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TEATRO
Roberto Lage dirige drama do escritor japonês protagonizado por Bárbara Paz e inspirado na mulher do marquês
Peça de Mishima lança olhar feminino sobre Sade
VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
A mulher mantém-se fiel a todo
custo. O marido passa 18 anos na
prisão, acusado pelos crimes de
"sodomia e corrupção de costumes". Tratou mendigas, prostitutas e quejandos com bombons e
chicotes. Mas, quando Donatien
Alphonse François, o marquês de
Sade, é colocado em liberdade, a
marquesa Renée o abandona em
troca da reclusão de um convento. Por quê? A prisão aliviava o
ciúme? A mulher via nisso um auto de fé? Masoquismo?
O escritor japonês Yukio Mishima especula o enigma em "Madame de Sade" (trad. de Darci Kusano), drama que ganha montagem
de Roberto Lage em São Paulo, no
Centro Cultural Banco do Brasil
(CCBB-SP).
Tomando como base o livro "A
Vida do Marquês de Sade", de
Tatsuhiko Shibusawa (1928-87),
Mishima intuía que algo incompreensível, mas revelador da verdadeira natureza humana, estava
por trás daquele gesto de Renée.
Elegeu-a protagonista, aqui em
interpretação da atriz Bárbara
Paz, desafiada a outro registro
que não o do conhecido talento
como comediante. A marquesa
surge ao lado de outras duas personagens reais: sua mãe, madame
de Montreuil (por Imara Reis), o
império da lei e da moral; e sua irmã, Anne (Jerusa Franco), a candura e a falta de princípios. Mishima criou ainda mais três papéis
fictícios para projetar um olhar feminino sobre o pensamento de
Sade, entre o sagrado e o profano:
a religiosa baronesa de Simiane
(por Maria do Carmo Soares); a
pervertida condessa de Saint-Fond (Tania Castelo); e a criada
Charlotte (Denise Cecchi), representante do povo nessa história de
nobrezas nem tantas.
Trajes de razão
"Senti-me obrigado a dispensar
totalmente os efeitos de cena comuns e triviais e controlar a ação
exclusivamente através dos diálogos; as colisões de idéias tiveram
que criar a forma do drama; as de
sentimentos tiveram que ser inteiramente exibidos em trajes de razão", diz Mishima no prefácio da
peça que escreveu cinco anos antes de cometer o haraquiri (matar-se com uma espada no ventre), em 1970.
Os três atos compreendem 18
anos do século 18, até meses depois da Revolução Francesa. A
ação se passa no salão de madame
de Montreuil, em Paris. Desenrola-se um jogo de dissimulações e
alianças espúrias que Lage recorta
para o plano da estilhaçada política brasileira e seus vícios. A criada
fica o tempo todo em cena, como
se o povo espreitasse constantemente os acordos e discussões da aristocracia.
Madame de Sade
Quando: estréia amanhã (para
convidados); sáb. e dom., às 19h30. Até
11/12
Onde: CCBB-SP (r. Álvares Penteado,
112, centro, tel. 0/xx/11/3113-3651)
Quanto: R$ 15
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