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"Bin Laden é Pajeú", diz Zé Celso
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Em cartaz no Oficina com a remontagem de "Bacantes" e em
pleno processo de ensaios de "Os
Sertões", adaptação do romance
de Euclydes da Cunha, o diretor
José Celso Martinez Corrêa, 64,
explica, por e-mail, como relaciona os últimos acontecimentos
com o seu teatro.
(VS)
Folha - O sr. acredita ser possível
estabelecer pontes entre as trajetórias históricas de Bin Laden e Antônio Conselheiro, o líder da resistência do Arraial de Canudos contra a República, em 1897?
José Celso Martinez Corrêa - Bin
Laden seria mais um Pajeú ou
João Abade, os chefes mais ardilosos militares de Canudos, um Pajeú pós-moderno, armado, ensinado pela CIA no combate aos soviéticos. Antônio Conselheiro se
assemelharia mais ao Omar, líder
religioso e político do Taleban.
Polarizam o quase impossível
"outro" nesta fase totalitária do
terror capitalista global unitário.
Canudos isolou-se inicialmente
porque não queria contato, nem
nada com a guerra, mas foi levada
pelo fanatismo fundamentalista
republicano positivista a armar-se para defender a rocha viva da
nacionalidade brasileira. Apesar
de todos os seus combatentes
morrerem, continuou nas favelas,
no MST, nos sem-teto, nos estudantes, professores etc.
Folha - Como assimilar em cena
as rupturas e transformações que
estão sendo desenhadas? O teatro
pode cumprir esse papel?
Zé Celso - O teatro, mais que
nunca, está com o poder extraordinário de vivenciar as contradições violentas que dificilmente se
exprimem como ideologia ou tomada de partido. No teatro, estamos parodiando a tragicomediorgya que vivemos.
Compreendemos que tudo começou quando as bases militares,
para defender o petróleo, se instalaram em torno das Mecas do Islã
sem a compreensão do que isto
significava para os povos muçulmanos. O secretário municipal de
Planejamento, Jorge Wilheim,
tem essa cegueira, disse que não
era importante libertar o simbolismo do Oficina como um beco
sem saída, pois o simbolismo não
quer dizer nada na pragmática do
urbanismo de São Paulo. Os
acontecimentos de hoje me fizeram perceber mais o fundamentalismo positivista ocidental do
tudo por dinheiro.
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