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EVERYTHING BUT THE GIRL
Quem mandou resvalarem no sublime ?
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Dupla pop
britânica
acostumada
a se adaptar a
alguma tendência que
esteja em vigor em cada época
de sua carreira, Everything But
the Girl -Ben Watt mais Tracey Thorn- volta após três
anos absorto numa semiconversão que nada guarda de surpreendente.
"Temperamental", seu novo
disco, que a Virgin brasileira
promete jogar nas lojas em
poucas semanas, namora como nunca segmentos específicos da música eletrônica, passo
natural numa linha do tempo
afeita aos modismos que partiu
da "new bossa" -MPB européia- e brincou de dance music nos 90.
No lapso entre o forte "Walking Wounded" (96) e este
"Temperamental", os dois músicos travaram contato próximo com drum'n'bass, deep
house, trip hop; fizeram música com Adam F, Deep Dish,
Tricky; Watt regularizou a atividade de DJ.
"Temperamental" vem todo
embebido nesse caldo. "Blame" conta com a participação
de J Majik, do Metalheadz, e
"The Future of the Future" tem
música e programação de Deep
Dish. Não à toa, são das faixas
mais distantes do espírito cool
que sempre predominou no
Everything But the Girl.
A nova onda se espalha por
todo o CD, caindo mais pesada
no trip hop de "Hatfield"
-um tanto monótona- ou
no drum'n'bass histérico de
"Compression" -em que, por
força do gênero, os vocais de
Tracey, um dos trunfos do
Everything But the Girl, fica na
sobra.
Mais à moda antiga, eles
soam meio "discothèque" muito sintetizada em "Temperamental" (em que, aqui sim, a
voz da moça, deliciosa, é o foco).
No todo, "Temperamental" é
um exemplar de inadaptação
relativa. Os rumos do pop não
escapam aos tentáculos da dupla -não escapam, em geral,
de quem está sempre disposto
a correr atrás da moda.
Ainda assim, a simbiose
ocorreu apenas de forma parcial. Há muito um disco do
Everything But the Girl não tinha tantas canções tediosas,
parcialmente resolvidas -é o
caso de "Downhill Racer", "Five Fathoms", "Lullaby of Clubland".
Após um período em que pareciam ter depurado seus pontos de contato com a delicadeza
pop, que rendeu a excelência
de "Walking Wounded" e,
mesmo antes, de "Amplified
Heart" (94), o EBTG fica desta
vez no meio do caminho.
Não há nada com a contundência de "Missing" (94) ou
"Wrong" (96). Nada é inaceitável em "Temperamental", mas
ninguém mandou eles terem,
antes, resvalado no sublime.
Não foi desta vez.
Avaliação:
Disco: Temperamental
Banda: Everything But the Girl
Lançamento: Virgin
Quanto: R$ 18, em média
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