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CRÍTICA
Filme usa pistola do deboche
DO ENVIADO AO RIO
Não acredite no que diz o diretor John Waters, na entrevista ao
lado, quando ele fala em atirar pedras no cinema independente e
no cinemão comercial.
"Cecil B. Demente", seu mais
recente trabalho, pode até resvalar na ironia aos filmes marginais
tão caros a sua carreira, mas o alvo continua sendo o de sempre: a
indústria de Hollywood. Sem dó
nem piedade.
E, 28 anos depois de "Pink Flamingos", Waters mostra invejável
forma.
Verdadeiro épico da ação, espécie de "Duro de Matar" às avessas
devolvido na fuça de Hollywood,
"Cecil B. Demente" é um filme sobre cineasta-terrorista que apela
ao crime em nome da produção
marginal, definição que explora
bem os significados do adjetivo.
O cineasta é o Cecil do título,
um Waters encarnado, mas, segundo o próprio, com menos senso de humor.
Cecil (Stephen Dorff) lidera
uma jovem equipe de adoradores
do cinema cult, fãs de Otto Preminger e Pedro Almodóvar, que
pegam em armas para sabotar
uma pré-estréia beneficente de
um "blockbuster".
A intenção vai além: os terroristas do cinema querem mesmo é
sequestrar a estrela do filme, a mimada e esnobe Honey Whitlock
(Melanie Griffith).
Os meliantes da sétima arte não
exigem resgate: apenas impõem à
atriz a participação da filmagem
de uma produção independente
de 16mm, cujo roteiro envolve
uma trupe de fanáticos por filmes
cult, pornô e de kung fu perseguindo com paus e pedras (e tiros) cineastas, produtores, exibidores e público do circuito comercial.
Cecil, Honey e a gangue, cujos
membros têm tatuados no corpo
os nomes de Spike Lee, Sam Peckimpah, Fassbinder e Andy Warhol, seguem a cartilha terrorista
do autodenominado grupo "celibatários do celulóide".
Tomam as salas multiplex, arruinam as filmagens de "Gump
Again", continuação hipotética
de "Forrest Gump", querem interferir com cortes na "versão do
diretor" de "Patch Adams", sucesso de Robin Williams.
Tiozinho
Em época de irmãos Farrely
(sem nenhum desmerecimento
aos brothers), um filme como o
de John Waters pode até soar como anarquismo de fachada. Waters, com seu bigode ralinho e sua
indumentária de cineasta dos
anos 50, parece até mesmo um
tiozinho que leva petelecos na cabeça da molecada fã de Beavis e
Butt-Head.
Mas a essência do mau gosto inteligente está aqui, em cada minuto dos 88 que dura "Cecil B. Demente".
O filme não é o "mais radical"
de Waters e suas idéias às vezes
estão além do resultado de cena.
Mas é um bom veículo para uma
gargalhada, enquanto "Patch
Adams Director's Cut" e "Forrest
Gump 2" não chegam às telas.
Cecil B. Demente
Cecil B. Demented
Direção: John Waters
Produção: EUA, 2000
Quando: amanhã, Espaço Unibanco 1,
Rio de Janeiro
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