São Paulo, segunda, 13 de julho de 1998

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PELO BRASIL
Rodeio é tema do pintor da bovinocultura

RUBENS VALENTE
da Agência Folha, em Campo Grande

Depois de pintar bois generais, satânicos e ameaçadores, bois políticos, bois filósofos, burocratas e eróticos, o artista plástico sul-mato-grossense Humberto Espíndola, 55, lança agora um olhar sobre a imagem do animal como mais tem aparecido na mídia -como montarias de rodeios.
A série "Rodeios" está em exposição no Sesc Horto de Campo Grande (MS) até depois de amanhã, depois de o artista ter ficado três anos sem expor no Estado.
Espíndola, que tem seis irmãos cantores, sendo a mais conhecida sua irmã Tetê, começou a pintar em 1964 em Campo Grande, onde vive até hoje.
Em 1971, sua instalação "Bovinocultura: A Sociedade do Boi", prêmio extra-regulamentar na 11ª Bienal Internacional de São Paulo, deu força à expressão, criada pela escritora Aline Figueiredo, de Cuiabá (MT), e divulgada pelo crítico de arte Frederico Morais, que marcaria a obra do artista.
A bovinocultura de Espíndola tem sido o carro-chefe das artes plásticas mato-grossenses desde 67, segundo a escritora, que o considera "o primeiro artista a refletir e projetar o Brasil Central".
"Era o boi que quebrava, mais uma vez, o silêncio secular de um imenso Brasil interno", descreveu Aline Figueiredo em seu livro "A Propósito do Boi" (1994), a respeito do trabalho de Espíndola.
Espíndola não pintou apenas bois, mas também objetos e símbolos que se relacionam com o animal. Como na série "Rosas", uma leitura sobre o significado do crachá do campeão, que identifica os melhores exemplares da raça.
Na década de 80, Espíndola voltou ao boi, muitas vezes deformando-o, o que foi entendido como "a humanização do boi e a bestialização do homem", como definiu a professora de arte Maria Adélia Menegazzo em seu livro "Alquimia do Verbo e das Tintas na Poética de Vanguarda" (ed. UFMS, 1989).
Em 1992, num longo depoimento para o livro "Memória da Arte no Mato Grosso do Sul", das professoras Maria Adélia, Maria da Glória Sá Rosa e Idara Duncan, Humberto Espíndola definiu-se como um artista "que quer revelar seu tempo".
No início de sua carreira, o tom de crítica social era mais claro, como na série "Pecus/Pecúnia", em que o boi era travestido de milionário, com fraque e cartola.
Os quadros representando bois generais, entre 1968 e 1969, em plena repressão militar, acabaram censurados na Bienal da Bahia de 69 e, segundo Espíndola, "jogados num porão".
A instalação "Bovinocultura: A Sociedade do Boi" -que usou 5.000 crachás de campeão e vegetação de mangue- também foi apresentada na 36ª Bienal de Veneza, em 1972, e acabou imortalizada no livro "Manual de Pintura e de Caligrafia", do escritor português José Saramago.

Exposição: Rodeios Artista: Humberto Espíndola
Onde: Sesc Horto, Horto Florestal de Campo Grande (MS)
Quando: até quarta-feira, das 8h, às 18h
Quanto: grátis



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