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GUILHERME WISNIK
Sistema de vazios
Os inúmeros rios e córregos
paulistanos poderiam
assumir um papel de
reestruturação urbana
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COM 42 PISCINÕES implantados,
São Paulo tem previsão para a
construção de mais aproximadamente 90, objetivando reduzir
a ocorrência de enchentes. O problema é de interesse metropolitano,
já que os alagamentos atingem vias
centrais da cidade (sobretudo áreas
próximas aos rios Tietê e Pinheiros),
prejudicando ou até paralisando setores produtivos vitais para a economia urbana.
A bacia hídrica da cidade, no entanto, é formada por uma rede capilar de rios e córregos que vêm de
áreas periféricas. Daí o fato de quase
todos os piscinões se situarem nessas áreas, retardando o fluxo das
águas próximo à sua origem, de modo a substituir o papel das várzeas
que foram impermeabilizadas.
Assim, mesmo em uma cidade que
concentra brutalmente a riqueza,
são previstos investimentos públicos maciços em áreas carentes.
Ocorre que esses gigantescos e áridos equipamentos técnicos, na prática, acabam sendo estorvos para os
moradores do entorno, chegando,
inclusive, a acumular grande quantidade de lixo. Em vez de reestruturar a urbanidade precária desses
bairros, o investimento público termina atuando como fator de desagregação local. O que evidencia a falta de uma visão estratégica que possa, por exemplo, coordenar a política de reurbanização de favelas à de recursos hídricos.
Partindo dessas reflexões, os arquitetos do escritório paulistano
MMBB receberam o primeiro prêmio na última Bienal de Arquitetura
de Roterdã (Holanda), cujo tema era
a cidade contemporânea. Interessada em resgatar o papel propositivo
dos arquitetos face à informalidade
disforme das atuais metrópoles, a
Bienal se contrapõe à obsessão (tão
em moda) de abordá-las sempre por
meio de mapeamentos e índices,
privilegiando enfoques que permitam intervir nas grandes cidades de
modo estratégico e eficaz. Daí a inteligência da reflexão proposta pelo
MMBB.
Se, por um lado, os grandes planos
urbanos já caducaram, as intervenções pontuais (arquitetônicas), por
outro, parecem insuficientes diante
da complexidade de São Paulo. Trata-se, portanto, de agir diretamente
sobre aquilo que de fato constrói a
cidade: a infra-estrutura, uma rede
de caráter sistêmico e dotada de valor público. Convertendo sua eficiência técnica em valor de uso do
espaço nas escalas local e regional.
O MMBB não apresentou um projeto, mas um diagnóstico que ensaia
soluções. Não há dúvida de que o cenário mundial de crescente escassez
de água exigirá um enfrentamento
consistente e articulado dos problemas de drenagem, saneamento e
abastecimento hídrico nas cidades,
envolvendo a implantação de redes
difusas de tratamento de água e esgoto. Os inúmeros rios e córregos
paulistanos poderiam, assim, assumir um papel de reestruturação urbana, desde que os reservatórios de
retenção de água fossem equipamentos híbridos associados, por
exemplo, a parques lineares, equipamentos públicos e habitação. Isto é,
constituindo-se como centralidades
agregadoras de conjuntos urbanos
significativos, na forma sugestiva de
um sistema feito de vazios.
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