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ARTES PLÁSTICAS
Até o início de 2002, 18 brasileiros mostram trabalho nos EUA
Catunda, com medo de avião, expõe hoje em NY
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
A artista plástica Leda Catunda
não sabia bem como ir ontem à
montagem de sua própria mostra, que é inaugurada hoje em Nova York. Hospedada há seis quarteirões do World Trade Center,
prédio que foi destruído em atentado anteontem, ela dormiu mal
de terça para quarta. "Caças passavam pelo céu, nunca sabíamos
se mais alguma coisa ia explodir",
contou ontem por telefone.
Catunda sentiu os tremores das
explosões, viu as torres caírem.
"Acho que nunca mais vou poder
ver um avião em paz, sempre vou
lembrar do que aconteceu", diz a
artista. Ontem, no "day after" (dia
seguinte), ela teve que caminhar
alguns quarteirões para ir até a galeria Ramis Barquet, na rua 57.
"Eles resolveram não adiar a mostra. Se fosse no Brasil, ficaríamos
uma semana parados, mas aqui
todo mundo quer voltar logo ao
trabalho", diz.
A artista apresenta uma nova
série de obras, feitas para a exposição. "Praia das Cigarras" é uma
delas. "Fiz pensando na minha infância e como um contraponto
interessante a Nova York", conta.
Guggenheim
A mostra de Catunda é a segunda de uma artista brasileira a ser
aberta em Nova York nesta temporada. A primeira foi da artista
Sandra Cinto, na semana passada.
Até o fim do primeiro semestre de
2002, serão 18 os artistas do país a
exporem por lá.
Em parte, essa invasão acontece
como evento paralelo à exposição
"Brasil: Body and Soul", que a
BrasilConnects inaugura no dia 11
de outubro, no Guggenheim da 5ª
Avenida. Ela é a itinerância da
Mostra do Redescobrimento, que
esteve em cartaz no Ibirapuera no
ano passado.
Ontem, a BrasilConnects suspendeu por 48 horas o envio de
obras para os EUA. "Estamos
aguardando. Somente quando tivermos total garantia de segurança as peças começam a ser despachadas", disse ontem Emílio Kalil,
diretor da entidade.
A peça com transporte mais
complicado, o altar do mosteiro
beneditino de Olinda, com 24 toneladas e 14 metros de altura, tem
previsão de embarque em duas
datas: nos dias 20 e 21. "Por enquanto não vamos alterar nada, é
ainda prematura qualquer avaliação", conta ainda Kalil.
Solidariedade
Algumas das mostras em galerias foram estimuladas pela própria BrasilConnects. "Convidamos três personalidades importantes das artes plásticas de Nova
York para conhecerem artistas
brasileiros e sugerirem seus nomes para galerias", conta Emílio
Kalil, diretor da entidade.
Os convidados foram Vick
Goldberg, editora de fotografia do
"The New York Times", Manuel
Gonzalez, curador da coleção do
Chase Manhattan Bank, e a curadora independente Clarissa
Dalrymple.
Goldberg e Gonzalez preparam
juntos uma mostra sobre fotografia brasileira, que deve ser aberta
em 2003. Por telefone, de Nova
York, o cubano Gonzalez diz que
auxilia por solidariedade latino-americana. "A arte brasileira é excelente, as galerias daqui estão
com grande expectativa sobre as
exposições", diz Gonzalez.
Além das mostras nas galerias e
no Guggenheim, também será
aberta em outubro, no dia 12, a
mostra "O Fio da Trama" no Museo del Barrio. Vinte artistas contemporâneos do país fazem uma
mostra paralela à "Brasil: Body
and Soul", também com apoio da
BrasilConnects.
Nunca tantos brasileiros tiveram tanto espaço em Nova York.
A dúvida agora é se todos se aventurarão a ir de avião até lá.
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