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"Elas cantam melhor", diz compositor
Para Quito Ribeiro, no entanto, o resultado é exatamente o que foi imaginado quando o próprio autor interpreta sua criação
Edu Krieger, Plinio Profeta
e Rodrigo Maranhão são alguns dos outros compositores que fornecem músicas para estrelas da MPB
DA REPORTAGEM LOCAL
Eles dizem não sonhar em
vender milhares de discos nem
almejar vocais tão bons quanto
os das cantoras que gravam
suas músicas. Mas acham que,
na voz do compositor, as canções têm algo "mais em casa".
"A Roberta Sá canta muito
mais do que eu, pelo amor de
Deus. Eu tenho semancol", diz
o baiano Quito Ribeiro, 36, que
lançou em agosto o CD "Uma
Coisa Só" (independente) e cuja música "Mais Alguém", parceria com Moreno Veloso, entrou no recente disco da cantora. "Elas cantam melhor. Mas a
gente grava as músicas exatamente do jeito que imaginou,
então entra também uma questão mais pessoal aí", avalia.
"Não tem como comparar
Chico Buarque com Maria Bethânia cantando Chico Buarque. Os dois são legítimos",
afirma Edu Krieger, filho do
maestro Edino Krieger.
Eles e os outros jovens compositores sabem que o caminho
das pedras para shows é mais
difícil. "Busco não comparar
porque, se a gente compara,
acaba se frustrando", diz Rodrigo Maranhão, 26, um dos mais
conhecidos dessa geração
-principalmente depois que
Maria Rita incluiu suas músicas "Caminho das Águas" e
"Recado" no álbum "Segundo"
(2005). Ambas estão no disco
do compositor, "Bordado"
(MP,B), lançado em maio.
O novo CD da cantora não
tem nenhum samba do carioca.
"Nos falamos, mas eu não estava com nada bacana pra mandar pra ela". Focado no seu próprio disco, diz, tem criado menos. "É o lado ruim da coisa."
"Bordado", que ganhou distribuição da Universal, vendeu
2.000 cópias nos dois primeiros meses. "Estou soltando foguete", diz Maranhão. Como
Ribeiro, Krieger e Plinio Profeta, diz que gravou o disco mais
para ter um registro.
Produção "natural"
Sem a mesma facilidade de
divulgação que as intérpretes
de suas músicas, os compositores acreditam levar ao menos
uma vantagem durante a elaboração de seus próprios CDs.
Amigos e parceiros de outros
compositores, acham o processo de produção mais "natural"
que o intermediado por grandes gravadoras -embora estas
sejam sempre um objetivo no
que diz respeito a distribuição.
"Meu CD é isso, são pessoas
que eu conheço, meus amigos",
resume o multiinstrumentista
e DJ Profeta, 38, que fez produção musical para Katia B, Fernanda Abreu, Pedro Luís e a Parede, Lenine, De Leve e outros.
"Produzindo discos de outras
pessoas, a gente sempre ouve
aqueles "vamos chamar não sei
quem", pessoas que não têm nada a ver com o artista que está
gravando. Esse papo aqui não
teve nada a ver. Houve quem
sugerisse colocar o Marcelinho
da Lua na capa do meu CD, mas
falei que não. Dou o crédito e fico feliz com a participação, mas
não é esse o chamariz."
Profeta lançou, em agosto, o
álbum "Plinio Profeta Vol. 1",
cuja lista de convidados inclui
Da Lua, Xis, Davi Moraes e Selton Mello -o ator, a quem conheceu ao criar a trilha da peça
"Zastrozzi", improvisou um
texto que virou base para a música "Para Tarantino Ouvir".
"Ter lançado o disco me ajudou, por exemplo, a marcar
uma miniturnê pela Europa.
Agora, eu não tenho nenhuma
ambição de vender não sei
quantos mil discos, até porque
eu não compro mais discos.
Quis foi fazer o meu antes que o
CD deixe de existir", diz.
Parcerias
Como os quatro compositores vivem no Rio e freqüentam
os mesmos cenários, inevitavelmente as parcerias coincidem. Davi Moraes, por exemplo, participa também do álbum de Quito Ribeiro.
Nascido em Salvador, Ribeiro mudou-se para a capital fluminense depois de sua estréia
na voz de uma grande cantora,
Daniela Mercury -"Domingo
no Candeal", parceria com Lucas Santtana, entrou no disco
"Música de Rua" (1994). Desde
então, compôs para Katia B,
Ivete Sangalo, Gal Costa e Gilberto Gil, entre outros.
Em seu próprio álbum, em
que busca "desconstruir o samba-reggae", preferiu privilegiar
canções inéditas. A exceção é
"Braço de Mar". Ribeiro compôs a música no início dos anos
2000 pensando em incluí-la
em seu próprio disco, mas ele
demorou tanto a sair que Jussara Freire gravou antes.
(RAQUEL COZER)
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