São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ANÁLISE
Ineficaz, portaria do governo ressuscita símbolo da censura

COLUNISTA DA FOLHA

A única novidade prática de curto prazo da portaria 796, em que o ministro da Justiça, José Gregori, tenta controlar a "baixaria" na televisão, é a adoção de uma versão moderna daquele horrendo slide, do tempo do regime militar, em que as emissoras exibiam, antes de todo programa, uma xerox tosca do certificado da Censura Federal.
Está escrito no artigo 10 da portaria que "nenhum programa de televisão será apresentado sem aviso de sua classificação, exposto de maneira visível, antes e durante a transmissão". Isso lembra muito os slides da dona Solange, famosa censora dos anos 70.
A rigor, o pacote de José Gregori é confuso e, ao mesmo tempo, para inglês ver. É confuso porque não estabelece critérios claros das graduações de sexo e violência. Ao mesmo tempo em que exige a exibição da classificação, dispensa dessa exigência os programas ao vivo -como o de Ratinho.
É para inglês ver porque a classificação determinada pela Secretaria Nacional de Justiça é meramente indicativa, como está escrito no artigo 21 da Constituição Federal. Logo, se é indicativa, ninguém pode ser punido por não cumprir a classificação. Pode, sim, por desrespeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente -o que não é nenhuma novidade e depende de demanda judicial. Como a portaria impede a veiculação de programas em horário diferente do determinado pelo governo, o documento contraria o princípio constitucional do efeito indicativo da classificação.
Outra coisa que não mudou é a classificação de telenovelas e minisséries a partir da apresentação de uma sinopse do programa. Novela das sete da Globo, "Uga Uga" foi considerada imprópria para menores de 12 anos e só deveria ser exibida após as 20h. A Globo recorreu (o recurso continua valendo), assumiu o compromisso de adequá-la para a faixa das 19h (o compromisso da adequação continua existindo) e não aconteceu, por enquanto, nada.
A portaria parece mais um factóide de quem não conseguiu que as próprias redes se regulamentassem. Gregori queria que a portaria impusesse multas às TVs, mas desistiu porque a classificação é meramente indicativa.
(DANIEL CASTRO)



Texto Anterior: Para ministério, medida é uma "apertadinha"
Próximo Texto: Mônica Bergamo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.