PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Lançado em julho, o disco "Do Cóccix Até o Pescoço", de Elza Soares, virou cult da temporada -prova disso é que já está totalmente esgotada a minitemporada de estréia de seu show, de hoje a domingo, no Sesc Vila Mariana.
Mas o disco, orientado pelo estudioso pós-tropicalista Zé Miguel Wisnik, já tem também seus combatentes. Exemplo maior é o sambista ferrenho Nei Lopes, que fez publicar no site "No Mínimo" (www.nominimo.com.br) texto em que critica a mão forte dos produtores do disco e a descaracterização do samba pelo pop no novo trabalho da colega.
À Folha, Nei não quis aprofundar a discussão: "Minha opinião está lá no texto, não tenho interesse em voltar a esse assunto".
Elza, presumidos 65 anos, reage no estilo "paz e amor" às críticas da nata do samba: "Isso é amor demais, acontece quando a gente é muito amado. Gosto muito do Nei, gravei muita coisa dele, mando um beijo para ele. Tomara que vá me ver no show em São Paulo".
Um pouco para além do slogan "paz e amor", Elza esboça opiniões sobre a nada inédita discussão em torno de sua relação "impura" com o samba: "Já fiz muita coisa na vida, graças a Deus existem essas divergências. Não ligo, há gente que não gosta de Cristo e duvida de Deus. Todo tipo de crítica tem de ser lida e ouvida".
Críticas à parte, o novo disco será mostrado na íntegra no show, inclusive com as inéditas presenteadas a Elza por Chico Buarque, Caetano Veloso, Jorge Ben Jor, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown.
De seu repertório clássico, ela repesca "O Neguinho e a Senhorita" (Noel Rosa de Oliveira), "Lama" (Paulo Marques) e "Mas Que Nada" (Jorge Ben). De Nelson Cavaquinho, que em entrevista em julho Elza afirmava querer cantar "com raiva", nada está previsto.
De resto, a cantora cuida de guardar segredo sobre o show "Do Cóccix Até o Pescoço", repetindo apenas que ele incluirá "muitas surpresas". Uma das prometidas, a co-direção da artista pop Rita Lee com Gringo Cardia, foi concretizada apenas como "colaboração".
"É tão feliz falar na Rita Lee", despista, admitindo que elas nem chegaram a se encontrar na elaboração do espetáculo. "Não havia a necessidade de encontrar. Estou em alfa, feliz, emocionada. Um show é um show, é uma volta de quem nunca saiu", comemora.