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Anotações de
Hitchcock revelam
método do
diretor
LIA PIMENTA
especial para a Folha, em Nova York
O famoso controle total do trabalho de Alfred Hitchcock já pode ser observado passo a passo. O
lançamento do livro "Hitchcock's
Notebooks", organizado pelo
teórico de cinema de Los Angeles
Dan Auiler, mostra as diferentes
etapas da criação de filmes do diretor, desde o roteiro até a pós-produção. O livro foi lançado pela editora norte-americana Avon
Books e ainda não tem previsão
de uma futura versão brasileira.
O autor teve um longo trabalho
de pesquisa pelas anotações pessoais de trabalho de Hitchcock,
doadas à Academia de Artes e
Ciências Cinematográficas pela
filha do diretor, Patricia. Com comentários e muito material, Auiler tenta reconstruir a forma de
trabalhar do mestre do suspense,
começando pela construção do
roteiro.
Ele mostra que muitas idéias
partiam do próprio diretor e
eram desenvolvidas por ele mesmo e sua mulher, Alma. Depois,
alguns roteiristas eram chamados para a lapidação do roteiro.
As várias versões da cena final
do filme "Suspeita", de 1941, estrelado por Joan Fontaine, podem ser encontradas no livro. O
curioso é que em uma versão o
marido da personagem principal
termina como vilão, e, na outra,
ele se redime e é perdoado. Ninguém sabia qual seria a versão final até poucos dias antes da filmagem.
Hitchcock também gostava de
se basear na literatura, como em
"Rebecca, a Mulher Inesquecível"
e em "Os Pássaros". Mas, no caso
de "Intriga Internacional", a idéia
veio por um caminho totalmente
diferente. O argumento do filme
foi sugerido por meio de cartas
por um jornalista de Nova York.
Também sempre se comentou
muito sobre a interferência dos
produtores na época áurea dos
grandes estúdios de Hollywood.
O livro mostra claramente, por
meio de memorandos e cartas, o
poder dessas pessoas nos filmes
de Hitchcock. O diretor normalmente administrava bem as intervenções, mas, em alguns casos,
a briga ficava feia.
Em "Um Barco e Nove Destinos", de 1943, Darryl F. Zanuck, o
cabeça da 20th Century Fox, escreveu um memorando a Hitchcock criticando o roteiro do filme
e a grande quantidade de diálogos. A resposta foi curta e grossa.
Ele respondeu que nunca havia
escutado tanta besteira em sua
experiência cinematográfica e
que as críticas eram baseadas em
informações ridículas. No final, o
filme acabou ficando ao gosto do
diretor.
Depois do roteiro, Hitchcock
continuava se envolvendo e controlando todos os aspectos da
produção de seus filmes. Discutia
com os estúdios a escolha dos
atores, mas nem sempre conseguia emplacar os de sua preferência (leia nesta página). O livro
ainda contradiz a fama de ele não
se envolver muito com a direção
dos atores.
Uma longa conversa gravada
com Tippi Hedren, a atriz do filme "Os Pássaros", mostra o profundo interesse de Hitchcock no
desenvolvimento do personagem
(leia nesta página).
Os tão famosos storyboards
não poderiam faltar. O diretor
aprendeu a desenhar bem desde
jovem, quando trabalhou em
uma agência de publicidade. Ele
fazia questão de storyboards para
as principais cenas de suspense.
No livro podem ser vistos desenhos de seu próprio punho para
"Os 39 Degraus" e os storyboards
idealizados por ele, mas finalizados por outros artistas, das clássicas sequências de perseguição no
milharal em "Intriga Internacional" e do ataque na escola em "Os
Pássaros".
Hitchcock realmente preparava
tão detalhadamente seus filmes,
que, na hora da filmagem, não tinha muito trabalho. Mas, depois,
se envolvia profundamente na
pós-produção. Mandava cartas
detalhadíssimas para os montadores explicando exatamente os
pontos de cortes e, para os sonoplastas, cada momento de introdução de sons.
Foi assim que acabou brigando
com seu grande contribuidor de
trilhas sonoras, Bernard Hermann. Hitchcock não gostou da
trilha feita para o filme "Cortina
Rasgada", de 1966, e acabou rompendo a parceria (leia abaixo).
As anotações reunidas por Dan
Auiler são bem específicas. É para
quem gosta de cinema e se interessa pela técnica na confecção de
um filme. Um prato cheio para
hitckcockmaníacos.
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