São Paulo, quinta-feira, 13 de setembro de 2007

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"Elas cantam melhor", diz compositor

Para Quito Ribeiro, no entanto, o resultado é exatamente o que foi imaginado quando o próprio autor interpreta sua criação

Edu Krieger, Plinio Profeta e Rodrigo Maranhão são alguns dos outros compositores que fornecem músicas para estrelas da MPB

DA REPORTAGEM LOCAL

Eles dizem não sonhar em vender milhares de discos nem almejar vocais tão bons quanto os das cantoras que gravam suas músicas. Mas acham que, na voz do compositor, as canções têm algo "mais em casa".
"A Roberta Sá canta muito mais do que eu, pelo amor de Deus. Eu tenho semancol", diz o baiano Quito Ribeiro, 36, que lançou em agosto o CD "Uma Coisa Só" (independente) e cuja música "Mais Alguém", parceria com Moreno Veloso, entrou no recente disco da cantora. "Elas cantam melhor. Mas a gente grava as músicas exatamente do jeito que imaginou, então entra também uma questão mais pessoal aí", avalia.
"Não tem como comparar Chico Buarque com Maria Bethânia cantando Chico Buarque. Os dois são legítimos", afirma Edu Krieger, filho do maestro Edino Krieger.
Eles e os outros jovens compositores sabem que o caminho das pedras para shows é mais difícil. "Busco não comparar porque, se a gente compara, acaba se frustrando", diz Rodrigo Maranhão, 26, um dos mais conhecidos dessa geração -principalmente depois que Maria Rita incluiu suas músicas "Caminho das Águas" e "Recado" no álbum "Segundo" (2005). Ambas estão no disco do compositor, "Bordado" (MP,B), lançado em maio.
O novo CD da cantora não tem nenhum samba do carioca. "Nos falamos, mas eu não estava com nada bacana pra mandar pra ela". Focado no seu próprio disco, diz, tem criado menos. "É o lado ruim da coisa."
"Bordado", que ganhou distribuição da Universal, vendeu 2.000 cópias nos dois primeiros meses. "Estou soltando foguete", diz Maranhão. Como Ribeiro, Krieger e Plinio Profeta, diz que gravou o disco mais para ter um registro.

Produção "natural"
Sem a mesma facilidade de divulgação que as intérpretes de suas músicas, os compositores acreditam levar ao menos uma vantagem durante a elaboração de seus próprios CDs.
Amigos e parceiros de outros compositores, acham o processo de produção mais "natural" que o intermediado por grandes gravadoras -embora estas sejam sempre um objetivo no que diz respeito a distribuição.
"Meu CD é isso, são pessoas que eu conheço, meus amigos", resume o multiinstrumentista e DJ Profeta, 38, que fez produção musical para Katia B, Fernanda Abreu, Pedro Luís e a Parede, Lenine, De Leve e outros.
"Produzindo discos de outras pessoas, a gente sempre ouve aqueles "vamos chamar não sei quem", pessoas que não têm nada a ver com o artista que está gravando. Esse papo aqui não teve nada a ver. Houve quem sugerisse colocar o Marcelinho da Lua na capa do meu CD, mas falei que não. Dou o crédito e fico feliz com a participação, mas não é esse o chamariz."
Profeta lançou, em agosto, o álbum "Plinio Profeta Vol. 1", cuja lista de convidados inclui Da Lua, Xis, Davi Moraes e Selton Mello -o ator, a quem conheceu ao criar a trilha da peça "Zastrozzi", improvisou um texto que virou base para a música "Para Tarantino Ouvir".
"Ter lançado o disco me ajudou, por exemplo, a marcar uma miniturnê pela Europa. Agora, eu não tenho nenhuma ambição de vender não sei quantos mil discos, até porque eu não compro mais discos. Quis foi fazer o meu antes que o CD deixe de existir", diz.

Parcerias
Como os quatro compositores vivem no Rio e freqüentam os mesmos cenários, inevitavelmente as parcerias coincidem. Davi Moraes, por exemplo, participa também do álbum de Quito Ribeiro.
Nascido em Salvador, Ribeiro mudou-se para a capital fluminense depois de sua estréia na voz de uma grande cantora, Daniela Mercury -"Domingo no Candeal", parceria com Lucas Santtana, entrou no disco "Música de Rua" (1994). Desde então, compôs para Katia B, Ivete Sangalo, Gal Costa e Gilberto Gil, entre outros.
Em seu próprio álbum, em que busca "desconstruir o samba-reggae", preferiu privilegiar canções inéditas. A exceção é "Braço de Mar". Ribeiro compôs a música no início dos anos 2000 pensando em incluí-la em seu próprio disco, mas ele demorou tanto a sair que Jussara Freire gravou antes.
(RAQUEL COZER)


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