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ELA DISSE
"O Amor É uma Dor Feliz"
da Reportagem Local
Tomo emprestado o título do livro do colunista da Folha aí do lado porque me parece uma tradução adequada para a pseudo-ousadia à qual se propôs a francesa
Catherine Breillat ao roteirizar e
dirigir "Romance". Escritora com
uma séria pesquisa sobre o papel
(argh!) da mulher no mundo contemporâneo, teve seu filme anterior, "Parfait Amour" (1996), incluído na lista dos dez melhores
da revista "Cahiers du Cinéma".
Não vou dizer que Breillat não
tenha acertado em algumas coisas. Afinal, o registro que ela adota para a busca frenética de amor
mais satisfação sexual para sua
Marie, a protagonista do filme, dilacerante, auto-reflexivo e cheio
de culpa, ainda tem eco em grande parte das filiadas ao sexo frágil.
E há, não se pode negar, uma
certa precisão na representação
das fantasias femininas, como a
do sexo pelo sexo, obviamente
com um estranho, "puro desejo",
até há bem pouco tempo um privilégio masculino, ou a da entrega
cega e total, como no sadomasoquismo, contradições de quem
passou boa parte da história disfarçando a força do próprio desejo com a máscara da passividade.
Marie (Caroline Ducey) ama
Paul (Sagamore Stévenin), que
não a "procura" há tempos. Como é de praxe na nossa civilização
judaico-cristã, a autovitimização
feminina a leva a se culpar pela
ausência do desejo de Paul e a tentar de tudo (leia-se felação, uma
concessão que ela só faz para o
homem que ama) para superá-la.
O insucesso a leva à tentativa de
satisfação de seu próprio desejo,
mas de maneira punitiva, com estranhos, violadores ou sadomasoquistas. O importante é que não
haja a possibilidade de intimidade, isso sim, uma traição.
Tudo isso vem numa embalagem requintada, com cara de cinema de arte, diálogos insistentes
e contraditórios, figurinos chiques, cenários idem, e a fotografia
impecável de Yorgos Arvanitis
("A Eternidade e Um Dia").
Essa embalagem se choca com
uma tentativa de pornografia, representada pelo "imponente"
Rocco Siffredi, astro de filmes do
gênero, e pela exposição corajosa
do corpo de Caroline. É nesse
choque que deveria morar o perigo, mas acaba residindo mesmo a
imprecisão da diretora. Suas boas
intenções de colocar a mulher no
controle da sacanagem escorregam em clichês.
Assim como sua câmera se afasta o suficiente das sequências pornográficas, para deixá-las mais
sugeridas do que explícitas (closes
de pênis e de vulva não significam
nada, a não ser para o menos exigente dos "voyeurs"), ela fica em
cima do muro também no que
quer mostrar com isso tudo. Acaba fazendo uma perigosa aproximação entre a utopia do amor e a
fantasia do sexo, segmenta os
componentes da paixão entre os
personagens masculinos, condenando todos à eterna separação.
Tudo bem que cinema vive de
conflito dramático, mas não dava
para tomar o caminho da conciliação? Ainda bem que o grande
barato é que sexos opostos são
contraditórios (dor) e complementares (felicidade). Por isso,
têm apenas de se encontrar. Sem
elucubrações.
(FG)
Avaliação:
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