São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2001

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ARTES PLÁSTICAS

Até o início de 2002, 18 brasileiros mostram trabalho nos EUA

Catunda, com medo de avião, expõe hoje em NY

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

A artista plástica Leda Catunda não sabia bem como ir ontem à montagem de sua própria mostra, que é inaugurada hoje em Nova York. Hospedada há seis quarteirões do World Trade Center, prédio que foi destruído em atentado anteontem, ela dormiu mal de terça para quarta. "Caças passavam pelo céu, nunca sabíamos se mais alguma coisa ia explodir", contou ontem por telefone.
Catunda sentiu os tremores das explosões, viu as torres caírem. "Acho que nunca mais vou poder ver um avião em paz, sempre vou lembrar do que aconteceu", diz a artista. Ontem, no "day after" (dia seguinte), ela teve que caminhar alguns quarteirões para ir até a galeria Ramis Barquet, na rua 57. "Eles resolveram não adiar a mostra. Se fosse no Brasil, ficaríamos uma semana parados, mas aqui todo mundo quer voltar logo ao trabalho", diz.
A artista apresenta uma nova série de obras, feitas para a exposição. "Praia das Cigarras" é uma delas. "Fiz pensando na minha infância e como um contraponto interessante a Nova York", conta.

Guggenheim
A mostra de Catunda é a segunda de uma artista brasileira a ser aberta em Nova York nesta temporada. A primeira foi da artista Sandra Cinto, na semana passada. Até o fim do primeiro semestre de 2002, serão 18 os artistas do país a exporem por lá.
Em parte, essa invasão acontece como evento paralelo à exposição "Brasil: Body and Soul", que a BrasilConnects inaugura no dia 11 de outubro, no Guggenheim da 5ª Avenida. Ela é a itinerância da Mostra do Redescobrimento, que esteve em cartaz no Ibirapuera no ano passado.
Ontem, a BrasilConnects suspendeu por 48 horas o envio de obras para os EUA. "Estamos aguardando. Somente quando tivermos total garantia de segurança as peças começam a ser despachadas", disse ontem Emílio Kalil, diretor da entidade.
A peça com transporte mais complicado, o altar do mosteiro beneditino de Olinda, com 24 toneladas e 14 metros de altura, tem previsão de embarque em duas datas: nos dias 20 e 21. "Por enquanto não vamos alterar nada, é ainda prematura qualquer avaliação", conta ainda Kalil.

Solidariedade
Algumas das mostras em galerias foram estimuladas pela própria BrasilConnects. "Convidamos três personalidades importantes das artes plásticas de Nova York para conhecerem artistas brasileiros e sugerirem seus nomes para galerias", conta Emílio Kalil, diretor da entidade.
Os convidados foram Vick Goldberg, editora de fotografia do "The New York Times", Manuel Gonzalez, curador da coleção do Chase Manhattan Bank, e a curadora independente Clarissa Dalrymple.
Goldberg e Gonzalez preparam juntos uma mostra sobre fotografia brasileira, que deve ser aberta em 2003. Por telefone, de Nova York, o cubano Gonzalez diz que auxilia por solidariedade latino-americana. "A arte brasileira é excelente, as galerias daqui estão com grande expectativa sobre as exposições", diz Gonzalez.
Além das mostras nas galerias e no Guggenheim, também será aberta em outubro, no dia 12, a mostra "O Fio da Trama" no Museo del Barrio. Vinte artistas contemporâneos do país fazem uma mostra paralela à "Brasil: Body and Soul", também com apoio da BrasilConnects.
Nunca tantos brasileiros tiveram tanto espaço em Nova York. A dúvida agora é se todos se aventurarão a ir de avião até lá.



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