São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2004

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CRÍTICA

Composições são nada menos do que lindas

DA SUCURSAL DO RIO

Galho nobre do tronco musical de Villa-Lobos, Moacir Santos sempre preferiu somar a subtrair. É jazz + tradição nordestina, ponto de macumba + metais extremamente complexos, samba + elementos sinfônicos.
Para um compositor que reciclou de maneira espetacular -e distante de qualquer sombra de chavão- sons de origem africana, ressaltar a sua aversão a exclusões musicais tem uma função quase metafórica, dada a histórica exclusão social dos negros.
O que impressiona neste "Coisas" é como as somas de Moacir Santos não resultam em pirâmides de notas, idéias e virtuosismos. Tudo é suave, econômico, delicado, e ao mesmo tempo teias de fios infinitos.
Pode-se arriscar, com pouca chance de errar, que nunca, na música popular brasileira, foram feitos arranjos de metais tão magníficos quanto os de "Coisas". Há temas em que convivem dois trombones, três saxes, um trompete, uma trompa e uma flauta, tudo em grande e assimétrica harmonia. Os caminhos dos instrumentos se cruzam sem colisões e sem perder suas identidades, sobrepondo-se como em camadas.
Dito assim, parece um disco de músico para músicos, mas não é. As dez composições de Santos são nada menos que lindas, simultaneamente -tudo na obra do autor de "Amalgamation" é amálgama- comoventes, vibrantes, cinematográficas, até intimistas.
Em se tratando de uma obra-prima instrumental, as palavras ficam frágeis. O que vale mesmo é ouvir, torcer para que os quatro discos norte-americanos de Santos também voltem em CD e fazer coro com o que disse seu parceiro Vinicius de Morais no "Samba da Benção": "Moacir Santos que não é um só, mas tantos, tantos como o meu Brasil de todos os santos".
(LFV)


Coisas
    
Artista: Moacir Santos
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 35



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