São Paulo, segunda-feira, 13 de novembro de 2000

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MUSICAL

O americano John Kander fala sobre "O Beijo da Mulher Aranha", cuja versão brasileira estréia hoje em São Paulo

Compositor de "O Beijo..." quer entreter

VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O compositor americano John Kander, 73, é um dos principais criadores contemporâneos da Broadway, alinhado aos conterrâneos Cy Coleman ("The Life") e Stephen Sondheim ("Company"), da geração pós-George Gershwin (1898-1937) e Cole Porter (1891-1962).
São de Kander, por exemplo, as músicas de "Cabaret" (66), "New York, New York" (76) -ele se diz "privilegiado" em assinar o hino oficial da cidade, imortalizado por Sinatra- e "Kiss of the Spider Woman" (93), todos com letras de Fred Ebb, parceiro com o qual trabalha há 38 anos.
Versão para o romance do escritor argentino Manuel Puig (1922-90), "O Beijo da Mulher Aranha" estréia hoje em São Paulo, estrelado por Cláudia Raia, Miguel Falabella e Tuca Andrada, com direção de Wolf Maya.
Orçada em US$ 1 milhão, a produção da mexicana Companhia Internacional de Entretenimento (CIE) é a terceira e mais cara no país e inclui a reforma do teatro Jardel Filho, da Bela Vista.
A CIE já montou "Rent" (99) e "Aí Vem o Dilúvio", atualmente em cartaz no teatro Ópera. Em abril de 2001 estréia "Les Misérables", no teatro Paramount, praticamente todo ele reconstruído. Ópera, Jardel Filho e Paramount estão separados por quarteirões, no que se desenha como uma espécie de Broadway brasileira.
Um dos responsáveis pelos sete prêmios Tony da montagem, Kander, que começou a tocar piano aos 6 anos, mora em Nova York e conversou com a Folha.

Folha - Qual foi a principal dificuldade que o sr. e o letrista Fred Ebb enfrentaram na adaptação?
John Kander -
Foi tentar encontrar o equilíbrio entre o que era realidade e o que era sonho, sobretudo nas passagens em que Molina imagina seus filmes. Levamos muito tempo para isso.

Folha - O sr. conheceu Puig pessoalmente. Qual sua impressão?
Kander -
Ele era uma pessoa maravilhosa e um escritor talentoso. Estava muito envolvido com a criação do espetáculo quando morreu (em julho de 90, dois anos antes da estréia na Broadway). Quando (Fred) Ebb me convidou para o projeto, muitos disseram que a gente estava louco. Puig foi o único que nos entendeu.

Folha - Em seus musicais são comuns temas densos, como corrupção e aborto. Como conciliar isso com entretenimento popular?
Kander -
Quando procuramos um boa história, escolhemos aquela que, acreditamos, possa ser contada por meio da música. Mas muitas histórias nascem de assuntos sérios, como na vida real. Acredito que todo teatro é popular. Shakespeare e Sófocles, por exemplo, são populares. Quando as pessoas tentam separar o intelectual do popular estão enganadas. Teatro é feito para entreter. Seja "Hamlet", "Chicago" ou "O Beijo da Mulher Aranha".

Folha - Qual sua expectativa sobre o futuro do teatro musical? As novas tecnologias não descaracterizam o estilo das grandes canções?
Kander -
Os espetáculos continuam tendo uma ligação maior com o universo da música popular, do que com o do teatro. Alguns criadores continuam escrevendo música para teatro. Desde a chegada do rock, com as pessoas escrevendo seu próprio material, ficou mais difícil conseguir que a música de teatro seja tocada nas rádios. Isso não tem a ver com boa ou má produção, mas com a massificação da música popular.

Folha - Há alguma produção sua em cartaz atualmente?
Kander -
Temos duas remontagens em Nova York, "Chicago" e "Cabaret". Estamos trabalhando em uma nova produção baseada em "The Visit" ("A Visita da Velha Senhora"), peça do suíço Friedrich Dürrenmatt (1921-90), que vai estrear no próximo ano.


Colaborou Rogério Eduardo Alves, da Redação

Peça: O Beijo da Mulher Aranha
Texto: Manuel Puig
Libreto: Terrence McNally
Música: John Kander
Letra: Fred Ebb
Direção: Wolf Maya
Com: Cláudia Raia, Miguel Falabella, Tuca Andrada e outros
Quando: estréia hoje, às 21h (para convidados); qui., às 21h; sex., às 21h30; sáb., às 19h e 22h30; dom., às 19h
Onde: teatro Jardel Filho (av. Brigadeiro Luís Antônio, 884, Bela Vista, tel. 0/xx/ 11/3105-8433)
Quanto: de R$ 25 a R$ 80


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