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Crítica/rock
Mars Volta mistura ritmos e questiona religião em bom CD
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem cresceu ouvindo
música punk sente asco do rock progressivo
da mesma forma que o Diabo
foge da cruz. Não é por afetação
artística então que um sujeito
como o vocalista e letrista da
banda norte-americana The
Mars Volta, Cedric Bixler-Zavala, 31, fique irritado com o rótulo sempre associado ao seu
grupo, que acaba de lançar o
terceiro CD, "Amputechture",
álbum que questiona a religião.
"Não vestimos capas, não falamos sobre "Dungeons & Dragons" [RPG]", diz Zavala à Folha. "A maioria das bandas
progressivas são entediantes;
nós viemos do punk, temos um
elemento ao vivo que tem mais
a ver com hardcore."
A confusão não é por menos.
Se há algum rótulo aplicável ao
Mars Volta, é o de uma das bandas mais intrigantes e inclassificáveis da atualidade. Algumas
músicas extrapolam 15 minutos de duração, e poucas delas
são lineares -o novo disco, que
traz a participação do guitarrista maluco beleza John Frusciante, do Red Hot Chili Peppers, é quase uma longa jam
session. Numa mesma faixa,
entram elementos do heavy
metal -como os vocais agudíssimos-, salsa, free jazz, hardcore e, sim, rock progressivo e
seu intrincado instrumental.
As letras escondem metáforas
em inglês e espanhol. Anteriormente, ainda abraçaram o formato de álbuns conceituais.
Neste novo disco, a banda
-que tocou no Tim Festival de
2004- preferiu contar histórias independentes, mas unidas de alguma forma por uma
idéia de deslocamento. Para
Zavala, filho de mexicano, e seu
parceiro de banda, Omar Rodriguez-Lopez, nascido em
Porto Rico, temas como o peso
da religião e imigração são particularmente próximos.
"Vi na televisão uma história
sobre uma freira romena que
foi morta porque se acreditava
que ela estava possuída pelo
Diabo", conta Zavala. Ela foi
amarrada em uma cruz por um
monge. "Essa é a fórmula de
como as religiões organizadas
reprimem a mulher. Seja entre
católicos, judeus, ou qualquer
outro grupo, a impressão é de
que a mulher é sempre tratada
como um corpo, mesmo que
sem ela você não tivesse vindo
ao mundo. A religião é a causa
das guerras no mundo."
Banda que concilia e faz a
ponte entre estilos tão distantes como o punk e o progressivo, o Mars Volta é uma saudável anomalia no cenário. "O estado da música é entediante
hoje porque o público e os críticos querem sempre mais do
mesmo. Eles não entendem o
que é diferente, e, se você não
dá o básico, você confunde os
outros. Não há problema em
não entender; eu mesmo não
entendo direito o que faço."
AMPUTECHTURE
Artista: The Mars Volta
Lançamento: Universal
Quanto: R$ 35, em média
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