São Paulo, sábado, 13 de outubro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Bin Laden é Pajeú", diz Zé Celso

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Em cartaz no Oficina com a remontagem de "Bacantes" e em pleno processo de ensaios de "Os Sertões", adaptação do romance de Euclydes da Cunha, o diretor José Celso Martinez Corrêa, 64, explica, por e-mail, como relaciona os últimos acontecimentos com o seu teatro. (VS)

Folha - O sr. acredita ser possível estabelecer pontes entre as trajetórias históricas de Bin Laden e Antônio Conselheiro, o líder da resistência do Arraial de Canudos contra a República, em 1897?
José Celso Martinez Corrêa -
Bin Laden seria mais um Pajeú ou João Abade, os chefes mais ardilosos militares de Canudos, um Pajeú pós-moderno, armado, ensinado pela CIA no combate aos soviéticos. Antônio Conselheiro se assemelharia mais ao Omar, líder religioso e político do Taleban.
Polarizam o quase impossível "outro" nesta fase totalitária do terror capitalista global unitário.
Canudos isolou-se inicialmente porque não queria contato, nem nada com a guerra, mas foi levada pelo fanatismo fundamentalista republicano positivista a armar-se para defender a rocha viva da nacionalidade brasileira. Apesar de todos os seus combatentes morrerem, continuou nas favelas, no MST, nos sem-teto, nos estudantes, professores etc.

Folha - Como assimilar em cena as rupturas e transformações que estão sendo desenhadas? O teatro pode cumprir esse papel?
Zé Celso -
O teatro, mais que nunca, está com o poder extraordinário de vivenciar as contradições violentas que dificilmente se exprimem como ideologia ou tomada de partido. No teatro, estamos parodiando a tragicomediorgya que vivemos.
Compreendemos que tudo começou quando as bases militares, para defender o petróleo, se instalaram em torno das Mecas do Islã sem a compreensão do que isto significava para os povos muçulmanos. O secretário municipal de Planejamento, Jorge Wilheim, tem essa cegueira, disse que não era importante libertar o simbolismo do Oficina como um beco sem saída, pois o simbolismo não quer dizer nada na pragmática do urbanismo de São Paulo. Os acontecimentos de hoje me fizeram perceber mais o fundamentalismo positivista ocidental do tudo por dinheiro.


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Meia-entrada para professores é debatida em SP
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.