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CRÍTICA
Composições são nada menos do que lindas
DA SUCURSAL DO RIO
Galho nobre do tronco musical de Villa-Lobos, Moacir
Santos sempre preferiu somar a
subtrair. É jazz + tradição nordestina, ponto de macumba + metais
extremamente complexos, samba
+ elementos sinfônicos.
Para um compositor que reciclou de maneira espetacular -e
distante de qualquer sombra de
chavão- sons de origem africana, ressaltar a sua aversão a exclusões musicais tem uma função
quase metafórica, dada a histórica
exclusão social dos negros.
O que impressiona neste "Coisas" é como as somas de Moacir
Santos não resultam em pirâmides de notas, idéias e virtuosismos. Tudo é suave, econômico,
delicado, e ao mesmo tempo teias
de fios infinitos.
Pode-se arriscar, com pouca
chance de errar, que nunca, na
música popular brasileira, foram
feitos arranjos de metais tão magníficos quanto os de "Coisas". Há
temas em que convivem dois
trombones, três saxes, um trompete, uma trompa e uma flauta,
tudo em grande e assimétrica harmonia. Os caminhos dos instrumentos se cruzam sem colisões e
sem perder suas identidades, sobrepondo-se como em camadas.
Dito assim, parece um disco de
músico para músicos, mas não é.
As dez composições de Santos são
nada menos que lindas, simultaneamente -tudo na obra do autor de "Amalgamation" é amálgama- comoventes, vibrantes, cinematográficas, até intimistas.
Em se tratando de uma obra-prima instrumental, as palavras
ficam frágeis. O que vale mesmo é
ouvir, torcer para que os quatro
discos norte-americanos de Santos também voltem em CD e fazer
coro com o que disse seu parceiro
Vinicius de Morais no "Samba da
Benção": "Moacir Santos que não
é um só, mas tantos, tantos como
o meu Brasil de todos os santos".
(LFV)
Coisas
Artista: Moacir Santos
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 35
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