São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2001

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LIVRO/LANÇAMENTO

"MARIE ANTOINETTE: THE JOURNEY"

Mulher de Harold Pinter, britânica escreveu sobre Maria dos escoceses e Henrique 8º

Antonia Fraser une glamour e guilhotina

ANTONIO BIVAR
ESPECIAL PARA A FOLHA

A hora de Antonia Fraser foi em uma tarde de maio no festival literário na fazenda Charleston. Verão campestre inglês, a tenda lotada e todos em suspense aguardando a "honorable" lady Antonia. O título da palestra: "Glamour and Guillotine". Ela irá falar de seu mais recente "tour de force", a biografia da rainha Maria Antonieta.
Entre seus livros, estão "As Seis Esposas de Henrique 8º" e "Mary, a Rainha dos Escoceses". Antonia Fraser também vem de alta estirpe. Seu pai, morto em agosto último, foi o sétimo conde de Longford, figura excêntrica e controversa na alta sociedade britânica, político, banqueiro e editor.
Fraser era casada com um membro do Parlamento, sir Hugh Fraser, e tinha seis filhos quando, em 1975, ocorreu o "coup de foudre" entre ela e o dramaturgo Harold Pinter, de origem pobre, mas já o melhor autor teatral inglês.
Fraser e Pinter abandonaram seus respectivos casamentos e estão juntos e felizes até hoje.
Diana Reich, a apresentadora, entra com Antonia Fraser. Aplausos. Reich avisa que a autora vai falar 40 minutos. A primeira impressão: ela é uma aristocrata. Sessenta e nove anos, bem tratada, denotando um feminino autocultivo de boneca loura sexy. Mas, se a boca é carnuda, sensual, o semblante é humano e distinto, e os olhos, profundos e cultos.
Veste um conjunto azul quase lilás. Brinco e colar de pérolas. Sapato branco de bico bege. De pé, no púlpito, suas primeiras palavras: "Este é um evento importante porque é a primeira palestra que faço sobre meu novo livro, "Marie Antoinette: The Journey". Vocês são minhas cobaias".
Seu charme inicial é de modéstia. Segue: "Por que Marie Antoinette? São 22 anos desde que publiquei a biografia de outra Maria, a dos escoceses. Não queria mais escrever sobre outra rainha trágica. Mas li cartas dela há 32 anos. E sempre quis escrever sobre Maria Antonieta. Ela é muito diferente da Maria dos escoceses".
E vai contando. Coincidências. "Tive lições de francês, leio os jornais franceses, investi em francês." Pergunta: "Será que a controversa rainha, cuja vida, romântica e dramática, que misturou extravagância e futilidade com alta cultura, apoio e sustento às artes, mereceu o trágico destino?". Fraser, muito calma, toma água e continua.
Maria Antonieta era apolítica. Não fez muito pela monarquia, não tinha esse ideal. Era volátil, frívola e fazia "shopping" como compensação pelo casamento mal resolvido e pelas vibrações negativas vindas da corte. Foi patrona das artes. Encomendou móveis. Fraser fala de lugares criados a partir da idéia da beleza e cita Charleston.
E chega a hora de a autora responder às perguntas do público. Maria Antonieta foi um caráter romântico. Como biógrafa, Fraser a interpretou de acordo com a época (hoje). A roda precisa girar. As biografias francesas sobre Maria Antonieta são na maioria hostis. Como se ela fosse vápida. E tem a de Stefan Zweig.
E avisam que só dá tempo para mais uma pergunta. Alguém pergunta se o livro será publicado na França. Sim. Mas, aos editores franceses que a procuraram, Fraser respondeu "non"!


Antonio Bivar é escritor, dramaturgo e autor de "O que É Punk", entre outros


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