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Arquiteto deseja fazer projeto de museu no Brasil
Frank O. Gehry
Divulgação
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Museu Guggenheim de Bilbao, na Espanha, verdadeira meca dos amantes da arte |
Responsável pelo prédio do Guggenheim em Bilbao diz que interesse da fundação pelo Brasil é importante para o intercâmbio artístico entre a América Latina e os EUA
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FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
"Eu não sei o que estou fazendo
aqui", surpreendeu-se o arquiteto
Frank O. Gehry ao encontrar-se,
na última sexta, no Rio. Convidado pelo presidente da Fundação
Guggenheim, Thomas Krens, um
dos mais importantes arquitetos
na virada do milênio veio acompanhar a comitiva de nove pessoas para escolher o local da sede
do museu no Brasil.
Gehry é o arquiteto do Guggenheim de Bilbao (Espanha), inaugurado há três anos. O museu tornou-se rapidamente a meca dos
amantes das artes, em três anos
atraiu mais de 3 milhões de visitantes, e um ícone da integração
entre arquitetura e espaço local.
"Não sei o que aconteceu lá, acho
que tive ajuda lá de cima", brincou Gehry, apontando para o céu,
ao tentar explicar as razões do sucesso de sua obra.
Também é do arquiteto o projeto do novo Guggenheim em
Manhattan (NY). Apesar de já ter
sido exposto ao público norte-americano, Gehry não está satisfeito com o que fez. "Odiei o resultado final. Fizemos às pressas por
questões de marketing, mas acho
que é bem possível que ele não se
concretize", diz.
Ao entardecer da última sexta,
na piscina do Copacabana Palace,
o arquiteto concedeu uma entrevista exclusiva à Folha, enquanto
devorava 19 pequenas coxinhas,
após um dia de visitas exaustivas,
o que incluiu voar a Angra dos
Reis, onde molhou os pés no mar.
Leia a seguir os melhores trechos.
Folha - O senhor vai projetar o
Guggenheim do Rio?
Frank O. Gehry - Isso depende do
Thomas Krens. Ele me convidou
para acompanhá-lo e não sei o
porquê. Mas estou enamorado
pelo país. É, apenas, o mais bonito
que já conheci. Não sei como, em
72 anos, eu nunca estive aqui,
apesar dos vários convites para
conferências. Quero voltar. Quero
morar aqui (risos).
Folha - O que o sr. acha da idéia
de construir um Guggenheim aqui?
Gehry - A idéia de ter relações
com a América do Sul me parece
muito importante para uma instituição com intenções de intercâmbio artístico como o Guggenheim. Tornei-me envolvido com
a América Latina por meio de minha mulher, que é panamenha.
Vivo em Los Angeles, o que é outra maneira de envolvimento com
essa cultura.
Os EUA estão vivendo uma crise estes dias, que acredito que seja
resultado de uma divisão racial
que dividiu o país pela metade.
São os últimos dias da "pureza
branca", que sempre fascinou a
América, o que é muito saudável.
Por isso, a interação cultural é
muito excitante, certamente há
muita arte produzida na América
Latina que devemos conhecer e
vice-versa. E Krens tem uma
mente aberta para possibilitar isso. Quando começamos Bilbao
nos chamavam de loucos e, com a
queda do Muro de Berlim, ele foi
criar um museu lá.
Folha - Mas o senhor gostaria de
projetar o museu?
Gehry - Eu só me envolvo em
projetos de lugares e pessoas que
eu gosto. Obviamente, eu gosto de
Tom Krens. Eu me interesso muito por arte contemporânea, como
exibi-la, disseminá-la. A vida, pelo meu casamento, tornou-me
parcialmente latino-americano,
me sinto absolutamente à vontade aqui, e esta cidade é tão linda.
O que mais posso dizer?
Folha - Após tantas visitas, o senhor já sabe onde seria o melhor lugar?
Gehry - Não tenho certeza. Eu
gosto da idéia de criar edifícios
que tenham relação com a comunidade e de ter a oportunidade de
transformá-la para uma vivência
melhor. Não me parece possível
alcançar isso colocando um edifício no Forte de Copacabana. Lá já
é tudo perfeito, lindo demais.
Folha - O arquiteto Rem Koolhas
o considera um "flamboyant". O sr.
se sente confortável com isso?
Gehry - Muito. Busco com minha arquitetura criar uma relação
irônica com o mundo, não de espelhá-lo, mas de provocar um
diálogo jocoso. Faço arquitetura
como resposta ao tempo a que
pertenço, sem olhar para trás,
mas para buscar maneiras de expressar o presente, com a esperança de que seja útil no futuro.
Busco inspiração em outras artes, literatura, música, e um diálogo com a natureza. Adoro a relação com as pessoas no projeto,
mais do que quando está terminado. Procuro aproveitar tanto a
viagem para a festa, quanto a festa. Tento não me levar muito a sério, sou apenas uma pessoa fazendo um edifício, que não é o mais
importante no mundo. Acredito
que não há regras para arquitetura, apenas algumas básicas, como
gravidade, burocracia e orçamento. A partir daí, tudo é liberdade.
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