JOÃO GILBERTO NOLL

"Começa a escurecer mais tarde, aproxima-se a primavera" -ela repetia baixinho, sentada no banco do parque, à espera de um conforto que parecia especialmente feito pra se esfumaçar. Começava a escurecer mais tarde, era setembro, mas ela já não tinha jeito para nada além de repetir que a primavera vinha vindo... Um jovem sentou-se ao lado. Ela calou a ladainha, essas gotas que quase diluíam a sua permanência eterna a céu aberto. Olhou o cara. Ele a olhava. Tinha uma tatuagem no braço, asas... Ouviu um majestoso ruflar, águia talvez. Estremeceu. Depois, mais nada. Homem nenhum sentara-se ali. Era alto verão em temporal de fim de tarde. Correu, queria se abrigar. Mas preferiu entrar no lago. Sentiu o limo do fundo -vestiria esse veludo para se matar.


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