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PELO BRASIL
Rodeio é tema do pintor da bovinocultura
RUBENS VALENTE
da Agência Folha, em Campo Grande
Depois de pintar bois generais,
satânicos e ameaçadores, bois políticos, bois filósofos, burocratas e
eróticos, o artista plástico sul-mato-grossense Humberto Espíndola, 55, lança agora um olhar sobre
a imagem do animal como mais
tem aparecido na mídia -como
montarias de rodeios.
A série "Rodeios" está em exposição no Sesc Horto de Campo
Grande (MS) até depois de amanhã, depois de o artista ter ficado
três anos sem expor no Estado.
Espíndola, que tem seis irmãos
cantores, sendo a mais conhecida
sua irmã Tetê, começou a pintar
em 1964 em Campo Grande, onde
vive até hoje.
Em 1971, sua instalação "Bovinocultura: A Sociedade do Boi",
prêmio extra-regulamentar na 11ª
Bienal Internacional de São Paulo,
deu força à expressão, criada pela
escritora Aline Figueiredo, de
Cuiabá (MT), e divulgada pelo crítico de arte Frederico Morais, que
marcaria a obra do artista.
A bovinocultura de Espíndola
tem sido o carro-chefe das artes
plásticas mato-grossenses desde
67, segundo a escritora, que o considera "o primeiro artista a refletir e projetar o Brasil Central".
"Era o boi que quebrava, mais
uma vez, o silêncio secular de um
imenso Brasil interno", descreveu
Aline Figueiredo em seu livro "A
Propósito do Boi" (1994), a respeito do trabalho de Espíndola.
Espíndola não pintou apenas
bois, mas também objetos e símbolos que se relacionam com o
animal. Como na série "Rosas",
uma leitura sobre o significado do
crachá do campeão, que identifica
os melhores exemplares da raça.
Na década de 80, Espíndola voltou ao boi, muitas vezes deformando-o, o que foi entendido como "a humanização do boi e a
bestialização do homem", como
definiu a professora de arte Maria
Adélia Menegazzo em seu livro
"Alquimia do Verbo e das Tintas
na Poética de Vanguarda" (ed.
UFMS, 1989).
Em 1992, num longo depoimento para o livro "Memória da Arte
no Mato Grosso do Sul", das professoras Maria Adélia, Maria da
Glória Sá Rosa e Idara Duncan,
Humberto Espíndola definiu-se
como um artista "que quer revelar seu tempo".
No início de sua carreira, o tom
de crítica social era mais claro, como na série "Pecus/Pecúnia", em
que o boi era travestido de milionário, com fraque e cartola.
Os quadros representando bois
generais, entre 1968 e 1969, em
plena repressão militar, acabaram
censurados na Bienal da Bahia de
69 e, segundo Espíndola, "jogados num porão".
A instalação "Bovinocultura: A
Sociedade do Boi" -que usou
5.000 crachás de campeão e vegetação de mangue- também foi
apresentada na 36ª Bienal de Veneza, em 1972, e acabou imortalizada no livro "Manual de Pintura
e de Caligrafia", do escritor português José Saramago.
Exposição: Rodeios
Artista: Humberto Espíndola
Onde: Sesc Horto, Horto Florestal de
Campo Grande (MS)
Quando: até quarta-feira, das 8h, às 18h
Quanto: grátis
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