São Paulo, terça-feira, 13 de agosto de 2002

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TEATRO

Lançamento é hoje e tem Pia Fraus, Tapa e outros

Livro narra história dos dez anos de palhaçadas dos Parlapatões

MARCELO RUBENS PAIVA
ARTICULISTA DA FOLHA

Palhaçada é coisa séria. Está enganado quem pensa que o grupo Parlapatões, Patifes & Paspalhões, mais conhecido como PPP, sobe ao palco para alardear graça improvisada e jogos malabares.
Há uma extensa pesquisa, ética, dramaturgia calculadamente construída e deferência ao passado, de Piolin a O Gordo e O Magro. Talvez esta seja a explicação para a sobrevida do grupo cujos fundadores, Hugo Possolo e Alexandre Roit -que incorporaram Jairo Mattos e Raul Barretto-, compartilharam a praça da República, em SP, com músicos bolivianos, onde passavam o chapéu.
Hoje, o PPP estrela festivais de teatro no Brasil e no exterior e lota salas de grandes produções. É o que conta o livro "Riso em Cena -°Dez Anos de Estrada dos Parlapatões", de Valmir Santos, 35, repórter da Folha, que, em parceria com o Sesc, é lançado hoje com apresentações do grupo e de convidados, como Tapa e Pia Fraus.
Possolo e Roit eram palhaços no Circo Escola Picadeiro e ministraram oficinas na Escola Livre de Teatro de Santo André antes de formarem o grupo, lembra Santos, que colheu 40 depoimentos para o livro em formato de narrativa e com mais de 260 fotos.
"Quando o grupo me chamou, a idéia era fazer uma longa reportagem. O livro não dissimula certo tom institucional. Tentei contextualizá-lo dentro da história do teatro nacional contemporâneo, sobretudo o teatro dos anos 90, quando o trabalho de grupo retoma fôlego", diz Santos.
O trabalho foi atribulado, já que Roit desligou-se do grupo em janeiro de 2002, durante a temporada de "Pantagruel". "Sua saída, é claro, mobilizou a todos. Foi como o fim de um casamento. Contudo, o projeto não chegou a ser interrompido", afirma.
"Quando comecei, fiquei pasmo com a informalidade até nas horas de ensaio. A palhaçada deixa pouco espaço para a austeridade do fazer teatral. Mas esse ambiente só foi conquistado com a maturidade dos anos", diz Santos.
Os Parlapatões pegaram carona no vagão do novo fazer teatral: Ornitorrinco, Adrúbal Trouxe o Trombone e Manhas e Manias. "Eles encontraram uma identidade que equilibra a tradição do picadeiro, um certo lirismo da lona, com a transgressão das ruas e a corrosão dos bobos da corte."
A partir de 1999, o grupo deixa a rua e o circo e absorve as quatro paredes de um palco tradicional no TBC -cinco textos em 14 meses. Elimina, quase sempre, a quarta delas para interagir com a platéia. "Curioso é que os Parlapatões não conseguem se desvencilhar da relação com o público. É a marca do grupo", afirma.
O teatro brasileiro anda fértil, e o mercado literário corre atrás. Santos lembra que o Teatro da Vertigem acaba de publicar sua história. Grupos como Cia. do Latão, Folias d'Arte e Cemitério de Automóveis já sistematizam, em publicações, o registro de sua arte. "A visibilidade editorial, amarrada à temporada em SP, mais a explosão de dramaturgos com qualidade, a abertura de teatros, a criação de uma lei municipal de fomento ao setor, conspiram para um momento de efervescência."


RISO EM CENA - DEZ ANOS DE ESTRADA DOS PARLAPATÕES. Autor: Valmir Santos. Editora: Estampa. Quanto: R$ 35 (112 págs.). Lançamento: hoje, às 20h30. Onde: teatro Sesc Anchieta (rua Dr. Vila Nova, 245, São Paulo, tel. 0/xx/ 11/3256-2281).



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