especial para a Folha

A imagem da capa diz tudo. Um português, o compositor e pianista de jazz Mário Laginha, encara a tradição musical africana -interpretada por outra lusitana ligada ao universo jazzístico, a cantora Maria João.
O conceito do álbum "Cor" nasceu de uma proposta feita a esses artistas, em 1997, pela comissão que preparava as comemorações dos cinco séculos das descobertas marítimas portuguesas. A idéia era recriar, por meio da música, o percurso das embarcações lusitanas pelo Oceano Índico.
Parceiros há oito anos (dos três CDs que gravaram só "Fábula", de 1996, chegou ao Brasil), Maria João e Laginha decidiram viajar a Moçambique e à Índia para colher o material musical que inspirou as nove composições do disco, todas assinadas pela dupla.
Para acompanhá-los nas gravações, João e Laginha convidaram dois músicos também ligados ao jazz: o violonista austríaco Wolfgang Muthspiel e o percussionista indiano Trilok Gurtu (que se apresenta em São Paulo, nesta quinta-feira, no Anexo Domus).
Quem conhece os trabalhos anteriores de João e Laginha vai logo notar que "Cor" é uma conexão natural na trajetória da dupla. Se antes inspiraram-se no fado, no tango ou mesmo na música brasileira, desta vez absorvem influências africanas e indianas.
A idéia de viagem musical é assumida: "Horn Please" abre o disco, como um canto religioso crivado por buzinas de automóveis e motocicletas. Essa referência urbana retorna na faixa final, a delicada "A Forbidden Love Affair", recheada por sons de cítara, percussão e improvisos vocais.
Típicas da dupla, as faixas "Há Gente Aqui" e "Saris e Capulanas" intrigam pelo ritmo frenético com que voz e piano se misturam. Mais pop, "Nlonge Yamina" soa como um funk africano.
Maria João e Mário Laginha sugerem outra vez que, no jazz, o importante não é o que se toca (ou se funde), mas como se faz. (CC)
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Disco: Cor Artistas: Maria João e Mário Laginha Lançamento: Verve/PolyGram Quanto: R$ 22 (em média, importado)


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