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"IGUAL A TUDO NA VIDA"
Woody Allen enfim encontra o Bergman que tanto perseguiu
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Para todos os efeitos, Woody
Allen não é mais um cineasta.
É como aquele velho parente que
de tempos em tempos aparece em
casa para contar suas histórias.
Elas podem ser melhores ou piores, mas já sabemos o que esperar
delas -assim como sabemos o
que oferecer ao velho parente.
Woody é sempre o mesmo e
sempre outro. No quadro do cinema americano é, hoje, quase uma
anomalia: tem seu jeito e não abre
mão dele. Ninguém espere grandes novidades. O tempo de rir
aberto também já passou (o tempo dos dramas soturnos imitando
Bergman também, felizmente).
Hoje, Woody dirige comédias
sobre os dramas da existência cotidiana nova-iorquina. Personagens e situações são recorrentes: o
namorado, a namorada, seus
não-ditos, estratagemas de conquista, manias vocabulares. Há
também o psicanalista, sempre.
Certos hábitos de roteiro, também: a convivência entre homens
e mulheres é um mal-entendido.
No caso de "Igual a Tudo na Vida", há Falk (Jason Biggs), um jovem escritor apaixonado pela impulsiva e talvez impossível Amanda (Christina Ricci). No Central
Park, Falk faz amizade com um
velho escritor, Dobel (Allen).
Ou, para dizer de outro modo,
"Igual a Tudo" é a história entre
um jovem judeu que não sabe dizer não a ninguém e um velho judeu paranóico. Ou ainda, talvez o
filme não seja mais que a dramatização de uma conversa entre o jovem e o velho Woody Allen.
Sempre dialogamos com o que
já fomos, há mais ou menos tempo. Essas conversas costumam ser
um pouco amargas, na medida
em que o velho (o presente) quer
corrigir o passado (o garoto).
Aqui, também, Dobel quer ensinar alguma coisa a Falk. A se livrar das pessoas, por exemplo. E
nisso Dobel parece bem-sucedido, trocando as pessoas -falíveis, racistas, presunçosas- por
um respeitável arsenal doméstico.
Talvez por isso não exista grande espaço para o riso. Esses encontros entre duas gerações de
um mesmo homem tendem à melancolia. Mas, como Woody Allen
é um homem honesto, tendem
também a se revestir de uma inegável dignidade. Existe algo de
profundamente amargo em
"Igual a Tudo na Vida". Talvez seja esse amargor que Woody Allen
buscava nos filmes que fazia à la
Bergman. Mas agora é diferente:
em vez de importar certas experiências, ele parece tê-las vivido.
Woody encontrou o Bergman
que sempre ambicionou ser, mas
ele é um outro: é um judeu nova-iorquino e comediante. Não deixa
de ser uma caminhada e tanto.
Igual a Tudo na Vida
Anything Else
Direção: Woody Allen
Produção: EUA, 2004
Com: Jason Biggs, Christina Ricci
Quando: a partir de hoje nos cines
Bristol, Morumbi e circuito
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