São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2004

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"MULHER-GATO"

Gata se desequilibra entre um feminismo e o fetiche masculino

DA REPORTAGEM LOCAL

Lá nos anos 40, quadrinhos de super-heróis eram coisas de meninos. É natural, portanto, que, quando criou "Batman", Bob Kane pensasse imediatamente em inventar uma personagem feminina que virasse a cabeça não só do herói, mas principalmente dos milhões de adolescentes que levariam aquelas revistinhas para casa e, quiçá, para o banheiro.
Turbinada pelo feminismo de butique das gerações posteriores, a Mulher-Gato, no entanto, acabou virando uma das personagens de quadrinhos mais admiradas pelas garotas. É essa a anti-heroína que o pouco experiente diretor Pitof traz aos cinemas em "Mulher-Gato", não propriamente uma adaptação literal HQ da DC Comics, mas um filme com Halle Berry trajando couro, chicote e garras de diamante.
Não estamos em Gotham City, Batman não existe, e a futura Mulher-Gato é jeca, estabanada e trabalha numa fábrica de cosméticos às voltas com a criação de um creme milagroso, que proporcionaria "juventude a qualquer custo".
Ao descobrir os efeitos colaterais do creminho, Patience Philips é assassinada e, depois, revivida por um gato misterioso, enviado pela deusa egípcia protetora dos felinos... Daí em diante, a bela vira fera e sai em busca de vingança sobre seus algozes, entre eles, a modelo Laurel Hedare (Sharon Stone), pobrezinha, descartada como um frasco vazio de xampu depois que seu marido arruma uma nova garota-propaganda para o cosmético milagroso.
Isso sem falar no detetive que ficará dividido entre sua paixão pela gatuna e a obrigação de entregá-la à lei. O mesmo dilema vivido por Batman, com uma nem um pouco sutil diferença de estilo: alguém imaginaria o morcegão tendo de encarar uma partida de basquete de rua com a moça para conquistar seu coração? Nem eu.
Assim, enquanto tenta ser um manifesto protofeminista para a mulher moderna, dominadora de homens e ávida por liberdade, "Mulher-Gato", o filme, não passa de um amontoado de obviedades vazias que conseguem, no máximo, aguçar os fetiches dos marmanjos que talvez tenham trocado os gibis pela leitura do jornal no banheiro. (DIEGO ASSIS)


Mulher-Gato
Catwoman
 
Produção: EUA, 2004
Direção: Pitof
Com: Halle Berry, Sharon Stone
Quando: a partir de hoje, no Shopping D, Pátio Higienópolis e circuito



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