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Literatura de salto alto
Obras de Clarice Lispector e Cecília Meireles são revisitadas em edições de luxo ilustradas
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Clarice e Cecília, duas moças
que dispensam sobrenomes, estão vivendo, cada uma a seu modo, a hora da estrela.
As mulheres mais festejadas da
história da literatura brasileira ganham, em iniciativas independentes, duas raríssimas edições de
luxo de trabalhos seus.
Clarice e Cecília, OK, Clarice
Lispector (1920-1977) e Cecília
Meireles (1901-1964), chegam ao
traje de gala com boas amostras
do que têm de melhor.
A primeira, tema também de
outras festanças menos empoladas, acaba de ser homenageada
pela Confraria dos Bibliófilos do
Brasil com um caprichado "Dez
Contos Selecionados de Clarice
Lispector", volume com narrativas clássicas como "Os Laços de
Família" e "A Legião Estrangeira"
ilustradas com gravuras feitas especialmente para o projeto pelo
veterano gravurista Marcelo
Grassmann.
Já os leitores da segunda têm pela frente um fausto ainda mais especial. Mais de 50 anos depois da
publicação original, "Romanceiro
da Inconfidência", de Meireles,
terá lançada no próximo sábado
sua primeira edição ilustrada, desejo manifesto da poeta carioca.
Considerado por muitos o principal trabalho da escritora, o conjunto de versos sobre a Inconfidência Mineira aparece no mercado, pelas mãos da dobradinha
Edusp/Imprensa Oficial, acompanhado por desenhos que esperaram também quase meio século
para encontrarem seus parceiros
de valsa.
Quem conta é a própria artífice
dos caprichados Tiradentes, Marílias e Felipes dos Santos. Renina
Katz tinha menos de 30 anos
quando ganhou um exemplar de
"Romanceiro". "Fiquei tão entusiasmada com a força épica do
texto que me pus imediatamente
a desenhar suas cenas." E assim
foi seu final de 1955, todo seu 1956
e o início de 1957.
Katz até tentou viabilizar uma
edição do "Romanceiro" com
seus traços. Mas a mais de uma
centena de desenhos da artista
não ficou muito tempo ao ar livre.
Toda a Ouro Preto que ela construíra logo foi para dentro de três
pastas e por lá ficou, até 1975.
Foi aí que entrou em cena o Tiradentes (vitorioso) desta edição.
José Mindlin conheceu nesse ano
o conjunto de ilustrações e com
eles uma obsessão: faria de todo
modo o casamento dos desenhos
com os versos que os inspiraram.
O principal bibliófilo brasileiro,
hoje com 90 anos, fez várias tentativas, mas sempre esbarrou na liberação dos direitos autorais do
texto pela família de Meireles.
No começo deste ano, resolveu
que deste ano não passaria. E foi
pessoalmente encontrar o neto
responsável pela administração
do espólio da escritora. Saiu de lá
fazendo o "v" da vitória.
"Foi desses episódios que pedem paciência e perseverança",
faz o balanço Mindlin. "É um livro que merece. Não temos nada
igual como poema nacional. É
nosso "Lusíadas"."
ROMANCEIRO DA INCONFIDÊNCIA.
Autora: Cecília Meireles. Ilustrações:
Renina Katz. Editora: Edusp/Imprensa
Oficial de SP. Quanto: R$ 160 (256 págs.).
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