São Paulo, domingo, 13 de setembro de 2009

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Comentário

Personagem de Tim Roth precisa ter mais carisma

BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA

Adrian Monk tem memória fotográfica, a Alison Dubois de "Medium" usa poderes sobrenaturais e os embusteiros de "Psych" fingem ser sensitivos. Columbo e Baretta provavelmente não entenderiam o fenômeno, mas, hoje, o detetive da TV que não vier com um predicado a mais será solenemente ignorado pelo público.
Nessa linha, "Engana-me se Puder" apostou no dr. Cal Lightman (Tim Roth), estudioso do comportamento humano que é uma espécie de detector de mentiras ambulante. Ele disseca expressões faciais e linguagem corporal usando todos os tipos de "iEngenhocas" e consegue "ler" em questão de minutos o que você e eu precisamos de uma vida para entender sobre o próximo.
Aprendemos no primeiro episódio que o doutor trabalhava para o Departamento de Defesa norte-americano e há seis anos saiu para montar sua empresa, que agora presta serviços para a polícia, o governo federal e grandes companhias. Os casos que ele atende são os de sempre: menino de família de fanáticos religiosos é acusado de matar a professora; mulher soldado alega que o sargento a estuprou; e jogador de basquete é suspeito de aceitar propina.
O diferencial é que o dr. Lightman dá verdadeiras aulas ao telespectador de como pegar um mentiroso no pulo. Intercalando imagens dos seus suspeitos com gente de carne e osso, ele ensina, por exemplo, que quando Bill Clinton usou a expressão "Eu não fiz sexo com aquela mulher", referindo-se à Monica Lewinsky, o ex-presidente nos deu uma pista de que estava mentindo. Segundo o Dr. Lightman, o uso da expressão "aquela mulher", em vez de, digamos, "dona Monica" é o que os estudiosos de comportamento chamam de "linguagem de distanciamento", um recurso muito empregado por candidatos a Pinóquio.
O "psychobabble" do dr. Lightman é a única coisa que realmente interessa no seriado, uma vez que o inglês Tim Roth, em sua estreia na TV norte-americana, não consegue conquistar como dr. Lightman. Roth já vem de fábrica com aquele mesmo problema de Gary Oldman: a despeito de ser ótimo ator, por algum motivo misterioso, metade do planeta o odeia antes mesmo que ele abra a boca em cena. Neste caso, o seu dr. Lightman carece de um ingrediente fundamental: ele chega a fazer piruetas na tela tentando, mas não consegue ser sexy. E personagem esquisito de seriado, com quem o público terá de conviver por anos a fio, não pode prescindir desse tipo de carisma.


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