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MÚSICA
Gilberto Gil, 62, remodela sucessos sob percussões orgânicas e eletrônicas
Cantor-ministro estréia show elétrico e acústico
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Tal como no tempo tropicalista
em que propunha a incorporação
do rock'n'roll à tradição musical
brasileira, Gilberto Gil volta a embaralhar mundos dispersos no
show "Eletracústico", que estréia
hoje prometendo um duelo de
percussões acústicas e eletrônicas.
Se o artista de 1968 era inventor
em conquista de espaço, hoje o
músico-ministro da Cultura segue risca já trilhada por jovens como Chico Science, Fernanda Porto, Marcelo D2. De pai da invenção, torna-se filho de seus filhos.
Diz que seu novo show é modesto: menos ambicioso, portanto, que o projeto de lei que sob
suas asas vem causando confusões culturais e políticas. "É simples, bastante reduzido, com uma
dimensão sonora moderada", diz.
Sob essa concepção, reuniu os
percussionistas Gustavo di Dalva
e Marcos Suzano, o guitarrista
Sérgio Chiavazzoli, o acordeonista e tecladista Cícero Assis, e só.
A dimensão de provocação ainda resiste, no entanto. Gil diz que
se apropriou do título "Eletracústico" por inspiração de um músico erudito de que não recorda o
nome. "Ele se queixava, num artigo contrariado, de essa música
eletrônica de festa ser chamada de
música eletrônica. Defendia a
concepção eletracústica erudita
contra usos populares abastardadores. Aí me ocorreu chamar o
show de "Eletracústico'", explica.
Promete conceder essa dupla
face a ícones de seu repertório como "Aquele Abraço" (69), "Expresso 2222" (72), a black power
"Refavela" (77), "Toda Menina
Baiana" (79), "A Novidade" (86)
etc., e também a clássicos de Luiz
Gonzaga e John Lennon, Chico
Buarque ("A Rita") e Bob Marley.
Exercendo dupla jornada musical e governamental, o rebelde
que galgou o poder contraria o
mito da preguiça baiana. A metáfora sobre seu dia-a-dia surge ao
comentar a contrariedade da Globo em relação a um projeto de lei
regulador, antimonopolista:
"Elegi acordar cedo para trabalhar, quando poderia contemplar
a preguiça, ficar na cama até as
11h. A regulação me contraria, o
espartano contraria o hedonista.
Todos fazemos regulação natural
em nossas vidas, criando espaço
ético para o outro".
Por falar em ética, o que diria o
ministro aos que vêem sua dupla
jornada como algo reprovável,
antiético? Diria talvez o que diz ao
comentar conflitos de campo ético que rondam o governo Lula:
"É necessária uma reconsideração moral e ética. A pletora de novas questões postas sobre a mesa
humana demanda novas posturas
éticas, flexibilização de visões, um
pouco mais de variedade e um
pouco menos de verdade".
Para exemplificar, pede socorro
à garotada: "Prender estudantes
das universidades que baixam
música pela internet pareceu à sociedade mundial uma exorbitância, antiético em última análise. É
necessário que o justo meio se
mova, saia da rigidez do centro".
Hoje à noite, sobem nesse palco-palanque eletracústico o músico e o ministro. A novidade veio
dar à praia, posicione-se.
ELETRACÚSTICO. Show de Gilberto Gil.
Onde: DirecTV Music Hall (av. Jamaris,
213, Moema, tel. 0/xx/11/6846-6040).
Quando: hoje e amanhã, às 22h, e dom.,
às 20h. Quanto: de R$ 40 a R$ 80.
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