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HQ
Edição traz tiras publicadas na Folha do personagem criado em 98, que satiriza e homenageia universo dos super-heróis
Laerte reúne "supervexames" cotidianos de Overman
DA REDAÇÃO
Expediente de super-herói não é
fácil. Além de ter que derrotar um
monstro -literalmente- a cada
dia, ele precisa esconder sua identidade sob ridículas roupinhas colantes. E, nas horas vagas, enfrentar os problemas cotidianos de
qualquer mortal comum.
Overman, do quadrinista Laerte, cujas tiras o leitor da Ilustrada
acompanha desde 1998, leva às últimas consequências (cômicas) os
conflitos morais e pessoais que
qualquer herói de Stan Lee ("Homem-Aranha", "X-Men") encara.
Os músculos desse herói só não
são mais inchados do que seu ego.
Megalomania que não se esvai
quando o fim do mês chega e não
tem dinheiro para pagar o aluguel
-de uma pensão no Ipiranga, ao
lado de um estacionamento.
Os seus melhores momentos
-no caso desse herói brasileiro
seria mais apropriado "os momentos mais vexatórios"- estão
agora reunidos em "Overman - O
Álbum, O Mito".
"Sempre gostei muito de quadrinhos de aventuras. Mas, aqui
no Brasil, é impraticável fazer esse
gênero a "sério". É como usar gorro e casaco. Nossa língua é outra,
não falamos "super-heroiês". Mas
não tem problema, cada povo cria
as histórias que precisa", diz o
cartunista da Folha Laerte, 52. "A
intenção original era até fazer
uma coisa menos escrachada,
mas não tem jeito. Caímos logo na
avacalhação", resume.
O cartunista ri de todos os clichês comuns em HQs do estilo, a
começar pelos vilões que aparecem no caminho de Overman. O
Maníaco Flatulento, por exemplo,
desperta a ira do herói e, de certa
maneira, explica sua origem:
"Quando eu tinha cinco anos,
meus pais entraram num elevador com um maníaco desses....nunca mais os vi".
Overman não prima pela inteligência. É enganado facilmente na
matemática e recita filosofias de
botequim quando enche a cara de
conhaque. Seria o típico "loser"
-tem remendos na sunga e na
capa-, se não fosse o ego gigante.
"Ele é "over" mesmo, não tem
medidas. Qualquer lógica é inaplicável: "Ah, se ele tem superpoderes, por que não cobra por
apresentações e resolve seu problema de grana?'", diz Laerte.
Overman ainda "destrói sua reputação, escandaliza seus admiradores e choca seus leitores" ao levar adiante o vício no fliperama.
Como o dinheiro para comprar fichinhas acaba, ele resolve se prostituir, antes de se casar com um
milionário que lhe promete "uma
vida de fliperama".
Laerte conta que Overman o faz
retornar às lembranças de adolescência. Na época, o cartunista
chegou a esboçar um personagem
baseado em Tarzã. "Gostava muito de brincar de super-heróis,
principalmente Peter Pan e Super-Homem. Desenhar não era
algo que eu fazia para mostrar aos
outros. Vivia intensamente tudo
aquilo que eu desenhava", diz. "O
fato de Overman ser cômico é o
preço que paguei para fazer esse
retorno à adolescência."
Projetos
Para Laerte, não é apenas a cultura de super-heróis que encontra
dificuldades no Brasil. Produzir
revistas de quadrinhos ainda é
um desafio. "Quase todos os autores de humor que trabalhavam
em revistas foram fazer tiras", diz.
"Gostaria e pretendo voltar a fazer
histórias longas, continuadas."
Ele conta que tem planos de lançar uma revista de "quadrinhos,
literatura e textos com novos autores" ao lado dos também cartunistas da Folha Adão Iturrusgarai
e Caco Galhardo. No estágio "projeto ainda no papel" descansam
um filme com o diretor Otto
Guerra, com os "Piratas do Tietê",
e uma adaptação teatral de "Os
Palhaços Mudos", com a cia. circense La Mínima.
(BRUNO YUTAKA SAITO)
OVERMAN - O ÁLBUM, O MITO. Autor:
Laerte. Editora: Devir/Jacaranda.
Quanto: R$ 23 (48 págs.). Lançamento:
Fnac (r. Pedroso de Moraes, 858, SP, tel.
0/xx/11/3097-0022), dia 19/11, às 19h.
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