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ANO 2000
Leibovitz vira do avesso o 'erótico de bom gosto'
BOB WOLFENSON
especial para a Folha
A fotógrafa Annie Leibovitz, já
inscrita no olimpo das celebridades do século, convidada a fotografar "nus femininos" para o calendário da Pirelli Internacional,
versão 2000, feitos em anos anteriores por fotógrafos como Richard Avedon, Bruce Weber e Sarah Moon, realiza a encomenda
pelo avesso.
Apesar de o convite ser baseado
no currículo espetacular de Annie, essa é a armadilha comum
nos trabalhos do tipo "artístico-comercial". As imagens de nus femininos e também masculinos,
assim como de miseráveis olhando para a câmera, são o que há de
mais desgastado, banal e clichê.
Realizar tal empreitada deu a
Annie a sensação de ser aceita no
exclusivo "clube dos homens".
Ela não foi onde o povo está, fotografou as mulheres sujeitos/objetos de suas fotos quase como
um taxidermista, recortou-as,
dissecou-as e aplicou uma textura
sobre seus corpos já fotografados
com muita densidade que não os
deixou assim diríamos, palatáveis, frustrando as expectativas
dos masturbadores de plantão.
Sua alquimia fundiu referências
renascentistas a um olhar feminino, engajado, apolíneo e profundamente anglo-saxão, o oposto
da sensualidade tropical, dionisíaca brasileira.
Annie disse em coletiva que se
sentia pressionada pelo dilema
nus femininos x integridade, dignidade da mulher e só havia uma
forma de resolver isto, com simplicidade e sob ideais clássicos.
Aceitou o desafio, nunca havia
fotografado nus femininos. Suas
fotos das lindas tops Alek Web,
Letícia Casta, da atleta Jacquie Agyepung e de várias bailarinas superaram a encomenda de realizar
um calendário erótico de "bom
gosto" e talvez figurarão nas paredes dos museus por seu valor artístico e como amostra da ambiguidade da indústria cultural.
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