São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 2000

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TEATRO
Espetáculo tem texto do autor romeno Matëi Visniec
"Pequenos Trabalhos para Velhos Palhaços" estréia em São Paulo

DA REPORTAGEM LOCAL

A melhor cena de "Pequenos Trabalhos para Velhos Palhaços" é protagonizada pelo público. Quem garante é seu diretor, André Paes Leme. Não convém descrevê-la, mas o espectador, diz ele, experimenta uma sensação de retorno à infância perdida, ainda que o texto trate principalmente da velhice.
O espetáculo entra em cartaz hoje no Centro Cultural São Paulo, vindo de temporada no Rio precedida de estréia nacional na última edição da mostra paralela (Fringe) do Festival de Curitiba.
É a primeira montagem brasileira do texto do autor romeno Matëi Visniec, que teve sua obra premiada na mostra off do Festival de Avignon, quatro anos atrás.
Na ocasião, o ator Alexandre David estava na cidade francesa, assistiu ao espetáculo, entrou em contato com Visniec e pediu-lhe autorização para traduzir a peça e montá-la no Brasil.
David convidou Augusto Madeira e Claudio Simões para os três papéis, além de Paes Leme para a direção.
Em "Pequenos Trabalhos...", o reencontro de três palhaços -Filipeto, Nicolau e Pepino- serve para rememorar os melhores momentos do ofício, pontuados pela amizade. Num segundo momento, porém, eles são levados de volta à realidade e têm de disputar entre si a vaga para "um velho palhaço", anunciada em um jornal.
"É quando os três percebem que estão num lugar decadente, opressivo, à espera do teste. Trocam elogios e se digladiam ao mesmo tempo, por conta da necessidade de sobreviver", afirma o ator Cláudio Simões, 31.
Pepino, o mais velho, adora recitar Shakespeare. Nicolau, o mais jovem, é especializado em pantomimas. Filipeto é um grande ilusionista. Cada um em sua habilidade, eles tentam abocanhar o ganha-pão.
O questionamento que assombra os personagens é o seguinte: o que um velho palhaço pode oferecer senão seus velhos números?
Não bastasse a crise social, deparam com a própria crise do picadeiro. Cambalhotas, tropeções, tortas no rosto e o nariz vermelho, enfim, o território mágico do "ventre de lona" ainda é capaz de comover alguém?
Para o diretor, constitui também uma metáfora do fazer artístico em todas as áreas. "O texto coloca o riso e o choro lado a lado, sem ser melodramático ou excessivamente romântico", diz Paes Leme, 34.
A montagem brasileira acrescenta um prólogo interativo no qual os três atores realizam um sorteio de dados, com a cumplicidade da platéia, para ver quais papéis irão interpretar (eles ensaiaram para assumir qualquer um dos personagens).
Paes Leme afirma que "Pequenos Trabalhos..." deu novo alento à carreira de 10 anos. Ele, que montou recentemente a comédia "A Capital Federal", se vê entusiasmado pelo trabalho de pesquisa de ator. "Eu tinha medo de abrir mão do espetacular e, nesta montagem, expomos a criação artesanal do ator, a coragem para o risco no revezamento de personagens a cada noite", diz o diretor.
No próximo mês, o espetáculo vai participar do Festival de Teatro Português em Paris, quando o autor Visniec deverá assisti-lo pela primeira vez.
(VS)

Peça: Pequenos Trabalhos para Velhos Palhaços
Autor: Matëi Visniec
Diretor: André Paes Leme
Com: Alexandre David, Augusto Madeira e Claudio Mendes
Quando: estréia hoje, às 21h30; sex. e sáb., às 21h30; dom., às 20h30. Até 5/11
Onde: Centro Cultural São Paulo - sala Paulo Emílio Salles Gomes (r. Vergueiro, 1.000, tel. 0/xx/11/3277-3611)
Quanto: R$ 10 (R$ 0,75 dia 20/10)


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