiche de
cantora norte-americana.
NÊGA
Artista: Luciana Mello
Gravadora: S de Samba
Quanto: R$ 23, em média
Avaliação: bom
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