São Paulo, segunda-feira, 13 de novembro de 2000

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Arquiteto deseja fazer projeto de museu no Brasil

Frank O. Gehry
Divulgação
Museu Guggenheim de Bilbao, na Espanha, verdadeira meca dos amantes da arte




Responsável pelo prédio do Guggenheim em Bilbao diz que interesse da fundação pelo Brasil é importante para o intercâmbio artístico entre a América Latina e os EUA
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

"Eu não sei o que estou fazendo aqui", surpreendeu-se o arquiteto Frank O. Gehry ao encontrar-se, na última sexta, no Rio. Convidado pelo presidente da Fundação Guggenheim, Thomas Krens, um dos mais importantes arquitetos na virada do milênio veio acompanhar a comitiva de nove pessoas para escolher o local da sede do museu no Brasil.
Gehry é o arquiteto do Guggenheim de Bilbao (Espanha), inaugurado há três anos. O museu tornou-se rapidamente a meca dos amantes das artes, em três anos atraiu mais de 3 milhões de visitantes, e um ícone da integração entre arquitetura e espaço local. "Não sei o que aconteceu lá, acho que tive ajuda lá de cima", brincou Gehry, apontando para o céu, ao tentar explicar as razões do sucesso de sua obra.
Também é do arquiteto o projeto do novo Guggenheim em Manhattan (NY). Apesar de já ter sido exposto ao público norte-americano, Gehry não está satisfeito com o que fez. "Odiei o resultado final. Fizemos às pressas por questões de marketing, mas acho que é bem possível que ele não se concretize", diz.
Ao entardecer da última sexta, na piscina do Copacabana Palace, o arquiteto concedeu uma entrevista exclusiva à Folha, enquanto devorava 19 pequenas coxinhas, após um dia de visitas exaustivas, o que incluiu voar a Angra dos Reis, onde molhou os pés no mar. Leia a seguir os melhores trechos.

Folha - O senhor vai projetar o Guggenheim do Rio?
Frank O. Gehry -
Isso depende do Thomas Krens. Ele me convidou para acompanhá-lo e não sei o porquê. Mas estou enamorado pelo país. É, apenas, o mais bonito que já conheci. Não sei como, em 72 anos, eu nunca estive aqui, apesar dos vários convites para conferências. Quero voltar. Quero morar aqui (risos).

Folha - O que o sr. acha da idéia de construir um Guggenheim aqui?
Gehry -
A idéia de ter relações com a América do Sul me parece muito importante para uma instituição com intenções de intercâmbio artístico como o Guggenheim. Tornei-me envolvido com a América Latina por meio de minha mulher, que é panamenha. Vivo em Los Angeles, o que é outra maneira de envolvimento com essa cultura.
Os EUA estão vivendo uma crise estes dias, que acredito que seja resultado de uma divisão racial que dividiu o país pela metade. São os últimos dias da "pureza branca", que sempre fascinou a América, o que é muito saudável. Por isso, a interação cultural é muito excitante, certamente há muita arte produzida na América Latina que devemos conhecer e vice-versa. E Krens tem uma mente aberta para possibilitar isso. Quando começamos Bilbao nos chamavam de loucos e, com a queda do Muro de Berlim, ele foi criar um museu lá.

Folha - Mas o senhor gostaria de projetar o museu?
Gehry -
Eu só me envolvo em projetos de lugares e pessoas que eu gosto. Obviamente, eu gosto de Tom Krens. Eu me interesso muito por arte contemporânea, como exibi-la, disseminá-la. A vida, pelo meu casamento, tornou-me parcialmente latino-americano, me sinto absolutamente à vontade aqui, e esta cidade é tão linda. O que mais posso dizer?

Folha - Após tantas visitas, o senhor já sabe onde seria o melhor lugar?
Gehry -
Não tenho certeza. Eu gosto da idéia de criar edifícios que tenham relação com a comunidade e de ter a oportunidade de transformá-la para uma vivência melhor. Não me parece possível alcançar isso colocando um edifício no Forte de Copacabana. Lá já é tudo perfeito, lindo demais.

Folha - O arquiteto Rem Koolhas o considera um "flamboyant". O sr. se sente confortável com isso?
Gehry -
Muito. Busco com minha arquitetura criar uma relação irônica com o mundo, não de espelhá-lo, mas de provocar um diálogo jocoso. Faço arquitetura como resposta ao tempo a que pertenço, sem olhar para trás, mas para buscar maneiras de expressar o presente, com a esperança de que seja útil no futuro.
Busco inspiração em outras artes, literatura, música, e um diálogo com a natureza. Adoro a relação com as pessoas no projeto, mais do que quando está terminado. Procuro aproveitar tanto a viagem para a festa, quanto a festa. Tento não me levar muito a sério, sou apenas uma pessoa fazendo um edifício, que não é o mais importante no mundo. Acredito que não há regras para arquitetura, apenas algumas básicas, como gravidade, burocracia e orçamento. A partir daí, tudo é liberdade.


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