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ANÁLISE
Depois de 11/9, TV sofre ataque multimídia
ESTHER HAMBURGUER
CRÍTICA DA FOLHA
Durante a última semana, as emissoras do mundo inteiro transmitiram, retransmitiram e ainda transmitem uma verdadeira inundação de imagens
que ilustram as formas específicas de propagação de um gênero de
performance contemporânea: o
ataque multimídia.
No oceano de informações que
marca a passagem de um ano dos
atentados, o documentário da
MTV americana, exibido no Brasil na quarta, se diferencia. O painel sobre a interferência do evento na indústria cultural americana
reforça a sensação de eficácia das
táticas simbólicas da guerrilha.
David Letterman, entre outros
apresentadores nos EUA, tiveram
seus programas diários suspensos, no ano passado, em razão dos
ataques. É como se ficássemos
dias sem novela na TV.
O "Repórter Record Especial"
transmitiu imagens ao vivo das
cerimônias americanas. A Bandeirantes documentou homenagens oficiais brasileiras. O SBT
exibiu documentário enlatado
com bombeiros, que ganharam
vozes e cacoetes que estamos
acostumados a ver em dramas de
ficção. Além de documentário, o
Discovery mostrou um clipe provavelmente exibido nos países
onde o canal a cabo atua, homenageando sua funcionária vítima.
Devido à celeuma que provocou
há seis meses nos EUA, o destaque ficou com o documentário
"11/09", da CBS, exibido pela Globo e pela GNT. Baseado em material dos irmãos Gaudet, aprendizes na arte cinematográfica, o trabalho exibe imagens raras do interior dos edifícios em chamas.
Mas, além do impressionante
barulho causado pelo impacto no
chão dos corpos que caíam, há
pouco detalhe, porque -justifica
a voz de Robert de Niro, o narrador em off- não é possível filmar
o irrepresentável.
Não houve sangue na cobertura
do 11/9, nem agora, nem há um
ano. Tragédias de Terceiro Mundo em geral merecem tratamento
sensacional. Isso não vale para os
males do Primeiro. É possível que
a reação defensiva enseje novas
técnicas narrativas.
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