São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2005

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Escritor manauense Milton Hatoum lança terceiro romance

Cinzas que queimam

Emiliano Capozoli B./Folha Imagem
Milton Hatoum, que lança seu novo livro, "As Cinzas do Norte"


JULIÁN FUKS
DA REPORTAGEM LOCAL

Construir com minúcia passados e futuros, medos e anseios, dores e prazeres. Construir a completude de algumas tantas vidas manauaras e a complexidade de seus entrelaços nortistas. Elaborar personagens com nome e sobrenome e conduzi-los enquanto se debatem e se esbatem. Tudo para que depois restem apenas suas cinzas.
O escritor Milton Hatoum é de Manaus, sim, mas não amanuense. Escreve a custo, lentamente, tomando o tempo de que disponha. Para terminar seu último romance, "Cinzas do Norte", lançado pela Companhia das Letras, para elaborar personagens e tramas apenas para depois deitá-los às cinzas, levou quatro anos. E um detalhe: este é apenas o terceiro livro que publica, em quase 30 anos de carreira literária.
Não por acaso, então, se tornou referência para falar sobre a construção do romance, em cursos e palestras por todo o país. Sobre isso e sobre seu novo livro Hatoum fala nesta entrevista à Folha.
 
Folha - "Cinzas do Norte" tem uma abundância de personagens completos, com passado, presente e futuro. Como você os constrói?
Milton Hatoum -
Num romance, bons personagens são fundamentais. O enredo existe através deles, dos conflitos e das relações que criam e mantêm. Faço sempre um esforço no sentido de construir personagens complexos, que nunca sejam acessórios. Até mesmo aos personagens secundários, até mesmo ao cachorro, tentei dar um pouco de relevo. Para isso, os personagens são somatórias de pessoas reais ou de outros romances, além da minha própria imaginação, é claro.

Folha - No livro, um personagem define o artista como "aquele que procura alguma coisa". Você acredita nessa definição?
Hatoum -
É uma das definições possíveis. O artista, no caso da literatura, não tem um lugar cômodo e utilitário no mundo. É uma questão que vem do século 19, com Baudelaire: qual a função da obra de arte no sistema capitalista? O artista é uma espécie de ruído, uma dissidência na sociedade.


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