DA ENVIADA A VENEZA

"Lope" é filme de época, de aventura e de amor.
Passada na Espanha do século 16, a história de Lope de Vega é tratada, por Andrucha Waddington, com indisfarçável romantismo.
Desde o primeiro momento em que aparece em cena, Lope, vivido pelo ator argentino Alberto Ammann, é enquadrado como herói. Jovem talentoso e sedutor que volta para Madri depois de ter lutado como soldado na guerra, ele decide, no momento em que a história começa, passar a viver de sua arte.
Waddington parece fascinado, primeiro, pela história do grande escritor que viveu de modo aventuresco e, depois, pela própria grandiosidade do projeto.
"Eu sabia que não podia ficar alcoolizado por tudo aquilo, pelos atrativos do filme de época", diz o cineasta, citando o risco do qual acredita ter escapado.

TÉCNICA
Acontece que "Lope" é, em muitos momentos, puro cenário e ação.
É como se Waddington, ao experimentar esse novo gênero cinematográfico, não tivesse resistido à armadilha de exibir a própria habilidade técnica.
Não por acaso, o filme cresce, sobretudo, nas cenas mais íntimas e nas discussões sobre o papel da arte e a função do artista.
"Se fosse vivo hoje, Lope de Vega seria uma espécie de David Bowie", compara o diretor. "Ele quis fazer comédias, mas sabia que isso não significava falta de profundidade. Hoje, tentar ser um artista popular é algo que, em alguns círculos, passou a ser visto com temor", diz, saindo em defesa de Lope, mas também de si mesmo.
Ponto forte de "Lope" é o elenco. Quando a aventura deixa espaço para a dramaturgia respirar, Ammann e as atrizes Leonor Watling e Pilar López de Ayala reforçam o talento para a direção de atores que Waddington já havia mostrado em "Eu Tu Eles" e "Casa de Areia".
Há, ainda, os brasileiros Selton Mello e Sonia Braga com pequenas, mas precisas participações. (APS)