São Paulo, sábado, 13 de agosto de 2011

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Vencedora do Goncourt narra o ser estrangeiro

Premiada com principal láurea francesa, Marie Ndiaye lança obra infantil

"A Diaba e Sua Filha" mantém força de seu romance "Três Mulheres Poderosas", ainda inédito no Brasil

ANA PAULA SOUSA
DE SÃO PAULO

Vencedora do Prêmio Goncourt, o mais prestigioso da França, e autora de 15 livros, Marie Ndiaye desconhece a hierarquia das escritas. Para ela, as palavras podem dar em arte em qualquer ambiente: numa narrativa ambiciosa, num livro infantil ou numa peça de teatro. É por isso talvez que o pequeno "A Diaba e Sua Filha", obra infantil, ilustrada, que a Cosac Naify acaba de lançar no Brasil, tenha tanto do belíssimo e árduo romance "Três Mulheres Poderosas", (a sair pela mesma editora).
Em ambos os livros, há a violência do pequeno gesto, a busca do sentido de ser mulher e o sentimento de solidão diante do mundo. Em entrevista à Folha, por e-mail, Ndiaye negou qualquer paralelo intencional entre os dois trabalhos, no fundo tão distintos. Mas diz: "Há temas que voltam em tudo o que escrevo. Simplesmente, não consigo escapar deles".
Nascida em Paris, filha de mãe francesa e de pai senegalês, ela tem como um de seus principais temas o ser estrangeiro, o sentir-se apartado de certo mundo. Refuta, porém, o rótulo étnico que costuma ser colado à literatura de filhos de imigrantes.
"Os autores negros ainda são catalogados como um grupo étnico e cultural, mas talvez alguns deles desejem ser assim percebidos", diz. "Na França, quando se tem sobrenome estrangeiro, é considerado francófono, desde que não faça sucesso. Quando recebe um prêmio, se torna um escritor francês."

POLÍTICA
Crítica feroz da política de Nicolas Sarkozy e voz ativa nos debates sobre identidade na França, Ndiaye deixou o país há quatro anos para viver em Berlim com o marido.
"Na época, quando Sarkozy foi eleito, nos dissemos que não queríamos mais viver na França. A atmosfera não era nada boa", explica. "Acho que está ainda pior agora. Jamais a Frente Nacional [partido de extrema-direita] foi tão forte."
As posições fortes, as decisões capazes de deixar os outros atônitos, acompanham Ndiaye desde a adolescência. Ela tinha apenas 17 anos quando publicou o primeiro romance ("Quando ao Próspero Futuro") e, contra tudo e todos, parou de estudar.
Ela acreditava -e acredita ainda- que os estudos de literatura não são úteis para que alguém se torne escritor. "Para ser escritor, é preciso ler. E eu não queria ser outra coisa além de escritora. Não queria ser professora de letras. Tinha a impressão de que perderia tempo estudando os textos em vez de escrever ou, simplesmente, ler."
Da literatura brasileira, Ndiaye diz conhecer, e admirar muito, os livros de Bernardo Carvalho. Leu ainda Jorge Amado e Clarice Lispector.
Além do infantil "A Diaba e Sua Filha", a editora Cosac Naify publicou no Brasil "Coração Apertado", livro posterior ao Goncourt. Dona de uma escrita complexa, Ndiaye conquistou seu lugar no panteão da literatura francesa contemporânea antes de conhecer o sucesso de público. Mas também esse chegou, após o Goncourt.
"Eu não escrevi esse livro ['Três Mulheres Poderosas'] pensando em alcançar um público mais amplo. O que aconteceu me surpreendeu muito. E eu ainda não entendo muito bem a que se deve esse sucesso."

A DIABA E SUA FILHA
AUTORA Marie Ndiaye
EDITORA Cosac Naify
TRADUÇÃO Paulo Neves
QUANTO R$ 25 (40 págs.)


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