PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

"Divinos Segredos" é um filme feito por mulheres e dirigido a elas, mas que não tem coragem de mostrar os peitos. Metaforica e literalmente.
Numa das cenas mais importantes, situada no fim dos anos 30, um grupo de amigas adolescentes resolve tirar o sutiã. Elas são "ousadas" e querem experimentar por alguns segundos uma liberdade exclusivamente masculina. Mas toda a mise-en-scène da sequência é feita para esconder os seios das moças.
Da mesma forma, a idéia central da história é desnudar o relacionamento entre mãe e filha, mas a roteirista e diretora Callie Khouri (vencedora de um Oscar pelo roteiro de "Thelma e Louise") parece temer profundamente esse "desnudamento".
Não que todo filme sobre mãe e filha precise ser, necessariamente, um "Sonata de Outono" de Bergman, mas Khouri afasta qualquer possibilidade de complexidade ao tratar "Divinos Segredos" como mero produto.
Não é difícil adivinhar os relatórios de marketing que antecederam o lançamento (e provavelmente a própria produção) de "Divinos Segredos", definindo o público alvo (mulheres de todas as idades) e o plano de mídia (anúncios em revistas femininas, etc, etc). O filme é tão detalhadamente calculado que cada fotograma está impregnado por aquele raciocínio mercadológico que, se levado ao pé-da-letra, subestima e menospreza o público.
Ao fim da sessão, resta algum prazer genuíno graças à dedicação admirável das atrizes que compõem o elenco, principalmente as veteranas.
A opacidade de Sandra Bullock, como a jovem autora de peças de teatro que entra em (nova) crise com a mãe (Ellen Burstyn), é um tanto ofuscada pelas presenças magnéticas e brilhantes de Maggie Smith, Fionnula Flannagan e Shirley Knight, como o trio de amigas de Burstyn dispostas a promover a reconciliação. Elas trazem, com seu talento, alguma sinceridade e humor ao filme.

Divinos Segredos
Divine Secrets of the Ya-Ya Sisterhood   
Direção: Callie Khouri
Produção: EUA, 2002
Com: Sandra Bullock, Ellen Burstyn e Ashley Judd
Quando: a partir de hoje nos cines Anália Franco, Belas Artes, Market Place Cinemark, Metrô Santa Cruz e circuito