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Comentário
Personagem de Tim Roth precisa ter mais carisma
BARBARA GANCIA
COLUNISTA DA FOLHA
Adrian Monk tem memória
fotográfica, a Alison Dubois de
"Medium" usa poderes sobrenaturais e os embusteiros de
"Psych" fingem ser sensitivos.
Columbo e Baretta provavelmente não entenderiam o fenômeno, mas, hoje, o detetive
da TV que não vier com um predicado a mais será solenemente
ignorado pelo público.
Nessa linha, "Engana-me se
Puder" apostou no dr. Cal
Lightman (Tim Roth), estudioso do comportamento humano
que é uma espécie de detector
de mentiras ambulante. Ele
disseca expressões faciais e linguagem corporal usando todos
os tipos de "iEngenhocas" e
consegue "ler" em questão de
minutos o que você e eu precisamos de uma vida para entender sobre o próximo.
Aprendemos no primeiro
episódio que o doutor trabalhava para o Departamento de Defesa norte-americano e há seis
anos saiu para montar sua empresa, que agora presta serviços
para a polícia, o governo federal
e grandes companhias. Os casos que ele atende são os de
sempre: menino de família de
fanáticos religiosos é acusado
de matar a professora; mulher
soldado alega que o sargento a
estuprou; e jogador de basquete é suspeito de aceitar propina.
O diferencial é que o dr.
Lightman dá verdadeiras aulas
ao telespectador de como pegar
um mentiroso no pulo. Intercalando imagens dos seus suspeitos com gente de carne e osso,
ele ensina, por exemplo, que
quando Bill Clinton usou a expressão "Eu não fiz sexo com
aquela mulher", referindo-se à
Monica Lewinsky, o ex-presidente nos deu uma pista de que
estava mentindo. Segundo o
Dr. Lightman, o uso da expressão "aquela mulher", em vez de,
digamos, "dona Monica" é o
que os estudiosos de comportamento chamam de "linguagem
de distanciamento", um recurso muito empregado por candidatos a Pinóquio.
O "psychobabble" do dr.
Lightman é a única coisa que
realmente interessa no seriado,
uma vez que o inglês Tim Roth,
em sua estreia na TV norte-americana, não consegue conquistar como dr. Lightman.
Roth já vem de fábrica com
aquele mesmo problema de
Gary Oldman: a despeito de ser
ótimo ator, por algum motivo
misterioso, metade do planeta
o odeia antes mesmo que ele
abra a boca em cena. Neste caso, o seu dr. Lightman carece de
um ingrediente fundamental:
ele chega a fazer piruetas na tela tentando, mas não consegue
ser sexy. E personagem esquisito de seriado, com quem o público terá de conviver por anos
a fio, não pode prescindir desse
tipo de carisma.
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