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São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 2003

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HQ

Edição traz tiras publicadas na Folha do personagem criado em 98, que satiriza e homenageia universo dos super-heróis

Laerte reúne "supervexames" cotidianos de Overman

DA REDAÇÃO

Expediente de super-herói não é fácil. Além de ter que derrotar um monstro -literalmente- a cada dia, ele precisa esconder sua identidade sob ridículas roupinhas colantes. E, nas horas vagas, enfrentar os problemas cotidianos de qualquer mortal comum.
Overman, do quadrinista Laerte, cujas tiras o leitor da Ilustrada acompanha desde 1998, leva às últimas consequências (cômicas) os conflitos morais e pessoais que qualquer herói de Stan Lee ("Homem-Aranha", "X-Men") encara.
Os músculos desse herói só não são mais inchados do que seu ego. Megalomania que não se esvai quando o fim do mês chega e não tem dinheiro para pagar o aluguel -de uma pensão no Ipiranga, ao lado de um estacionamento.
Os seus melhores momentos -no caso desse herói brasileiro seria mais apropriado "os momentos mais vexatórios"- estão agora reunidos em "Overman - O Álbum, O Mito".
"Sempre gostei muito de quadrinhos de aventuras. Mas, aqui no Brasil, é impraticável fazer esse gênero a "sério". É como usar gorro e casaco. Nossa língua é outra, não falamos "super-heroiês". Mas não tem problema, cada povo cria as histórias que precisa", diz o cartunista da Folha Laerte, 52. "A intenção original era até fazer uma coisa menos escrachada, mas não tem jeito. Caímos logo na avacalhação", resume.
O cartunista ri de todos os clichês comuns em HQs do estilo, a começar pelos vilões que aparecem no caminho de Overman. O Maníaco Flatulento, por exemplo, desperta a ira do herói e, de certa maneira, explica sua origem: "Quando eu tinha cinco anos, meus pais entraram num elevador com um maníaco desses....nunca mais os vi".
Overman não prima pela inteligência. É enganado facilmente na matemática e recita filosofias de botequim quando enche a cara de conhaque. Seria o típico "loser" -tem remendos na sunga e na capa-, se não fosse o ego gigante.
"Ele é "over" mesmo, não tem medidas. Qualquer lógica é inaplicável: "Ah, se ele tem superpoderes, por que não cobra por apresentações e resolve seu problema de grana?'", diz Laerte.
Overman ainda "destrói sua reputação, escandaliza seus admiradores e choca seus leitores" ao levar adiante o vício no fliperama. Como o dinheiro para comprar fichinhas acaba, ele resolve se prostituir, antes de se casar com um milionário que lhe promete "uma vida de fliperama".
Laerte conta que Overman o faz retornar às lembranças de adolescência. Na época, o cartunista chegou a esboçar um personagem baseado em Tarzã. "Gostava muito de brincar de super-heróis, principalmente Peter Pan e Super-Homem. Desenhar não era algo que eu fazia para mostrar aos outros. Vivia intensamente tudo aquilo que eu desenhava", diz. "O fato de Overman ser cômico é o preço que paguei para fazer esse retorno à adolescência."

Projetos
Para Laerte, não é apenas a cultura de super-heróis que encontra dificuldades no Brasil. Produzir revistas de quadrinhos ainda é um desafio. "Quase todos os autores de humor que trabalhavam em revistas foram fazer tiras", diz. "Gostaria e pretendo voltar a fazer histórias longas, continuadas."
Ele conta que tem planos de lançar uma revista de "quadrinhos, literatura e textos com novos autores" ao lado dos também cartunistas da Folha Adão Iturrusgarai e Caco Galhardo. No estágio "projeto ainda no papel" descansam um filme com o diretor Otto Guerra, com os "Piratas do Tietê", e uma adaptação teatral de "Os Palhaços Mudos", com a cia. circense La Mínima. (BRUNO YUTAKA SAITO)


OVERMAN - O ÁLBUM, O MITO. Autor: Laerte. Editora: Devir/Jacaranda. Quanto: R$ 23 (48 págs.). Lançamento: Fnac (r. Pedroso de Moraes, 858, SP, tel. 0/xx/11/3097-0022), dia 19/11, às 19h.


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