São Paulo, segunda-feira, 13 de novembro de 2000

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LIVROS

Historiadoras Laura de Mello e Souza e Maria Fernanda Baptista Bicalho fazem palestra hoje, às 19h, na Fnac, em SP

"Virando Séculos" revê império português

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A menos de dois meses do começo de um novo milênio, "Virando Séculos" é o apropriado nome de uma coleção de sete livrinhos de pouco mais de cem páginas cada um que pretende mostrar como foram essas passagens no passado, especialmente no caso brasileiro.
Uma das passagens fundamentais é o tema de uma palestra hoje em São Paulo pela autoras do quarto volume da coleção, "1680-1720: O Império deste Mundo", de Laura de Mello e Souza e Maria Fernanda Baptista Bicalho.
A coleção se destina a um público não-especializado, com linguagem acessível, mas inclui pesquisa inédita. Cada livro inclui cerca de 60 imagens. Talvez para tornar a leitura menos intimidadora ao público leigo, as notas de rodapé estão irritantemente no final.
A passagem que as duas autoras descrevem é a mudança da concepção do império português do qual o Brasil era uma parte cada vez mais importante. Até a passagem do século 17 para o 18, predominava um ideal religioso de império. Mas eventos como a descoberta de ouro nas Minas Gerais e a maior atenção que o Brasil passou a receber das outras potências européias forçou a introdução de um projeto imperial laico.
"A descoberta das minas colocou a América portuguesa no cerne das preocupações européias. No século 18, a economia brasileira passa a contar de modo mais decisivo na economia internacional", diz Laura, professora do Departamento de História da USP.
A concepção imperial do século anterior pode ser encontrada na vida e obra daquele que foi o personagem histórico mais fascinante do mundo luso-brasileiro do século 17 -o padre Antônio Vieira, nascido em 1608, em Lisboa, e morto em 1697, em Salvador.
O longevo padre era um "ideólogo do império", diz Laura, que sintetizou o século 17 português.
Há autores que acham que Vieira era uma espécie de revolucionário. Ecos dessa tese se encontram por exemplo no recente filme "Palavra e Utopia", do cineasta português Manoel de Oliveira.
Vieira "deixou também escritos proféticos, nos quais previa para Portugal um futuro de glória como império cristão, missionário e catequizador", escreveram as autoras no livro.
"Ele é um homem do passado, tinha essa idéia arcaica", afirma Laura, o que fica claro não em seus sermões -mais louvados pela crítica contemporânea-, mas principalmente em seus escritos messiânicos, milenaristas.
Os sonhos de Vieira acabam com o final do século. Perigos internos e perigos externos ameaçam agora a América portuguesa.
Entre os problemas internos, estão a Guerra dos Emboabas (1707-1709), a Revolta dos Mascates (1710-1711), os Motins do Maneta (1711), o Levante de Vila Rica (1720). A participação de Portugal na Guerra de Sucessão de Espanha forçou um maior alinhamento com a Inglaterra e trouxe a França de Luís 14 como inimiga. O resultado foram duas tentativas de saque do Rio, em 1710 e 1711. A segunda, pelo corsário francês René Duguay-Trouin, foi bem-sucedida. O período mostra "uma ligação entre as regiões do país se formando, e uma situação internacional mais ampla que cria, por exemplo, um clima intenso de medo no Rio", diz Maria Fernanda Bicalho, da UFF (Universidade Federal Fluminense), que pesquisou os ataques franceses.
Ela é autora da tese de doutorado "A Cidade e o Império: o Rio de Janeiro na Dinâmica Colonial Portuguesa, Séculos 17 e 18", orientada por Laura. Uma versão da tese deverá ser publicada no ano que vem pela Nova Fronteira.

Palestra: 1680-1720: O Império deste Mundo, por Laura de Mello e Souza e Maria Fernanda Baptista Bicalho
Onde: Fnac (av. Pedroso de Morais, 858)
Quando: hoje, às 19h
Quanto: entrada franca. Informações: 0/ xx/11/3097-0022



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