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"Existe crise na Itália", diz atriz de Pasolini
Adriana Asti estrela montagem de Bob Wilson para texto de Beckett em Porto Alegre
MARCOS GRINSPUM FERRAZ
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
"Dias Felizes" era a peça
mais aguardada do 17º Festival Porto Alegre em Cena não
apenas por ser uma obra de
Samuel Beckett (1906-1989) e
montada pelo renomado diretor americano Bob Wilson.
No palco, interpretando a
já clássica Winnie, estava
ninguém menos que a atriz
dos filmes "Rocco e Seus Irmãos" (1960), de Luchino
Visconti, "Antes da Revolução" (1964), de Bernardo Bertolucci, "O Fantasma da Liberdade" (1974), de Luis Buñuel, entre outros, de Pasolini, Vittorio de Sica etc.
Aos 77 anos, a italiana
Adriana Asti teve de voltar
três vezes ao palco para que
cessassem os aplausos da
plateia após a segunda das
três apresentações que fez no
festival, na sexta-feira.
No dia seguinte, se dizendo emocionada e feliz com a
generosidade do público brasileiro, Asti falou à Folha sobre seu trabalho.
"Me identifico com a Winnie. E, quando apresento a
peça, sinto que todas as mulheres são um pouco a Winnie", diz, sobre a personagem falante e otimista que,
mesmo com o corpo quase
todo enterrado, não se deixa
abater em sua rotina.
Sobre trabalhar com Bob
Wilson, ela conta: "É um privilégio, porque ele não é só
um diretor. É um inventor,
um criador de cenas e imagens incríveis".
LINGUAGENS
Com vasta carreira em cinema e teatro, Asti diz não ter
preferência por uma ou outra
linguagem, mas apenas sentir que geram vivências absolutamente diferentes.
"No teatro, é um prazer poder receber esse afeto do público na hora. No cinema as
coisas se dão muito depois.
Mas não significa que um seja melhor que o outro."
E continua: "No cinema,
se o roteiro é belo e o diretor
bom, é incrível. Se o roteiro
for ruim e o diretor medíocre,
será horrível. No teatro é a
mesma coisa, mas, por algum motivo, é mais raro ver
diretores medíocres no teatro
do que no cinema".
E são os filmes ruins, na visão de Asti, os que predominam no cinema italiano hoje
em dia.
Para ela, o cinema no país
vive profunda decadência, o
que a faz sentir saudades de
diretores como Visconti, Pasolini e Vittorio de Sica.
"Existe uma crise na cultura e na economia italiana. Como o cinema é muito ligado à
economia do meu país, ele
também sofre com esse mau
momento."
O jornalista MARCOS GRINSPUM FERRAZ
viajou a convite do Porto Alegre em Cena.
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